Por Érica Fraga, da Folhapress
SÃO PAULO – Não existe milagre do crescimento sem investimento em máquinas, tecnologia, inovação e expansão de fábricas. Os países cujas economias se expandiram de forma acelerada nos últimos anos – antes da catástrofe do coronavírus – evidenciam essa antiga constatação da literatura acadêmica.
China, Índia, Vietnã, Irlanda e Botsuana são exemplos de nações que cresceram perto ou acima de 5%, em média, entre 2010 e 2019.
As taxas de investimento desses cinco países – tão diversos entre eles – em relação aos seus PIBs (Produtos Internos Brutos) foram de, respectivamente, 45%, 33,7%, 27,8%, 26,6% e 32,8% nesse período.
No mesmo intervalo de tempo, o Brasil teve expansão econômica pífia de 1,4% ao ano, em média. O resultado não é surpreendente considerando que o país mobilizou investimentos equivalentes a apenas 18,4% do PIB nesse período.
Das cerca de 170 nações para as quais o FMI (Fundo Monetário Internacional) tem dados, o Brasil costuma estar entre os 20 com os níveis mais baixos desse indicador.
A série histórica das contas nacionais brasileiras calculada pelo IBGE com sua metodologia atual começa no início de 1996. Nos 99 trimestres registrados desde então, a taxa de investimentos brasileira atingiu ou ultrapassou 20% em apenas 20 ocasiões. Seu teto em todo esse período foi 21,5%.
Os dados divulgados nesta quinta-feira, 3, pelo IBGE mostram que o país saiu com força da crise causada pela pandemia da Covid-19, ainda que tenha frustrado as expectativas do mercado, que esperava um crescimento mais robusto do PIB.
A questão, que explica por que toda a numeralha aqui citada sobre taxa de investimento importa, é: o que esperar daqui para a frente?
Uma combinação entre má gestão da economia e baixo apetite da sociedade brasileira por reformas – que mexeriam em privilégios adquiridos – são a principal causa do desempenho econômico fraco brasileiro.
O temor recorrente em relação a crises fiscais, o ambiente de negócios complexo, a alta carga tributária e a baixa qualidade da educação são alguns dos fatores que explicam porque os investimentos privados não decolam no Brasil.
Houve avanços para evitar o colapso das contas públicas nos últimos anos, como a adoção de um teto para controlar os gastos do governo e mudanças nas regras do regime de aposentadorias. Mas, até agora, a taxa de investimentos brasileira segue anêmica.
A saída do fundo do poço da pandemia foi suficiente apenas para levar o indicador de volta para 16,2%, exatamente o mesmo patamar baixo do terceiro trimestre de 2019 e de 2018.
A confiança empresarial dependerá de novos passos para resolver os antigos problemas, mas também de medidas para atenuar os novos trazidos pela pandemia. Há incertezas grandes em relação a ambos.
Não está claro que haja apetite político para avançar em reformas importantes, como a administrativa e a tributária em 2021, quando as atenções em Brasília já estarão voltadas para as eleições do ano seguinte.
Tampouco parece haver segurança, dado o desencontro de declarações oficiais em relação a vacinas, de que o Brasil será um dos países que avançará rapidamente na difícil tarefa de imunizar sua população.
Enquanto isso não ocorrer, a necessidade de distanciamento social e a impossibilidade de renovação do socorro emergencial à população vulnerável, no contexto do elevado desemprego, frearão o consumo.
No contexto da incerteza em relação à crise sanitária, a desigualdade na aprendizagem de crianças e jovens, outro problema antigo do país, se agrava a cada dia.
Sem uma ação política bem coordenada nas frentes de saúde e educação, que aumentem a confiança nas perspectivas futuras do país, dificilmente o motor do investimento – crucial para o crescimento econômico – acelerará.