
Por Fifiane Ramos, do ATUAL
MANAUS — A combinação de buracos, falta de sinalização e a união de imprudência e irresponsabilidade de motoristas são as causas dos acidentes em estradas como o ocorrido na sexta-feira (20) entre uma carreta e um ônibus na AM-010 (Manaus-Itacoatiara) em que quatro pessoas morreram e outras 18 ficaram feridas. Também foi fator da tragédia na BR-116 (MG) em que 41 pessoas morreram em acidente envolvendo ônibus de passageiros e uma carreta.
Ou seja, as estradas brasileiras são vias em que a omissão pública e o despreparo de motoristas formam o ambiente propício a tragédias. Viagens no final de ano para rever familiares e amigos, ou curtir férias, aumenta o tráfego de veículos nas estradas expondo mais pessoas aos riscos de acidentes.
Manoel Paiva, especialista em engenharia de tráfego, disse ao ATUAL que um dos fatores que mais causa a acidentes em rodovias é “o comportamento de imprudência” dos motoristas que não respeitam o limite de velocidade, muito menos as sinalizações. Ele afirma que quem não respeita sinalização “assume um comportamento de risco”.
“Infelizmente, a velocidade ainda é uma maneira, a forma que se gera muito mais acidentes, se geram muitas vítimas, fatais, vítimas sequeladas. É o que tem matado muita gente no Brasil. A velocidade acima do permitido mata, ela machuca”, disse o Manoel Paiva.
Conforme o perito Adson Jesus, do Departamento de Polícia Técnico-Científico, o motorista da carreta na rodovia do Amazonas estava a 110 km/h, o que, segundo ele, contribuiu para o acidente. Além da pista molhada, pois chovia muito.
“É necessário que se tenha uma conscientização do motorista, mostrando para ele o perigo que se pode apresentar e, ao mesmo tempo, os responsáveis pelas rodovias, seja ela estadual ou federal, que faça a manutenção adequada do pavimento, a sinalização constante, faça o monitoramento (fiscalização), e em certos pontos críticos, que possa adotar medidas de engenharia para melhorar a segurança daquele trecho”, disse Adson Jesus.

Para o especialista, a educação de trânsito, maior fiscalização, monitoramento, barreiras eletrônicas, radares fixo ou móveis temporários e orientação são ações efetivas para diminuir os acidentes em rodovias.
“A conscientização e a fiscalização andam paralelas. Não existe melhoria de trânsito se não houver uma conscientização, uma informação adequada do motorista, como também se não tiver uma fiscalização cobrando o código de trânsito. Esses fatores são fundamentais e indispensáveis para melhorar a segurança viária”, disse Jesus.
Sistema
Para Augusto Barreto, doutor em Engenharia de Transporte, os motoristas não respeitam os limites de velocidade “pelo excesso de confiança” em se sentir à vontade para acelerar e pela falta de sinalização. “De maneira geral, as pessoas vão reagir aos incentivos que elas têm nas rodovias”.
Barreto critica as condições das rodovias no estado. Ele diz que falta sinalização, além de asfalto adequado que gera buracos em excesso. Para Augusto, o sistema viário deve funcionar desde o projeto de engenharia ao planejar uma via e se isso “falhar, todo sistema é comprometido”.
Augusto Barreto cita um grande desafio que é manter a conservação da rodovia, problema que, segundo ele, não se resolve com radares de velocidade, pois “radares são instrumentos de extorsão e não de segurança”. Ele disse que o problema começa no “erro da engenharia”.
O especialista afirma que o motorista precisa ter a conscientização ao dirigir, pois “não são radares” que vão inibi-lo de ultrapassar o limite permitido em rodovias e ruas. Conforme Barreto, o motorista na maioria das vezes acaba sendo vítima de um conjunto de problemas, que tem origem muitas vezes no projeto de infraestrutura.
“Se tem buraco é por excesso de peso e se tem excesso de peso é porque não tem balança. E por qual razão não tem balança? É porque não tem manutenção”, disse ele, acrescentando ser preciso rever o “problema em sua raiz”.
Rodovia AM-010
O desafio mencionado por Augusto Barreto também foi considerado pela CNT (Confederação Nacional de Transportes) em relatório publicado em novembro deste ano em que mostra que os 254 km de extensão da rodovia entre Manaus a Itacoatiara estão entre os piores do Brasil.
De acordo com os dados da pesquisa da CNT, as rodovias foram avaliadas em relação a pavimento, sinalização e geometria. O primeiro considera a cobertura asfáltica e a presença de buracos na pista, entre outros fatores.
O segundo avalia a presença de placas e sinalização adequada nas estradas. O terceiro contempla o desenho do trajeto em si, a quantidade de pistas duplas ou triplas e a velocidade máxima permitida na rodovia a partir das condições de trafegabilidade.
As notas variaram entre “péssima”, “ruim”, “regular”, “boa” e “ótima”. No levantamento foram avaliadas estradas de diversas extensões, algumas atravessando estados inteiros e outras com apenas 1 quilômetro. No caso da AM-010, a nota foi “pésssima”.