MANAUS – O ministro da Educação, Rossieli Soares da Silva, foi destaque na mídia brasileira, na semana passada, ao divulgar o resultado do Ideb (Índice de Desenvolvimento do Ensino Básico), e dizer que “o ensino médio está falido e no fundo do poço”. Esqueceu, o ministro, de fazer mea-culpa porque foi o principal gestor do ensino médio no Amazonas, que aparece em queda no Ideb divulgado e criticado por ele.
O advogado Rossieli Soares foi secretário de Educação do Amazonas de Setembro de 2012 a maio de 2016. Mas não foram só os quatro anos como secretário. De 2008 a 2012, ele trabalhou como diretor de Planejamento, diretor de Infraestrutura e Assessoria Estratégica e como Secretário Executivo Adjunto de Gestão, antes de assumir a chefia da pasta.
A assessoria de Rossieli divulgou texto em que tenta jogar para o atual governo a responsabilidade pela queda de 6% no índice que mede a qualidade da educação, no ensino médio. Qualquer leigo sabe que as políticas educacionais não apresentam resultados de uma hora para outra. Portanto, nos quatro anos em que esteve à frente da pasta nem os resultados do Ideb foram mérito exclusivo dele e nem os resultados de agora deixam de ter a participação dele.
Rossieli tem razão ao dizer que ensino médio no Brasil está falido e no fundo do poço? Tem! O Ideb mostrou que no Amazonas, o número da rede estadual, que cresceu de 2013 para 2015 – passou de 3,0 para 3,5 –, apresentou redução de 3,5 para 3,3, na edição que considera os dados de 2015 a 2017.
A queda tem uma explicação muito simples: até 2015, os resultados do ensino médio, diferentemente do ensino fundamental, eram obtidos a partir de uma amostra de escolas. Na edição de 2017, o Saeb (Sisteme de Avaliação da Educação Básica) passou a ser aplicado a todas as escolas públicas e, por adesão, às escolas privadas.
Essa fato muda tudo. As escolas escolhidas para fazer a prova, até 2015, eram preparadas para o Saeb. Havia, inclusive, empresas privadas contratadas pelas secretarias de Educação Brasil afora, inclusive do Amazonas, para preparar professores e alunos para a avaliação do MEC. O Ideb, até 2015, não mostrava a realidade do ensino médio brasileiro. Quando todas as escolas foram incluídas, a realidade foi escancarada.
Portanto, não basta agora tentar maquiar a passado e apresentar o presente como o caos. É preciso entender a fala de Rossieli não como a de um gestor preocupado com o ensino no Brasil, mas de um político que tem interesses outros. O discurso do ministro da Educação parece de alguém que quer dar o pulo do gato rumo ao próximo governo, seja quem for o candidato aleito.