O Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) completa este ano 65 anos de existência. Devido aos cortes de recursos do Governo Bolsonaro na área da educação e pesquisa, o funcionamento do Inpa está ameaçado.
Há mais de seis décadas, o Inpa gera conhecimentos e tecnologias adaptadas à realidade amazônica. Tem compromisso com o desenvolvimento sustentável, a defesa do meio ambiente, a sociobiodiversidade.
O acervo de pesquisas do Inpa é muito grande e está a disposição da sociedade. São muitas áreas do conhecimento: manejo de recursos naturais e manejo de madeira, pesca, caça, abelhas, peixes ornamentais e inúmeros produtos regionais. Estudos sobre a rica biodiversidade, a exploração adequada, as mudanças climáticas e a conservação ambiental.
Mas também tem pesquisas e desenvolvimento de fitoterápicos, a partir da rica flora amazônica, alternativas de controle de doenças em cultivos, desenvolvimento de produtos para o mercado, casas e móveis ecológicos, tecnologias para a agricultura, para piscicultura e aquicultura, para a educação. Tem muito mais.
O INPA mantém há muitos anos o Bosque da Ciência, que recebe 100 mil pessoas por ano, principalmente crianças e estudantes, e muitos turistas nacionais e estrangeiros, para conhecer toda a diversidade de plantas da região e também de alguns animais silvestres. É uma fonte de grande conhecimento.
Tudo isso está ameaçado com a redução dos investimentos em Ciência e Tecnologia e Pesquisas que afetam todas as instituições no Brasil. O numero de funcionários do Inpa está reduzindo. Já teve 1.200. Hoje são apenas 540, entre pesquisadores, técnicos e administrativos, sendo que 240 estão para se aposentar.
A maior parte são estudantes e pesquisadores bolsistas, alguns de outros países. São eles que desenvolvem a maior parte das pesquisas pelo Inpa, e assim funciona no Brasil. O Governo Bolsonaro cortou drasticamente os recursos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), destinados às bolsas de pós-graduação.
No CNPq cortaram R$ 330 milhões do orçamento em 2019. Recursos para pagar bolsas somente até este mês de setembro. O Governo tem a intenção de extinguir o CNPq. Milhares de estudantes de pós-graduação e iniciação científica vão parar seus estudos e pesquisas. Um prejuízo criminoso para o futuro do país.
O mesmo está acontecendo com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), onde o Governo realizou cortes nas bolsas de pesquisas de mestrado, doutorado e pós-doutorado. Nenhum novo pesquisador será aceito este ano e 50% das bolsas seriam cortadas. Já foram cortadas 11.800 bolsas em todo Brasil. O orçamento da Capes era de R$ 4,2 bilhões para 2019, mas já reduzido, porém, para 2020, serão R$ 2,2 bilhões a menos.
Com isso, observa-se uma expressiva evasão de estudantes, o sucateamento e o esvaziamento de laboratórios de pesquisa, procura menor por cursos e a perda de talentos para o exterior.
Nos países da União Europeia, a meta é investir, no mínimo, 3% do PIB em Ciência, Tecnologia e Inovação. No Brasil, entre 2003 e 2015, teve grande crescimento, chegando a 1,3% do PIB. Segundo o IPEA, atualmente, não chega a 0,7% do PIB. E na função de Ciência e Tecnologia, do orçamento da União, caiu de 0,6% em 2013, para 0,2% em 2019.
Todos os países do mundo se desenvolveram investindo maciçamente em educação, ciência e tecnologia. Mas o Brasil está indo ao contrário.
Protestei muito quando o Governo do Estado, em gestões passadas, extinguiu a Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia. Bem como cobramos e realizamos audiência no sentido de viabilizar o funcionamento do Centro de Biotecnologia da Amazônia, até hoje não operativa em Manaus. O Amazonas precisa de pesquisas e alternativas para sua economia, para não ficar eternamente na dependência do modelo da ZFM.
O coordenador do Museu da Amazônia e ex-dirigente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) defendendo o Inpa, as instituições e as pesquisas na região, diz: “a Amazônia nos oferece uma rica biblioteca de códigos genéticos da biodiversidade, ela é um imenso arquivo de uma grande variedade de células tronco. Essa biblioteca deveria ser melhor estudada, suas linguagens decifradas, antes de destruí-la para engordar gado”.
Dias atrás, os funcionários do Inpa realizaram um ato público em defesa da instituição, com um a abraço simbólico. Um dos servidores, organizadores do evento, pesquisador e funcionário de carreira, Jorge Lobato, estranhamente foi transferido de sua função para outra no INSS. Estamos pedindo explicações da direção do Inpa.
Será que as perseguições que se via na época da ditadura militar voltaram?
Vamos salvar o Inpa. E a ciência também.
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