Da Folhapress
SALVADOR – Cidade que proporcionalmente possui a maior população indígena do país, São Gabriel da Cachoeira (a 872 km de Manaus), enfrenta um cenário de colapso na saúde, com profissionais infectados, falta de leitos e baixo estoque de oxigênio para tratar de pacientes com a Covid-19.
O Hospital de Guarnição, gerido pelo Exército, é o único espaço da região que atende a pacientes infectados pelo novo coronavírus. Neste sábado, 9, o hospital tinha seis pacientes internados em estado grave, respirando com o auxílio de ventiladores pulmonares. Os estoques de oxigênio, contudo, já estavam no final.
O secretário municipal de Saúde, Fábio Sampaio, afirma que 17 cilindros devem chegar em um avião da Força Aérea Brasileira para suprir a demanda de forma emergencial.
A prefeitura fretou uma lancha para transportar outros 30 cilindros de oxigênio que estão vindo de Manaus. O trajeto que deve durar pelo menos 24 horas e previsão de chegada é neste domingo, 9.
Além do baixo estoque de oxigênio, o hospital também enfrenta baixas em seu quadro de funcionários, com médicos, enfermeiros e outros profissionais cumprindo quarentena após terem sido infectados pelo novo coronavírus.
Não há leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) – atodos os leitos deste tipo no estado do Amazonas estão concentrados em Manaus. Para tratar de pacientes com Covid-19, o hospital dispõe de sete ventiladores pulmonares.
Responsável pela gestão do hospital, o Exército Brasileiro foi procurado na tarde deste sábado, mas até às 18h não havia respondido aos questionamentos da reportagem.
Com 45 mil habitantes e 750 comunidades indígenas de 23 etnias, São Gabriel da Cachoeira vive uma escalada dos casos da Covid-19. Além dos casos registrados na sede da cidade, já há pacientes com a doença nos povoados e nas aldeias indígenas.
“O cenário é de colapso”, resume o vice-prefeito Pascoal Alcântara. Ele está temporariamente no comando da prefeitura no lugar do prefeito Clóvis Saldanha está cumprindo quarentena, infectado com o novo coronavírus.
A prefeitura emitiu um decreto de bloqueio total das atividades não essenciais e proibição da circulação das pessoas nas ruas. As medidas começaram a valer a partir das 15h deste sábado.
O prefeito em exercício ainda cobra a instalação de um hospital de campanha no município para atender ao aumento da demanda com a pandemia da Covid-19. “Precisamos de mais leitos, de medicamentos e de profissionais de saúde”, afirma Pascoal Alcântara, que nesta sexta-feira acionou o Ministério Público Federal por para relatar o cenário de precariedade do atendimento à saúde na cidade.
Lideranças indígenas também se mostram preocupadas com o avanço da doença para as aldeias, e onde o atendimento de saúde é ainda mais precário.
Presidente da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro, Marivelton Baré classifica como caótica a situação da cidade com a Covid-19, com falta de leitos e pacientes morrendo em suas casas.
“Os povos indígenas do alto Rio Negro estão ameaçados. O vírus já chegou nas aldeias e doença está se alastrando rapidamente”, afirma Marivelton. Ele diz que pelo menos dois indígenas morreram nas aldeias com suspeita de Covid-19.
As distâncias também são um obstáculo para fazer testes e levar serviços de saúde para os indígenas contaminados. Encravada na fronteira com a Colômbia, a cidade possui 109 mil quilômetros quadrados, território maior do que o de Portugal.