Por Patrícia Borges, Da Redação
MANAUS – A partir de uma inquietação no início deste ano, os grafiteiros ‘Cria’ (Waldemir Nascimento) e Anderson Pena lançaram o projeto ‘Raízes Amazônicas’, uma série de grafites que tem como principal objetivo divulgar o trabalho dos artistas de Manaus, contribuindo para a valorização das produções artísticas da cidade.
‘Cria’ explica que a ideia surgiu ao perceber a produção de grafiteiros locais contemplando artistas de outros estados, alguns já falecidos. Com isso, o grafiteiro pensou em pintar artistas do Amazonas, para homenageá-los ainda vivos.
“Será que todos da cidade conhecem esse artista? Há quanto tempo ele está nessa cena? Quantos artistas da cidade se foram e não tiveram uma homenagem desse tipo? Temos exemplos de artistas excelentes como Abílio Farias e, mais recentemente, o MauMao.”
De forma independente, utilizando recursos próprios, os artistas financiaram o material para a produção do primeiro grafite da série ‘Raízes Amazônicas’. Os idealizadores esperam conseguir apoio público ou privado para continuar o projeto.
“O projeto é mantido com recursos próprios, sem apoios. Tenho emprego fixo então, tiro uma pequena parte do que recebo para comprar material. Também utilizamos materiais que sobram de trabalhos anteriores. O Anderson vive de produções artes visuais. No final do mês juntamos todo o material, a grana disponível e saímos para pintar”, disse Cria.
A primeira homenagem ficou pronta no domingo, 26, e é ao cantor e compositor Chico da Silva. Foi produzida no muro do Centro Municipal de Educação Infantil Maria de Lourdes Braga, no bairro Novo Israel, onde mora o grafiteiro Anderson Pena, também idealizador do projeto.
‘Cria’ explica que outra proposta do projeto é fazer do grafite instrumento para denunciar as condições de infraestrutura de bairros periféricos na cidade.
“Moro no Alvorada, um bairro teoricamente bem estruturado. Já o Anderson mora no Novo Israel e sempre que vou visitá-lo, observo a infraestrutura do bairro. Ruas esburacadas, escolas sem manutenção de pintura, postos de saúde sem atendimento. Uma realidade de muitos bairros, eu sei. Mas percebo que os mais distantes do Centro são os que mais sofrem com a falta de uma infraestrutura adequada, seja das vias, ou na saúde e educação. Pensando nisso tivemos a ideia de pintar no Novo Israel, para tentar propor alguma mudança”.
Célia Regina Agra, gestora do CMEI Maria de Lourdes Braga conta que foi procurada pelos artistas para usar a lateral da escola como painel para o grafite e, por entender a importante relação entre grafite, cultura e educação, autorizou de imediato a produção da arte.
“A comunidade aqui é bem carente e qualquer muro aqui é pichado. Quando se fala em escola se pensa em cultura. Grafite é cultura e, ao mesmo tempo, deixa o espaço mais bonito e colorido. Além disso, com essa arte mostramos aos alunos, que tem 4 e 5 anos, a importância da disposição das cores e explicamos a diferença entre pichação e grafite/art, ajudando a ampliar o sentido de cidadania.”