A Susam (Secretaria de Estado de Saúde), representando o governo do Estado, silenciou sobre os fatos narrados em reportagem do AMAZONAS ATUAL que revelou o pagamento com dinheiro público de tratamento num dos hospitais particulares mais caros do País, o Sírio-Libanês, para políticos, autoridades, parentes de autoridades e “amigos do poder”. O silêncio, neste caso, revela a covardia do secretário Pedro Elias de Souza e, por conseguinte, do governador José Melo. A farra com o dinheiro público para bacanas acostumados a uma vida nababesca não começou na gestão de Pedro Elias na Susam, mas é dele a responsabilidade da resposta que a sociedade exige. O governo de José Melo também não inventou o privilégio do tratamento seletivo no Sírio-Libanês, mas participou desde sempre do governo que alimenta essa farra e nada fez para sepultá-la. Portanto, estariam, tanto o governador quanto o secretário, obrigados a explicar aos contribuintes que pagam impostos porquê alguns poucos privilegiados têm direito a tratamento em um hospital particular de referência no Estado de São Paulo enquanto a maioria da população morre nas filas ou nas macas e leitos dos hospitais lotados e sem estrutura adequada para atendimento digno.
Quem assistiu ao discurso do governador José Melo, nesta segunda-feira, 1°, na leitura da Mensagem Governamental, na Assembleia Legislativa, e não conhece a realidade do Amazonas, foi induzido a pensar que a saúde do Estado é o melhor dos mundos. Num país em que a alta carga de impostos não volta em forma de bem estar social e o atendimento nesta área beira o caos, Melo apresentou números, comparou com os números de outros Estados e concluiu que “o governo fez a sua parte”, investindo, inclusive, mais do que é obrigado na área da saúde.
No momento em que falava, os meios de comunicação de circulação nacional noticiavam o caso da morte de um bebê no hospital do município amazonense de Jutaí, por falta de atendimento adequado. Dois bebês gêmeos, nascidos no hospital com problemas respiratórios, tiveram que usar máscaras de oxigênio feitas com garrafas PET, porque não havia máscara de venturi na unidade de saúde. A direção do hospital diz que a morte não tem relação com o uso da garrafa PET e que a causa da morte foi uma debilidade no pulmão do recém-nascido. Puro silogismo: os dois bebês receberam o mesmo tratamento; um escapou da morte e o outro morreu, logo, não foi a falta de equipamento, diz a direção do hospital.
Não são poucos os pacientes que morrem anualmente de doenças mais graves, como leucemia e câncer, no Amazonas, por falta de tratamento adequado. Falta, inclusive medicamentos para aliviar a dor de pacientes em estado terminal. Por isso, os políticos e as pessoas abastadas evitam se tratar em hospitais de Manaus e preferem buscar atendimento foram o Estado ou do País. Nada há de condenável nessa decisão. O problema é quando o tratamento é pago pelas mesmas pessoas que esperam na fila, que não conseguem atendimento ou que recebem um tratamento desumano nos hospitais do Sistema Único de Saúde. Não é justo que os privilegiados amigos do poder consigam tratamento para as mesmas doenças em hospital particular de São Paulo, bancado com o dinheiro que deveria ser usado para o atendimento de todos.
Por isso, o silêncio da Susam e do governo do Estado não é um simples silêncio. A farra dos tratamentos no Sírio-Libanês é um acinte, e o silêncio, um insulto à população do Amazonas.
Os artigos publicados neste espaço são de responsabilidade do autor e nem sempre refletem a linha editorial do AMAZONAS ATUAL.