EDITORIAL
MANAUS – A mídia brasileira não cansa de criar factoides. Um dos mais presentes no noticiário nos últimos 12 meses é a chamada “terceira via” para a disputa eleitoral deste ano ao cargo de presidente da República.
Pela definição criada pelo jornalismo de Brasília para “terceira via”, 2022 terá apenas três candidatos na disputa ao Palácio do Planalto: o presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição; o ex-presidente Lula (PT) e o candidato da “terceira via”.
De fato, boa parte dos veículos de comunicação de circulação nacional quiseram contribuir para a construção de uma candidatura que pudesse competir com os dois candidatos que aparecem polarizados nas pesquisas de intenção de voto.
O problema é que nunca houve um candidato competitivo entre os que a mídia convencionou a chamar “terceira via”.
João Dória (PSDB), Eduardo Leite (PSDB), Simone Tebet (MDB), Sergio Moro (Podemos)… Ciro Gomes (PDT) quase é puxado… nenhum desses nomes anima o eleitorado, de acordo com as sondagens de intenção de voto.
Sobraram nesta reta final dois nomes e três partidos discutindo uma candidatura. Os nomes: João Doria e Simone Tebet. Os partidos: PSDB, MDB e Cidadania. A tendência é que as legendas lancem Simone Tebet, mas João Doria já avisou que não aceita a decisão passivamente.
Esse movimento da mídia pela “terceira via”, na verdade, desconsidera outros candidatos que já colocaram seus nomes para a disputa de outubro. Ciro Gomes, por exemplo, é o candidato a presidente pelo PDT e aparece em terceiro lugar nas pesquisas. No entanto, foi isolado do noticiário sobre a “terceira via”, apesar de ser o terceiro candidato com melhores chances de vencer a disputa.
Em uma análise honesta, a “terceira via” seria qualquer candidato que despontasse no terceiro lugar. Mas na cabeça dos jornalistas que querem o candidato do PSDB ou do MDB so um nome saído desses partidos ou o ex-juiz Sergio Moro seriam dignos de representar esse conceito.
Conceitualmente, a “terceira via” também deveria ser uma candidatura com chances de desbancar um dos candidatos que lideram as pesquisas eleitorais. Os representantes de PSDB e MDB estão longe de serem esse candidato.
Nas eleições de 2014, Marina Silva (Rede), filiada à época no PSB, chegou muito perto do segundo turno, e ameaçou tirar da disputa o candidato do PSDB, Aécio Neves, principal adversário de Dilma Rousseff, que buscava a reeleição.
Na reta final do primeiro turno, naquele ano, Marina era apresentada como o único nome capaz de derrotar Dilma Rousseff no segundo turno.
Nem por isso, Marina Silva foi chamada de candidata da “terceira via”. E a polarização PSDBxPT já se arrastava por pelo menos quatro eleições gerais.
Nestas eleições, há pelo menos dez candidatos a presidente da República. São nomes para todos os gostos. No entanto, todas as pesquisas de intenção de voto mostram Lula e Bolsonaro na liderança, com grandes chances de disputarem o segundo turno.
Ciro Gomes, fora da “terceira via”, é o que tem maiores condições de crescer, o que indica que a invenção do jornalismo de Brasília é uma falácia. A “terceira via”, de fato, nunca existiu e não existirá, pelo menos para as eleições deste ano.