Por Julia Sabbaga, do Estadão Conteúdo
SÃO PAULO – Esta semana, a influencer, roteirista e criadora de conteúdo Marcela Montellato viralizou nas redes sociais ao expor uma americana que a xingou. Aguardando do lado de fora do cinema na pré-estreia de ‘É Assim que Acaba’, em Nova Iorque, Marcela foi vítima de ofensas racistas de uma americana que reclamou de sua postura e mandou ela “voltar para o seu país”.
No vídeo, que mostra a interação das duas e a reação completamente inconformada de Marcela com o preconceito da nova-iorquina, a influencer se refere à mulher como “Karen”, expressão pejorativa que ganhou força nos últimos anos e é usada popularmente para rotular mulheres brancas, frequentemente racistas, com postura privilegiada.
O que significa ‘uma Karen’
O comportamento de uma Karen é frequentemente descrito como a “mulher que quer falar com a gerente”, mas também já foi caracterizado no The New York Times como “a policial de todo comportamento humano”. A pesquisadora e professora da Kansas State University Heather Suzanne Woods, especialista em origem de memes, descreveu “uma Karen” ao The Atlantic como “um senso de privilégio, egoísmo e uma vontade de reclamar” O termo ganhou força principalmente durante a pandemia de covid-19, quando Karen era associada também ao negacionismo e à reclamação do uso de máscaras.
Como muitos memes que viralizaram, a origem do termo Karen não é totalmente conhecida, mas já foi associada ao filme Meninas Malvadas (onde a personagem de Karen é vivida por Amanda Seyfried). No longa, a atitude mais distintamente Karen de Karen é perguntar para a personagem de Lindsay Lohan porque ela, se veio da África, é branca.
Muito antes de viralizar nas redes sociais, no entanto, Karen já era um termo popularizado pela comunidade negra nos Estados Unidos para se referir a mulher branca que insiste em exibir seus privilégios.
Também ao The Atlantic, a pesquisadora de mídia da Universidade de Virginia, Meredith Clark, enfatizou que Karen é apenas o mais novo termo para uma ideia antiga: “A referência em si sempre existiu, mas não era específica a um nome só. Karen já teve muitos nomes. Nos anos 1990, quando ‘Baby Got Back’ foi lançada, era Becky”.
O estereótipo, principalmente neste contexto, é o uso do privilégio como arma contra pessoas de cor, como mulheres que fazem queixas policiais contra negros por infrações menores.
Problematizado por sua conotação sexista – por exclusividade feminina -, Karen também evoluiu para incluir homens, mas Karens masculinos também ganharam a sua versão como “Kens”.