EDITORIAL
MANAUS – As autoridades do Amazonas têm sido muito silentes com o presidente Jair Bolsonaro (PL) em relação à Zona Franca de Manaus. Nada tem sido dito ao presidente sobre a insatisfação dos amazonenses de boa fé aos danos que as medidas do governo federal podem causar à indústria instalada em Manaus e, por tabela, a toda a economia do Amazonas.
Aqui ou em Brasília, o presidente tem feito discursos que contrariam todas as ações que se têm adotado no âmbito do Poder Judiciário para reverter as decisões do Palácio do Planalto, e nada tem sido dito contra ele. Há um silêncio que incomoda.
Na passagem por Manaus, neste sábado (28), Bolsonaro chegou a dizer que a Zona Franca de Manaus “jamais será atingida”. A frase soa como um deboche do presidente a um Estado em que todos concordam que a redução de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) da forma como fez o governo federal prejudica e ameaça a indústria instalada em Manaus.
Bolsonaro foi tão desrespeitoso com os amazonenses e com a classe política local que sequer disse o nome do modelo de desenvolvimento regional. Chamou de “essa área”. A frase completa mostra o relaxamento do presidente: “Tenham certeza que, assim como lá atrás nasceu com o general Castelo Branco para Costa e Silva, essa área será preservada”, afirmou durante o discurso ao final da Marcha para Jesus.
O presidente reafirmou sua posição, irredutível desde o início, de manter a redução de IPI a todos os produtos nacionais e importados, sem excluir os fabricados na Zona Franca de Manaus, como pedem as autoridades ao próprio Bolsonaro e ao STF. Disse Bolsonaro: “Ninguém perderá nada aqui reduzindo impostos como, por exemplo, o IPI”.
Depois, Bolsonaro, mais uma vez, deixou claro que quer substituir a indústria não poluente de Manaus por desmatamento, garimpo e exploração mineral. “Ninguém tem o que vocês têm. Vocês têm tudo para ser o estado mais próspero do nosso Brasil. Deus nos deu riquezas minerais, biodiversidade, água em abundância e terras agricultáveis”.
Portanto, diante desse comportamento, Bolsonaro deveria ter ouvido, alto e bom som, que o Amazonas não concorda com as medidas adotadas por ele e não aceita as desculpas que ele tem dado. Era necessário ao menos uma voz destoante, uma voz que tirasse o presidente da zona de conforto.
É inaceitável que as mesmas pessoas que recorreram ao Supremo Tribunal Federal contra as medidas adotadas por Bolsonaro, o receba de braços abertos e o abrace depois de ele afirmar que não recua, que não muda o que foi feito e o que ameaça o Amazonas com desemprego e o avanço da pobreza.
Bolsonaro não é aliado de ninguém. Ele apenas se serve daquilo que lhe pode ser favorável e despreza o que não lhe agrega votos. No caso da Zona Franca de Manaus, está claro que eleitoralmente o Amazonas é insignificante. Por isso, rifar o modelo de desenvolvimento é apenas um detalhe sem qualquer importância para o presidente e seu ministro da Economia, Paulo Guedes.
Bolsonaro e Guedes passarão, mas os estragos que deixarão como legado para o Amazonas podem ser irreversível para a população que aqui vive.