MANAUS – Em entrevista ao Roda Viva nacional, na noite desta segunda-feira, 3, o prefeito Arthur Virgílio Neto (PSDB), afirmou que tentou manter uma boa relação com a presidente Dilma Rousseff (PT), mas o comportamento da presidente o faz jogar na oposição como propõe o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. “Eu tentei manter uma boa relação com ela, e ela foi educada o tempo todo comigo e eu fui educado o tempo todo com ela (…), mas dinheiro que é bom, agora, dinheiro que é bom, para Manaus não mandou nada. Ela terminou sendo pequena, mesquinha, jogou no varejo, não conseguiu olhar o atacado de um povo que tem necessidade de aporte de recursos para se somar aos nossos recursos”, disse o prefeito, no início da entrevista.
Prefeito perseguido
Depois, Arthur disse que é um prefeito perseguido por Dilma, mas tem impressão que ela não tem mais força para perseguir ninguém. Ele fez a afirmação ao ser questionado se a quarta derrota do PSDB para o PT não tornava o partido dele uma espécie de esparre do adversário e deixar de ser lutador principal, Arthur afirmou que o processo eleitoral e o resultado das urnas mostraram uma cena diferente: “uma presidente fraca, absolutamente fraca, e que não se deu conta disso, talvez, continua andando com a mesma empáfia, e uma liderança que emerge muito viçosa, que floresce das urnas muito forte, que é o Aécio Neves”.
Auditoria nas eleições
Questionado sobre se o pedido do PSDB de auditoria nas eleições foi acertado, Arthur afirmou que não leu a petição e disse que pelo que leu, os argumentos do partido dele “não foram muito assim jurídicos”, mas apoiou o pedido, que nesta segunda-feira recebeu parecer contrário do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. “Mas pelo menos um ministro do TSE com quem conversei me disse que votará a favor de se fazer auditoria. Entendi que o PSDB não fez muito um pedido de recontagem dos votos, mas de auditoria sobre as máquinas, para saber se elas são ou não são indevassáveis”.
Intervenção militar
Sobre as manifestações de sábado e o pedido de intervenção militar, Arthur disse que não gosta de brincar com isso, e lembrou que ele foi vítima do regime militar, mas aproveitou para criticar o PT pelo tempo que está no poder, o que, para o prefeito de Manaus é uma ameaça à democracia. “Temos uma democracia que eu imaginava consolidada até perceber que a intenção das pessoas que estão no poder há 12 anos e agora indo para 16, são de ir aos poucos minando a democracia”. Arthur esqueceu que o PSDB está há 20 anos no poder no Estado de São Paulo e agora vai para 24 anos, com a reeleição de Geraldo Alckmin.
Controle social da mídia
Arthur afirmou que a ida de Ricardo Berzoini para o Ministério das Comunicações será para pilotar o controle social sobre a mídia. “Vai para aproximar cada vez mais o Brasil do modelo venezuelano e afastar o Brasil cada vez mais do modelo das democracias, que na própria América do Sul florescem e florescem economicamente, inclusive”.
Aécio 2018
O prefeito de Manaus também defendeu que Aécio Neves seja o candidato do PSDB em 2018, e disse que não é um bom serviço qualquer candidato do partido disputar com o tucano de Minas Gerais a candidatura do partido nas próximas eleições presidenciais. Sobre uma possível candidatura de Geraldo Alckmin, Arthur afirmou que o melhor é ele conseguir uma vitória ainda mais esmagadora de Aécio sobre a candidatura do PT em São Paulo. “As pessoas estão apostando no Aécio”, disse.
Eleição ao Senado
Arthur voltou a dizer que a eleição dele para o Senado em 2010 foi “tomada” no interior do Estado e que o povo o ressarciu com a eleição do filho dele, Arthur Bisneto, neste ano, para deputado federal. “Em Manaus eu ganhei a eleição de Senador; no interior me tomaram a eleição. Tudo que você imagina de violência praticaram. E o povo do interior ficou com vontade de me ressarcir. E o que aconteceu: o meu filho candidato a deputado federal, era deputado estadual, tem a maior votação proporcional do País. Em Manaus eu sabia que ele ia ser bem votado, até porque era a cara da minha administração, mas no interior eu não poderia suspeitar disso. Fez uma campanha meteórica no interior. As pessoas queriam votar em mim e votaram nele no interior”.
