Por Jullie Pereira, da Redação
MANAUS – O senador Renan Calheiros (MDB), relator da CPI da Covid, comparou as mortes por Covid no Amazonas com o caso da Prevent Sênior e afirmou que escreveu um capítulo no relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito sobre a crise em Manaus. Em entrevista ao ATUAL por telefone, o senador disse que o capítulo é referente às “omissões” do governo Bolsonaro.
“A crise de Manaus tem um capítulo específico no relatório onde todas as ações e, principalmente, omissões do governo Bolsonaro foram responsáveis pela morte de pessoas”, afirmou.
Trechos do relatório vazaram para parte da imprensa neste domingo (17), mas os senadores não tiveram acesso. Questionado, o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD), afirmou que ainda não recebeu o documento e deve se posicionar posteriormente.
Ao ATUAL, Calheiros afirmou que o governo Bolsonaro demorou a agir na crise de oxigênio “e pessoas morreram asfixiadas, desumano, cruel”. O senador comparou o caso de Manaus com o da Prevent Sênior, hospital particular de São Paulo que, de acordo com depoimentos prestado à Comissão, autorizou que medicamentos sem eficácia contra a Covid fossem receitados aos pacientes.
“Manaus foi vítima também de experimentos com humanos, que triste memória nazista. Manaus equivale, na esfera pública, ao terror mortal da Prevent Sênior na esfera privada”, disse o senador.
Calheiros lembrou também que o Ministério da Saúde veio até Manaus em janeiro de 2021, no ápice da crise. Ele chamou o grupo – ministro Eduardo Pazuello, secretária Mayara Pinheiro, e secretário Hélio Angotti Neto- de “gabinete da morte”. “Ao invés de agir, o gabinete da morte que desembarcou em Manaus foi ao estado prescrever cloroquina, remédio cientificamente inútil para Covid”, afirmou.
Tratamento precoce
A cloroquina e a ivermectina foram receitada em hospitais de Manaus. Documento do Ministério da Saúde, do qual a CPI teve acesso, mostra que um dos planos para conter o agravemento da crise em Manaus era a adoção do tratamento precoce. Em relatório feito entre os dia 6 e 16 de janeiro, o ex-ministro Eduardo Pazuello explica o que sugeriu à época.
“Considerando a iminência de colapso da estrutura de saúde da cidade de Manaus, foi sugerida a atuacao em várias frentes: educação sanitária da população e/ou introdução de diagnóstico e tratamento precoce. Foram feitas as seguintes sugestões: o diagnóstico precoce, por intermédio do escore proposto por Cadegiani; adoção de campanhas agressivas de marketing, reforçando a importância de medidas de distanciamento, higiene e uso de máscara; e adoção da quimioprofilaxia/bloqueio epidemiológico para a maior parte possível da população”, disse Renan.
Conforme o senador, em outro documento o Ministério da Saúde também pontua que uma das ações estratégicas para reduzir os riscos da pandemia em janeiro deste ano foi o envio de 120 mil comprimidos de hidroxicloroquina.
Relatório
Os senadores ainda não tiveram acesso ao documento que deve ser lido na quarta-feira (20), mas estão em desacordo a respeito do vazamento. O senador Renan Calheiros negou que tenha enviado o documento à imprensa. O relatório traz o indiciamento de 11 pessoas, mas há divergência entre os senadores sobre a quantidade e os nomes.
O documento será disponibilizado à Comissão ainda nesta segunda-feira. A votação ocorre na terça-feira (26).