Por Ismael Benigno
O prefeito Arthur Neto não deixa de ter razão ao atacar o que chama de “provincianização” da cidade, que seria resultado da resistência à mudança de gabarito para os prédios construídos em Manaus, do atual limite de 18 para 25 andares. Arthur disse à imprensa – o texto abaixo não informa quando nem onde – que 25 andares ainda é conservador para a necessidade de Manaus de crescer verticalmente. Leia o texto de Luciano Falbo. Comento no fim.
Prefeito Artur Neto critica provincianismo de Manaus
O prefeito de Manaus, Artur Neto (PSDB), voltou a defender a verticalização da cidade proposta pela prefeitura no Plano Diretor. “Tenho minha opinião, muito firme, contra a provincianização de Manaus. A cidade de Manaus não pode ser como Sertãozinho, que eu nem sei onde fica, que tem o limite de 18 andares”, repetiu o prefeito.
Artur Neto disse que o aumento do limite máximo para 25 andares ainda é uma proposta conservadora e que é necessária para não “engessar o crescimento da cidade”. “E para não engessarmos o setor que é um dos maiores empregadores daqui”, disse, referindo-se ao setor da construção civil.
Da mesma forma que o relator do Plano Diretor na Câmara Municipal de Manaus (CMM), vereador Elias Emanuel (PSB), o prefeito cita a importância econômica do setor, em meio às críticas de que o plano atenderia a interesses do segmento. “Se a gente cria embaraço para esse setor, vai ter desemprego, vai ter problema social grave e queda de renda para o município”, afirmou.
Implurb
Em resposta a pedido feito na terça-feira por A CRÍTICA, o diretor-presidente do Instituto Municipal de Planejamento Urbano (Implurb), Roberto Moita, informou ontem que é fundamental criar um vetor de crescimento para dentro. “Ou seja, reduzir o crescimento horizontal e esprairado da cidade”, frisou.
Moita defende que o texto do Plano Diretor propõe uma cidade democrática, onde a maioria poderá viver em áreas com infraestrutura e serviços urbanos, possibilitando a habitação de interesse social na área intra-urbana, o que, segundo ele, evitaria a formação de periferias “excludentes e injustas”.
O titular do Implurb afirma que as avaliações de especialistas sobre perigos da verticalização são alarmistas e cientificamente pouco aprofundadas. “O que promove aquecimento é a simples existência da cidade, com supressão vegetal, asfalto, áreas impermeabilizadas, construções etc. Quem melhora o micro-clima é a preservação de fragmentos florestais urbanos, a promoção de arborização e as restrições à impermeabilização do solo: mais verde é igual a um melhor clima. E isso o plano prevê”.
Propina
“Ele é uma pessoa responsável que sempre fala com muita segurança”, disse o prefeito Artur Neto ao comentar ontem denúncia feita pelo advogado e presidente do Conselho de Gestão Estratégica da Prefeitura de Manaus, Félix Valois, de que quatro homens que se apresentaram como vereadores a um empresário do ramo da construção e pediram propina para a aprovação da proposta de aumentar para 25 andares a altura máxima dos prédios da capital.
“Eu aguardo o desdobramento das coisas”, disse descartando que a discussão em torno do caso tenha influenciado sua posição sobre a verticalização.
Falta ou não falta uma contribuição do jornal ao esclarecimento de possíveis dúvidas dos leitores? Digo há muito tempo — com a autoridade de leitor — que falta à nossa imprensa aprofundar-se no assunto em vez de apenas tomar notas, colher depoimentos e, se possível, confrontar personagens públicos um com o outro. É o que mais se vê no noticiário tradicional, principalmente político. Para o jornalismo local, se o governador ou o prefeito não falaram nada, nada aconteceu.
No caso do Plano Diretor de Manaus, a lacuna deixada pelo jornalismo é ainda mais nociva porque priva a sociedade dos dados para um debate mais técnico e menos político. É fácil, por exemplo, para o prefeito, dizer que Manaus precisa crescer. Só que isso é óbvio, assim como é desnecessária a matéria do jornal Em Tempo, de hoje, sobre o provável aquecimento nas vendas de passagens por causa das festas de fim de ano.
Há respostas que, se não vêm do poder público, precisam ser ao menos buscadas pela imprensa. Por exemplo:
1) Manaus construiu quantos quilômetros de novas vias de escoamento para a demanda de prédios com 25 andares?
2) Qual será a demanda adicional em serviços de água, energia, saneamento, transporte público e trânsito para edificações com centenas de unidades residenciais a mais?
3) Manaus construiu novos viadutos, passagens de nível e elevados para escoar o trânsito que tem, hoje, apenas Constantino Nery, Djalma Batista e Recife para chegar à região central?
4) Quantos carros devem entrar em circulação, especialmente nas zonas Centro-Sul e Sul de Manaus, com a liberação para prédios de 25 andares ou mais?
5) O Plano Diretor prevê modificações nas exigências de estacionamento interno nos prédios, por parte das construtoras, ou o espaço público das ruas vai continuar servindo de estacionamento para visitantes de prédios avaliados em até 3 milhões de reais?
6) Na falta de projeto para disciplinar esses estacionamentos, Manaus vai continuar cortando suas praças para abrir vagas de estacionamento para visitantes de prédios de luxo?
7) Aonde estão os projetos ou emendas ao Plano Diretor que obrigam as construtoras a manter um limite mínimo de área verde em seus empreendimentos?
Há diversas perguntas que precisam de respostas. A principal e que deveria ser direcionada ao prefeito e ao seu vice, também secretário de obras, é sobre quais os projetos e planos do poder público para que Manaus cresça verticalmente também em seus espaços e equipamentos públicos, e não somente nos condomínios fechados. Está claro que a iniciativa privada, assim como o contribuinte de Manaus, está fazendo sua parte para que Manaus deixe de ser essa “província de apenas 18 andares”.
Provinciano não é o contribuinte, o cidadão nem o empresário de Manaus, mas seu poder público, que vota a criação do “Dia da Música Gospel” enquanto a cidade se entope o dia inteiro em ruas dignas de Sertãozinho — que fica em São Paulo e tem 100 mil habitantes, prefeito. O que as sucessivas administrações estaduais e municipais fizeram de realmente relevante, na área da infraestrutura, para que Manaus possa suportar o crescimento de sua porção privada? Vamos continuar crescendo sem crescer? Vamos seguir assistindo a explosão da construção civil enquanto as obras públicas são puramente de manutenção e embelezamento das ruas e avenidas provincianas que temos?
Ah, sim! Sertãozinho, a cidadezinha provinciana do interior de São Paulo com 117 mil habitantes, tem IDH de 0,833. Manaus, que não pode ser provinciana como Sertãozinho, tem IDH de 0,737.