Em 2013, Orange Is The New Black (OITNB) apresentou a penitenciária feminina de Litchfield, no estado norte-americano de Nova York. Dois anos separam o debute do lançamento da terceira temporada, cuja estreia está programada para esta sexta-feira, 12, mas nada é mais como antes. Prisão, detentas, a forma como a sociedade norte-americana encara o sistema carcerário do país e a própria maneira como consumir televisão passaram por grandes transformações em um período curto de tempo.
Litchfield ganhou ternura conforme a protagonista da série, Piper Chapman (interpretada por Taylor Schilling) deixou de enxergar suas companheiras de cela como ameaça. São mulheres que erraram, assim como ela – Piper vai presa por ter auxiliado no tráfico de drogas anos antes, ao lado de Alex Vause (Laura Prepon), namorada dela na época.
Depois que o programa criado por Jenji Kohan (Mad About You e Weeds) deixou de direcionar atenções e tempo de tela para a personagem principal, um leque enorme de possibilidades se abriu para OITNB. Personagens de aparições ocasionais ganharam espaço, algumas tornaram-se regulares e donas de momentos de ação e drama ao longo da segunda temporada.
É o caso do grupo de mulheres latinas encarceradas em Litchfield lideradas por Gloria Mendoza (Selenis Leyva). De personagem ocasional a responsável pela cozinha do presídio, Gloria ascendeu ao posto de uma das “chefonas” informais de Litchfield, rivalizando com os grupos formados por negras e caucasianas. Latinas enfrentaram ambas e ganharam.
“Ah, a Jenji (Kohan) é tão boa”, conta Selenis Leyva em um encontro com jornalistas de toda a América Latina, realizado na Cidade do México. Selenis, filha de cubano e criada no Bronx, EUA, chama a criadora da série carinhosamente de “mama” e explica que, a princípio, a personagem não ganharia destaque – os primeiros episódios da terceira temporada já mostram o contrário. “Apareceria em um episódio, depois dez e, enfim, Gloria foi promovida a personagem regular. Jenji me disse certa vez: ‘Você me fez escrever para você’. É interessante como os roteiristas prestam atenção em você”, derrete-se.
Piper saiu, aos poucos, dos holofotes. Jenji percebeu o material rico que tinha diante de si e encontrou oportunidade de revisitar o passado de cada uma das detentas de Litchfield. Personagens como a divertida Big Boo (Lea DeLaria), a arisca Galina “Red” Reznikov (Kate Mulgrew), as amigas Poussey (Samira Wiley) e Tasha “Taystee” Jefferson (Danielle Brooks), e a amalucada Suzanne “Crazy Eyes” (Uzo Aduba) são tão protagonistas como Piper.
“A série encontrou sua fórmula”, avalia Selenis. “Mostramos que todas as pessoas chegaram ali por um motivo, por uma sequência de situações que alteraram a vida de cada uma daquelas mulheres. Qualquer um pode se envolver, identificar-se com aquilo que está sendo mostrado no episódio.”
Ela e Diane Guerrero, intérprete de Maritza Ramos, comemoram o fato de que OITNB tenha iluminado questões sobre o sistema carcerário dos Estados Unidos, assim como auxiliado nas vitórias pelos direitos LGBT. “A série levanta questões e temos que prestar atenção a elas”, diz Diane. “Recebemos mensagens de pessoas que se conectaram com as histórias”, responde Selenis.
O avanço de Orange is The New Black também enfrentou a resistência da televisão tradicional. E venceu. Atualmente, a série coleciona 31 prêmios dados por público e crítica. E só dois anos se passaram.
(Estadão Conteúdo/ATUAL)