Por Teófilo Benarrós de Mesquita, da Redação
MANAUS – Nos últimos anos, os clubes amazonenses vivem envoltos em dificuldades financeiras, seja por falta de público, de patrocinadores ou de apoio oficial. No final de 2019, com o acesso do Manaus FC para a Terceira Divisão do Campeonato Brasileiro e o retorno de um empolgado público às arquibancadas, a esperança era de novos tempos, de resgate.
Começou 2020 e com ele, a pandemia de Covid-19. O Campeonato Amazonense foi suspenso em 17 de março. Uma semana depois, cancelado, em meio ao aumento do número de mortos pela doença.
Os times envolvidos em competições nacionais – Manaus FC na Série C e Fast Clube na Série D – voltaram às atividades, após um breve período de interrupção, mas obedecendo as restrições sanitárias vigentes, que proibia a presença de público pagante.
O calendário em 2021 começou intenso, com a volta da disputa do Barezão 2020, Copa do Brasil, Copa Verde e Barezão 2021, tudo coladinho. Mas, com a segunda onda da Covid-19, além da continuação da proibição da presença de público pagante, os eventos foram suspensos, cancelados e proibidos.
Fast Clube e Manaus FC foram forçados a jogar em Brasília, como mandantes, seus compromissos da Copa Verde.
Terminado o Estadual 2021, no último dia 22 de maio, três clubes vão continuar em ação, nas competições nacionais: Manaus FC, Penarol e Fast Clube. Mas as dificuldades financeiras persistem.
O Manaus FC, atual Campeão Amazonense e com melhor participação nacional, disputando a Terceira Divisão, é o clube que tem maior suporte financeiro, vindo dos patrocinadores. Ainda assim não vive uma situação fácil.
O presidente Luís Augusto Mitoso Júnior, 59, revela que atualmente o custo Manaus FC gira em torno de R$ 350 mil por mês, para todas as competições: Copa Verde, Copa do Brasil, Estadual e Série C. “O grupo que começou o ano, em 1° de janeiro, é para todas as competições que o Manaus FC participa”.
A pandemia afeta também a captação de apoiadores. “Estamos tentando recompor o financeiro, visando melhores condições de contratações. Perdemos um patrocinador forte e estamos em busca de um substituto. Temos espaço na camisa para novos parceiros”, explica Mitoso, admitindo uma preocupação: “a perda dessa receita é sentida, impactando o planejamento. Precisamos recompor essas perda. Hoje temos a despesa maior que a receita”.
De fora do Barezão 2021 para se recuperar financeiramente, depois de boa campanha na Série D do ano passado, o Fast Clube volta com “os pés no chão”, segundo o presidente Dênis Cabral de Albuquerque, 40. Com o elenco para a disputa de 2021 ainda em formação, o dirigente revela que o teto salarial trabalhado atualmente é R$ 3 mil.
“Temos outras despesas relacionadas ao futebol, funcionários de apoio, casa dos atletas, que exige por baixo mais R$ 20 mil”, destaca. Assim, a projeção de folha de pagamento, com encargos, ultrapassa R$ 80 mil. O futebol consome pouco mais de R$ 100 mil.
Vice-campeão Estadual neste ano, posição que assegurou seu retorno ao cenário nacional para 2022, quando disputará Copa do Brasil, Copa Verde e Campeonato Brasileiro da Quarta Divisão, a Série D, o São Raimundo também sofreu com a falta de receitas na temporada.
O diretor de Administração e Finanças do Tufão Colina, Ricardo Santos da Costa, 34, ainda não fechou a contabilidade da competição. Mesmo sem ter em mãos os números, ele enumerou dificuldades.
“Nossos recursos foram limitados, mas fizemos em alto rendimento, ofertando condições para os atletas treinarem. Ofertamos fisioterapia, campo, academia, alimentação, vale transporte para os atletas locais, o básico para se fazer alto rendimento no futebol, e isso foi muito importante para o desempenho positivo”, esclarece Ricardo.
Reinvenção, pix e Barezão Play
Diante de tantas dificuldades, os clubes precisaram criar novas estratégias, se reinventar. A maioria apela para a paixão dos torcedores. A ideia mais aplicada foi o pedido de doação, via Pix, durante a transmissão on-line, por redes sociais, e a venda do ingresso virtual, com o torcedor fazendo doações por jogo, correspondente ao valor do ingresso, em média R$ 10.
