Como demonstram aqueles pais que batizam seus filhos de “Joesley” e “Maiconadson”, nem todos são bons na tarefa de nominar. Mas, há os que dominam essa arte, caso de Adão ao denominar os animais e dos caras que intitulam as operações da Polícia Federal. E dentre todas as coisas e pessoas que já foram designadas, pertence a uma roupa feminina o nome mais perfeito e criativo já dado a um objeto: o “tomara que caia”.
Não sei quem foi o inspirado brasileiro autor do batismo, mas quando você se depara com essa peça de vestuário feminino – que vai até a altura das axilas, sem nada que a prenda aos ombros ou ao pescoço -, você entende completamente a torcida pela lei da gravidade.
Outras roupas no Brasil também receberam designações curiosas, caso dos biquínis “fio dental”, do maiô “engana-mamãe” e da saia “rabo de peixe”. Em alguns locais do Nordeste, o zíper (ou fecho-éclair) é apelidado de “mamãe já vem”. Entretanto, o nome que reúne mais humor e picardia é, de fato, o tomara que caia. Afinal, se as pessoas se vestem para as outras, o nome do traje traz a curiosa perspectiva de quem olha e não a de quem usa a roupa.
Segundo os historiadores da moda, o tomara que caia como conhecemos hoje surgiu em 1946, quando o figurinista francês Jean Louis (1907-1997) se inspirou nos corseletes do século 15 para criar uma variação, um modelo de cetim para a atriz Rita Hayworth usar no filme “Gilda”. Nos anos 1950, o estilista espanhol Cristóbal Balenciaga (1895-1972) fez o decote com corpo justo e saia rodada, que é repetido até hoje. Por causa das barbatanas e da estrutura rígida, o tomara que caia afina a cintura e mantém a postura reta. Um dos motivos que o fazem ser o modelo preferido das noivas e das atrizes de cinema em noites de gala.
Se o nome original – em inglês, “strapless” (sem alças) – é óbvio e, em francês – “robe bustier” (vestido de busto) -, é muito direto, a vestimenta inspira nomes inusitados em outros idiomas. Em português lusitano é o “cai-cai”. Em espanhol, “palabra de honor” (palavra de honra).
Uma versão para o vestido ser chamado de palavra de honra é que seu peitoral lembraria o formato do braço quando alguém faz o gesto de levar a mão direita ao peito para pronunciar um juramento solene. Outra variante conta que o batismo surgiu quando um homem convidou uma mulher para dançar e, para vencer qualquer resistência, declarou: “palavra de honra de que não vou pisar em seu vestido”.
A versão mais popular, no entanto, relata que uma costureira fez um vestido para uma noiva, costurando-o sem alças ou qualquer coisa para sustentá-lo. A noiva, preocupada com a possibilidade de um vexame, pergunta à costureira se ela tem certeza de que o vestido não vai cair. Ao que a costureira assegura: “palavra de honra que não cai!”.
No esporte, o tomara que caia é também muito usado por torcedores para fazer piadas visuais. Normalmente, a camisa do clube rival é transformada na sensual vestimenta para expressar o desejo pelo rebaixamento.
Recentemente, nas redes sociais, o tomara que caia tem sido muito usado para fazer “memes” com o presidente Temer. Numa montagem, ele aparece com a camisa do Internacional, no modelo tomara que caia, acompanhado da frase: “Temer grande não cai”. Uma referência à frase difundida pelos colorados no ano passado, quando eles ainda acreditavam que o time se livraria da queda da primeira divisão: “Time grande não cai”. O Inter hoje disputa a Série B.
Em outra imagem feita com segundas intenções, Temer aparece com um modelo tomara que caia da camisa do Vasco da Gama. A ilustração é complementada pela frase: “Temer nasceu para ser vascaíno: um ano é vice, no outro cai”.
Fato é que, como nada fica encoberto para sempre, descobrimos que não sai de moda a revelação nua e crua do quanto nossos mandatários estão “despidos” de princípios. Constatamos, ainda, a quantidade escandalosa dos que “enganam até a mamãe” para continuar mamando nas tetas do Estado.
Para cobrir essa “pouca vergonha”, muitos brasileiros estão considerando que a situação pede como veste mais adequada, outra vez, o traje “tomara que caia”.
Diz o ditado: “Uma vez que você esteja nua, o strip-tease chegou ao fim”, mas… e depois desse “cai-cai”? Com que “roupa” o brasileiro vai ficar?
Quando encontraremos alguém que “veste a camisa” do País e em que caiba perfeitamente o modelo da “palavra de honra”?