Por Cinthia Guimarães, especial para o AMAZONAS ATUAL
MANAUS – O retrocesso na economia brasileira em 2015 foi confirmado nesta quinta-feira, 3, com a queda de 3,8% no PIB (Produto Interno Bruto) em comparação com 2014. Uma queda acima do esperado é motivo de preocupação para os empresários locais ouvidos pelo AMAZONAS ATUAL, que consideram a economia do Amazonas mais dependente do modelo industrial.
O presidente do Cieam (Centro da Indústria do Estado do Amazonas) e diretor da Technicolor, Wilson Périco, disse que os números negativos não são nenhuma surpresa diante da queda de 35% no faturamento do PIM (Polo Industrial de Manaus) em 2015, que representa quase 500 empresas regionais, nacionais e multinacionais abrigadas em Manaus.
“Não é nenhuma surpresa isso já era esperado por conta da situação econômica, que de falta de credibilidade do investidor e do consumidor. Preocupa porque a queda foi muito acima do que todos esperavam e preocupa mais porque nós não vermos medidas por parte desse governo que nos permita esperar uma melhoria no curto prazo. Infelizmente é esse o cenário, esse sentimento de risco é muito ruim”, avalia.
O quadro de desemprego nacional agravou a situação do setor, afirma Périco. “As pessoas que perderam emprego perderam poder de compra. As pessoas que estão empregadas não têm a certeza de que permanecerão nos empregos, que vão consumir e isso afeta muito a atividade industrial”, explica.
A mudança nos hábitos do consumidor brasileiro – que está optando por gastos essenciais – também refletiu na menor produção industrial no Amazonas, que fabrica bens que estão fora da lista prioritária do consumo, como televisor, computador, aparelhos de telefone celular, motocicletas, bicicletas, tablets, relógios, entre outros. Quem explica é o vice-presidente da Fieam (Federação das Indústrias do Estado do Amazonas), Nelson Azevedo.
Segundo o industrial, o problema é escalonado. “Sem consumo não tem produção, não tem faturamento nem tem emprego. Quando você olha nosso desempenho, nós tivemos no ano passado uma queda de 10% em real. Quando você vai para a moeda americana, o faturamento caiu mais de 35% em dólar. Nós tivemos 118 mil empregos no começo de 2015 e terminamos em torno de 88 mil empregos. É uma queda muito acentuada”, ressalta.
Economista de formação, Azevedo ressalta que a economia é dinâmica ao processo político e que deve se recuperar tão logo a situação política estiver resolvida.
“Nossa crise é institucional que afeta as demais áreas, como a econômica. A partir do momento em que se resolva o problema político que vivemos no momento, a economia vai se recuperar. Mas infelizmente não temos uma boa perspectiva no momento”, pontua.
Presidente da Fecomércio-AM (Federação do Comércio, Serviços e Turismo do Amazonas), José Roberto Tadros destacou o fechamento de 100 mil lojas no varejo brasileiro em 2015 por conta da crise econômica.
Números do PIM
O Polo Industrial de Manaus (PIM) registrou o faturamento de R$ 78,4 bilhões no ano de 2015, 10,21% inferior ao obtido no ano de 2014 (R$ 87,3 bilhões, atual recorde) e 6,51% menor que em 2013 (R$ 83,2 bilhões).
Em dólar, os US$ 23,8 bilhões alcançados no ano passado representam uma queda de 35,75% na comparação com o ano de 2014 (US$ 37,1 bilhões), por conta da valorização de 41,2% da moeda americana em relação ao real, comparando-se o valor médio do ano de 2015 (R$ 3,32 por US$ 1) com o do ano de 2014 (R$ 2,35 por US$ 1).
Indústria tem peso maior
O desempenho negativo do PIB nacional foi puxado pela indústria de transformação (-9,7%) e depois pelo comércio (-8,9%), mas equilibrado pelo setor agropecuário (+1,8%). O desempenho do PIB (somatório das riquezas produzidas em de um país) é feito pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Em valores reais, o PIB brasileiro foi de R$ 5,9 trilhões e o PIB per capita (por pessoa) ficou em R$ 28.876 em 2015, com queda de 4,6% em relação ao ano anterior.
PIB 2015 por setor:
- Agropecuária: +1,8%
- Soja:+11,9%
- Serviços:-2,7%
- Comércio: -8,9%
- Indústria:-6,2%
- Indústria de transformação:-9,7%