Nacional, São Raimundo e Fast Clube ofereciam brindes em troca, como camisas oficiais e canecas do clube.
O sucesso nas transmissões trouxe uma nova ideia, o Barezão Play, assumido pela Federação Amazonense de Futebol. O custo técnico da transmissão é de R$ 1,5 mil e nem sempre os clubes tinham grana para contratar. A FAF passou a arcar com essa despesa e cobrar do torcedor.
O pacote, para assistir a todos os jogos, foi vendido a R$ 59,90. A aquisição de partidas de forma individual saiu a R$ 6,90. O valor seria repassado integralmente aos clubes.
“Os salários foram pagos a partir das receitas de patrocinadores e contribuições de torcedores. Essas contribuições foram fundamentais”, aponta o diretor Ricardo Costa, do São Raimundo. Pelas redes sociais, o clube conclamava os torcedores a colaborar, via pix, com qualquer quantia possível.
“Não temos como mensurar esses dados no momento. Ainda estamos consolidando os números. Assim que fechar tudo terei o levantamento. Ainda temos valores a receber”, enfatiza Costa.
Ele lembra que as receitas vieram de patrocinadores, doações de torcedores, transmissão do Barezão Play e, na reta final, o repasse governamental. “Estamos aguardando esse repasse para cumprirmos com todas as obrigações em aberto”.
“Na atual conjuntura, os patrocinadores respondem por 98% das receitas do clube. Hoje temos um pouco menos de 150 sócios torcedores ativos. Não paga um jogador. Reconhecemos que, por sermos um clube novo, ainda estamos construindo uma torcida, que se envolva e ajude o clube, tornando-se nosso maior patrimônio, o 12° jogador, e, quem sabe, nosso maior patrocinador. Mas trabalhamos para que em breve isso cresça. Logo o Manaus FC vai ter uma torcida qualitativa e quantitativa”, aposta Mitoso, que aprovou a ideia do Barezão Play.
“O Barezão Play foi uma iniciativa espetacular, uma grande sacada. Para o primeiro ano foi bem interessante. O resultado financeiro, não que tenha sido o esperado, mas não foi significativo, principalmente frente às necessidades do clube. Mas é importante salientar que foi uma bela iniciativa e a tendência é crescer. Com certeza lá na frente vai dar bons resultados”.
Ricardo Costa também gostou da iniciativa, mas esclareceu que ainda não teve acesso aos números finais. “Foi bem positivo (0 Barezão Play) mas a informação com os números é melhor ser analisada com o departamento de marketing da FAF”, disse.
Responsável pela apuração do arrecadado, a FAF não respondeu quanto foi a receita com o Barezão Play nem qual o repasse para os clubes.
Participante da Série D 2021 e contemplado com verbas liberadas pelo Governo do Estado e CBF (Confederação Brasileira de Futebol), o Penarol, através do presidente Lúcio Barros, também não respondeu aos questionamentos encaminhados pelo Amazonas ATUAL.
Repasse do Estado e da CBF
No dia da Final do Campeonato Amazonense 2021 o Governo do Estado anunciou um aporte financeiro para o desporto, que beneficiou principalmente o futebol. Do total de R$ 6,9 milhões prometidos, R$ 2,5 milhões vão para os times de futebol profissional amazonense – masculino e feminino -, e outros R$ 980 mil para a FAF.
Cada um dos 9 times que participou do Estadual vai receber R$ 100 mil. O Manaus FC, na Série C, vai receber mais R$ 200 mil. Penarol e Fast Clube vão receber R$ 75 mil para a Série D.
Na quinta-feira, 27, a CBF também anunciou ajuda financeira. O Gavião do Norte será contemplado com R$ 300 mil, enquanto Tricolor de Aço e Leão da Velha Serpa vão ganhar mais R$ 120 mil.
“As dificuldades são grandes e temos feito malabarismo para manter o Manaus FC num patamar que o torcedor amazonense possa sentir orgulho do clube”, desabafa Mitoso, sobre as condições financeiras atuais do futebol amazonense.