Custo da campanha de Bisneto
Quando questionado sobre o gasto de campanha, que teve uma das campanhas mais caras no Amazonas, Arthur contestou. “Eu não sei se a do meu filho foi a mais cara, foi a que declarou, né. Declarou tudo que arrecadou, enfim, e procurou arrecadar pra poder fazer uma campanha. Porque senão, a gente acaba endeusando a turma que… poxa, viu, que rapaz genial, gastou 200 mil reais, gastou 84 mil reais. Aí você fica dizendo: ‘nossa senhora, é uma mistura de Bill Clinton com Barack Obama com Getúlio Vargas’. Aí é o carisma em pessoa, né. Ele declarou, se tivesse arrecadado em dobro e precisasse gastar o dobro, gastaria o dobro”, afirmou, desapontado.
Arthur também foi questionado porque o PSDB lançou apenas um candidato a deputado federal, e o filho dele, Arthur Bisneto. A jornalista quis saber se isso fortaleceu o partido. O prefeito deu uma longa explicação, com números e mais números, e concluiu que a candidatura única era a única opção que viabilizaria a eleição de um deputado do partido.
Saneamento básico em Manaus
Arthur foi indagado sobre o fato de Manaus ser apontada como uma das cidades mais carentes em saneamento básico e o jornalista Augusto Nunes quis saber se a carência continua. “Continua. Agora, Manaus está com 18% de sua superfície com esgotamento sanitário. Apertamos os prazos da concessionária, que ia fazer muito mais pra lá. Drenagem de águas pluviais eu fiz muito no meu primeiro governo (cerca de 500 quilômetros) e faço em todas as obras. Não faziam antes, e depois, ficaram mais ou menos fingindo que faziam. Nós fazemos tudo isso e Manaus está pegando uma outra cara. As pessoas notam isso. Na Copa ela passou pelo teste. Quem nunca tinha ido lá, dizia: gostei do que vi. Quem tinha ido estava voltando, achava melhor. Eu não escondo mazelas, temos mazelas terríveis, como problema de segurança, temos pobreza extrema, moradores em áreas inadequadas, em cima de igarapés, por exemplo, áreas de risco. Toda vez que chove, meu coração fica apertado, porque eu tenho dificuldades de resolver essa questão, por isso a necessidade que agora eu vou manter, de trabalhar em conjunto com o governador”.
Secretariado técnico
Arthur foi questionado sobre o secretariado técnico que ele prometeu durante a campanha eleitoral de 2014, e disse que o seus auxiliares são todos técnicos. Citou o caso do secretário de Limpeza Pública, Paulo Farias, que é filiado ao PSB, mas disse que nem sabia que ele era filiado a partido político, e o da secretária de Meio Ambiente, Katia Schweickardt, que era filiada ao PT. “Eu procuro conviver bem. Eu procuro prestigiar os vereadores nas obras e nas inaugurações. Não tenho tido problemas com a Câmara, mas nos temos um governo que é desvinculado dessa coisa de cotas. Isso é que eu acho que arrebenta com o equilíbrio dos governos”, disse.
O prefeito esqueceu de que Humberto Michilles, da Educação; Homero de Miranda Leão, da Saúde; David Reis, do Trabalho, são secretários filiados a partidos políticos. Além de outros que deixaram os cargos para disputar as eleições deste ano, como Pauderney Avelino, Fabrício Lima, Rafael Assayag e Domarques Mendonça.
Não apoio de Melo a Aécio
O prefeito disse que chegou a ficar magoado pela postura de neutralidade de José Melo, mas entendeu que estrategicamente não seria bom brigar, porque favoreceria a candidatura do adversário dele, Eduardo Braga e da presidente Dilma Rousseff. “Combinamos de eu pedir votos para Aécio no programa eleitoral dele”, disse Arthur, o que só ocorreu no segundo turno. “Houve a expectativa de que ele viesse (apoiar Aécio), mas não houve uma promessa cabal. Mas tinha a expectativa que sim, porque eu estava ajudando muito a campanha dele”.
Assista à entrevista na íntegra