Por Maria Derzi, da Redação
MANAUS – Vestidos como gola, com cortes parecidos com as linhas abertas nas seringueiras e confeccionados com linho. Conservadoras e religiosas, as mulheres dos seringueiros conhecidos ‘soldados da borracha’ viviam na floresta com elegância. As roupas inspiraram a amazonense Carolina Otília Martins Freire Costa, do 5° período de moda da FAAP (Fundação Armando Alvares Penteado), de São Paulo. A partir de relatos do pai, que é filho de seringueiros e viveu no seringal, ela criou uma coleção para o 13º Concurso da Faap, no dia 28 deste mês. Carolina é uma dos seis finalistas do prêmio.
“É uma honra utilizar informações sobre a minha região nesse concurso. É uma forma de valorizar a minha história, a história da minha família e fazer com que as pessoas conheçam toda essa trajetória”, disse a Carolina. “Meu pai morou em um seringal e me contou como eram as vestimentas da época. São informações que não encontramos em livros sobre materiais, textura das árvores, nos cortes para extrair o látex. Eu usei as formas das roupas de época usadas pelos seringueiros, mas com a minha visão sobre o tema”, disse.
‘Soldados da Borracha’ é o título da coleção, mas as peças são femininas. “Elas usavam muita gola, porque eram muito conservadoras e religiosas. Mesmo morando no meio da mata, os vestidos tinham gola. Também usei só linho, que era o tipo de tecido que predominava na época. As formas e modelos daquele período e o corte foram inspirados nos cortes feitos nas árvores para extração do látex. Também busquei informações em livros sobre a época da borracha. É uma oportunidade para expor nossa história”, disse Carolina.
A amazonense concorrerá ao prêmio com seis looks. Ela disputa o concurso com Pedro Novizala, que conquistou o segundo lugar da última edição e retorna ao concurso com a coleção ‘Pierrot Lunaire’; Elisa Sonnervig, com a coleção ‘Corpo Oculto’; Walkiria Molinari mostra ‘Fascínio Intrínseco’; Talita Pandini apresenta ‘A Maleabilidade na Rigidez’; e Ana Luisa Fernandes, ‘A Transformação do Invisível’.
Realizado em três fases, o concurso selecionou, em maio as coleções dos alunos de forma anônima. Participaram 45 projetos. “Na primeira fase, enviei minha coleção desenhada e obteve destaque com a temática que escolhi. Agora, as roupas estão sendo confeccionadas para o concurso que tem muita visibilidade no mundo da moda. Acho que essa é uma oportunidade para as pessoas aprenderem mais sobre os seringueiros e a época em que viveram”, ressaltou.
O trabalho de Carolina passou pelo crivo de profissionais renomados do mundo da moda que compuseram a comissão julgadora como os estilistas Alexandre Herchcovitch, Paula Raia, Eduardo Toldi e Lorenzo Merlino, que também é professor da FAAP, além do stylist e a modelista do concurso, respectivamente, Maurício Ianês e a professora Fernanda Binotti.
Entre os critérios adotados para a escolha dos seis finalistas estão os tipos de tecidos e materiais, a coerência com o conceito de criação em relação aos croquis e desenhos técnicos, a inovação e criatividade.
O público também poderá votar nas coleções. A FAAP desenvolveu um aplicativo, o ‘Faap Moda’, permitindo que a seleção final possa ser realizada em qualquer lugar do mundo. Em edições anteriores, o concurso recebeu votos de vários lugares do Brasil e de países como Espanha, Itália, Suíça, Estados Unidos e Austrália. No app estão disponíveis o release, os croquis e a inspiração de cada finalista.
Além de visibilidade na mídia, os vencedores do concurso são premiados com viagens internacionais, máquinas de costura Singer, iPad, iPhone e assinaturas Nelly Rodi, prestigiado bureau de tendências francês. A coleção escolhida pelo público via voto eletrônico também receberá premiação.