Por Gina Moraes*
O escritor Mário Ypiranga Monteiro, um dos amazonenses mais empenhados em resgatar a história, o folclore e as lendas da Amazônia, relata num de seus livros, o Teatro Amazonas, um episódio aparentemente folclórico, registrado por diversas testemunhas. Consta que o governador Eduardo Ribeiro, físico e matemático, um maranhense de origem africana, tinha um hábito curioso em sua rotina, de acompanhamento do canteiro de obras, em que transformou Manaus no final do século XlX. Munido dos contratos com as empresas, percorria algumas obras, após o almoço, para verificar detalhadamente o cronograma de trabalho, conferir o material utilizado pelos empreiteiros, se era exatamente o que fora contratado junto ao governo. Quando havia disparidade no percentual dos itens da massa utilizada no amálgama dos tijolos, ali mesmo determinava o cancelamento da obra, e aplicava multa aos responsáveis.
Em reunião ocorrida esta semana com empresários e o novo superintendente da Suframa, coronel Alfredo Menezes, essa história veio indiretamente à tona. Instado por um dos presentes, sobre a novela de terror dos buracos do distrito industrial, o superintendente deixou claro que acredita na realização das obras planejadas e necessárias para revitalização das vias do distrito industrial. Afirmou, ainda, estar pronto para fiscalizar a realização da obra conforme projetada e orçada. Deixou alcalino que está pronto para o desafio e cumprimento da missão de administrar a Autarquia que é de suma importância para a Região Norte.
Na expectativa de todos, a simplicidade dessa manifestação soa como música. Afinal, esta é a tarefa que define a existência do Poder Público. Cumprir o dever que as atribuições do cargo exigem. Infelizmente, a simplicidade dessa atitude, virou agulha no palheiro. A cultura do ilícito tomou conta absoluta da maioria dos relatórios de auditoria das contas públicas. A proposta do superintendente, por incrível que pareça, é uma grata e promissora inversão dos costumes, cabe à nós ficar mais perto dessa novidade, apoiá-la, divulgá-la e resgatar a obviedade que ela contém.
O otimismo está no ar, com as manifestações públicas do novo gestor da Autarquia que completa 52 anos esta semana. Percebe-se, mais do que a esperança na mudança, um clima de certeza, e a transformação no trato administrativo da coisa pública. O Coronel Menezes, anunciou que espera contar com a participação efetiva dos Governadores dos Estados da Região e autoridades do Governo Federal na primeira reunião do CAS (Conselho de Administração da Suframa), buscando resgatar a representatividade da Suframa. Isso, sinaliza, a importância que a Suframa representa, como agência indutora do desenvolvimento. Demonstra, também, o reconhecimento dos avanços, dos acertos e das contradições de nossa economia. Podemos afirmar, que a contrapartida fiscal que permeia 52 anos de conquistas na redução das desigualdades regionais está sendo olhada, não como problema da política fiscal desastrosa do Brasil, mas, como fator decisivo na construção da mudança.
E mudar, com a magnitude dessa reunião de gestores, pode ser o reconhecimento do caminho, cantado em verso e prosa pelos estudiosos sérios da questão amazônica, que recomendam a viabilidade do desenvolvimento econômico, com respeito aos parâmetros ambientais. A legislação ambiental autoriza manejar vinte por cento dos estoques naturais, e sabemos fazê-lo. Até aqui esse modelo de desenvolvimento conservou mais de noventa por cento da cobertura vegetal original. Temos, portanto, legalmente, muito a desenvolver com inteligência e responsabilidade, para construir as alternativas de uma economia alinhada com os parâmetros de sustentabilidade.
Na festa dos 52 anos da ZFM, quem recebe as felicitações são estes acenos de transformação do olhar do Brasil Central para a Amazônia. Temos, portanto, um Norte para oferecer ao País, e uma certeza: integrados e solidários, não deixaremos mais a cobiça estrangeira seguir pilhando nossas riquezas e marginalizando os cidadãos.
Finalmente, não é demais repetir as boas vindas ao Coronel Menezes, agradecer a positividade de seu entusiasmo e exaltar sua escolha, feita com muito zelo e confiança, pelo Governo Federal. Selva!
*Gina Moraes é advogada.
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