Por Cleber Oliveira e Valmir Lima
MANAUS – Aos 43 anos de idade, o advogado amazonense Marcelo Ramos Rodrigues busca a ascensão política. O militante estudantil, ex-vereador e ex-deputado estadual entra na disputa para prefeito de Manaus em um momento em que ele define como transição. Ramos foi filiado ao PCdoB (Partido Comunista do Brasil) por 16 anos. Agora no PR, diz que sente orgulho da sua formação ideológica, mas que o comunismo não é o melhor para a sociedade. Na disputa à prefeitura, Ramos terá uma chapa formada por partidos nanicos e de oposição como o PTdoB, PTC e o PEN. Ao receber o AMAZONAS ATUAL em seu comitê de campanha, em área nobre de Manaus, o aspirante a prefeito diz que não teme ter sua imagem associada à do ex-prefeito de Manaus Alfredo Nascimento e de Valdemar Costa Neto, fundador da legenda e condenado no processo do mensalão.
AMAZONAS ATUAL – O senhor já foi vereador, deputado estadual e secretário municipal de transporte. O senhor está apostando em possível eleição para a prefeitura baseado na sua popularidade como legislador ou em um projeto pragmático de política pública para a cidade.
MARCELO RAMOS – Obviamente que a experiência como legislador me faz entender uma série de questões importantes para administrar a cidade. E a principal delas é a relação republicana e democrática que tem que ser estabelecida entre a câmara de vereadores e a Prefeitura de Manaus. No entanto, além dessa experiência, fui gestor, diretor-presidente do Instituto Municipal de Transportes Urbanos, fui chefe de gabinete, fui chefe do Departamento de Relações Internacionais do Ministério do Esporte, Isso me dá, também, um legado como administrador. Mesmo nos últimos anos sem mandato, eu visitei várias experiências bem sucedidas de administração pública, estudei bastante os problemas da cidade, então eu não aposto na minha popularidade, mas em um caminho transformador e seguro que nós vamos apresentar para o povo de Manaus.
ATUAL – Nessa fase inicial de campanha, o senhor está investindo no procedimento padrão das promessas ou já apresenta projetos reais?
RAMOS – Nós já temos uma proposta de governo bem avançada. Temos uma coordenação de plano de governo comandada pelo professor Maurício Brilhante, que é doutor em gestão pública pela Fundação Getúlio Vargas, e uma equipe multidisciplinar. Já elaboramos um plano de governo e meus diálogos com a população são todos centrados nos cinco principais pontos, prioridades que nós defendemos que devem ser tratadas com a mais absoluta atenção que é educação, saúde, infraestrutura, transporte coletivo e segurança. Nós achamos que a prefeitura tem que cuidar primeiro disso. Quando essas cinco coisas funcionarem bem, aí a gente pensa em fazer alguma outra coisa. É como um pai de família, que não pode comprar uma camisa nova com o dinheiro do rancho. Primeiro tem que cuidar do rancho, da conta de água e da conta de luz e, se sobrar, ele compra uma camisa nova. Um prefeito é igualzinho. Ele tem que cuidar bem de educação, saúde, infraestrutura, transporte e segurança. Se sobrar, aí ele faz a maquiagem, as coisas que lhe envaidecem. Em Manaus, se cuidar bem dessas cinco coisas, essas coisas vão funcionar bem. E eu duvido que sobre para fazer besteira e gastar dinheiro com coisas que não mudam a vida de ninguém.
ATUAL – É possível trabalhar essas cinco coisas tudo de uma vez ou o senhor vai priorizar uma delas, especificamente?
RAMOS – Manaus é uma cidade que tem um reflexo diferenciado da crise. Tem um orçamento de R$ 4,100 bilhões por ano. O atual prefeito, que reclama muito da falta de dinheiro, em três anos teve R$ 1,300 bilhão a mais que o prefeito anterior em quatro. Então, em três anos, o prefeito Arthur Neto teve um bilhão e 300 milhões de reais a mais do que o prefeito Amazonino (Mendes) nos quatro anos que o antecedeu. Portanto, a crise não chegou de forma tão forte na cidade de Manaus.
ATUAL – Por que?
RAMOS – Porque houve um volume muito grande de repasses federais, tanto voluntários quanto obrigatórios, para a cidade de Manaus e porque houve uma arrecadação muito grande na receita do IPTU por conta da legislação que atualizou as alíquotas em três parcelas e o atual prefeito pegou duas dessas três parcelas. Então, Manaus tem dinheiro suficiente para cuidar bem dessas cinco coisas.
ATUAL – Mas são coisas distintas, como o senhor pretende conciliá-las?
RAMOS – É óbvio que dentro dessas cinco nós entendemos que a educação é um elemento fundamental para o futuro de qualquer cidade. E dentro do tema educação, nós incluímos o que consideramos o carro chefe para o futuro de Manaus que é o projeto Tempo de Aprender. É a ideia de uma escola de tempo integral criativa na rede de ensino fundamental. A prefeitura vai conveniar com igrejas, associações de moradores e cursos livres para que o estudante, no contra-turno da aula, ele tenha uma aula de violão, de inglês, de reforço escolar, de teclado. Isso é bom para quem tem esses espaços, em especial as igrejas que passam o dia fechadas e que são preparadas como uma escola, pelo menos a maioria delas, e que vão ser remuneradas pelos espaços que estariam fechados. É bom para os pais da criança, pois ela estará segura no turno e contra-turno da escola. É bom para a criança que vai ter uma formação mais ampla e é bom principalmente para a prefeitura que vai ter uma escola de tempo integral muito mais barata, não precisando construir prédios. Até porque a prefeitura tem um sério déficit de prédios para abrigar escolas. Nós temos quase 500 escolas e a maior parte delas são prédios alugados ou absolutamente improvisados. Nós não teríamos como fazer tempo integral utilizando a atual rede física da prefeitura.
ATUAL – Nesse princípio de uma educação ampla, o que o senhor pensa do projeto ‘Escola sem Partido’?
RAMOS – Eu acho uma grande bobagem. Minha trajetória de luta democrática, da defesa de pluralidade de ideias não me permite nem topar com isso. É uma estupidez de quem não tem o que fazer. Ideologia não é algo que se carregue em uma mochila que você entra na sala de aula e deixe a mochila do lado de fora. É óbvio que o professor sempre vai ter uma influência da sua carga de opiniões, o que não pode é o professor impor ao aluno o seu pensamento. Agora, querer impedir o professor de discutir temas políticos e de cidadania dentro de sala de aula é de uma estupidez sem tamanho.
ATUAL – O senhor é candidato pelo PR, partido do ex-prefeito Alfredo Nascimento, que ficou estigmatizado pelo fracasso do projeto Expresso, o corredor exclusivo de ônibus, e do fundador da legenda, Valdemar Costa Neto, condenado no processo do mensalão. O senhor avaliou essas variáveis negativas antes de se filiar ao partido e tê-los como líderes?
RAMOS – Um dia desses um amigo meu, que é da Pastoral da Juventude, me criticou porque eu era do PR justamente por conta dessas questões. Eu disse a ele o seguinte: sou católico. A igreja acabou de viver uma grave crise de padres pedófilos e não condeno a igreja. Então, eu vejo que é uma forçação de barra querer fazer qualquer vinculação minha com qualquer desvio de conduta de alguém. Eu tenho uma vida limpa e correta. Mas o que é isso? Na verdade, é uma injustiça que imputaram ao Alfredo, no caso o fracasso do Expresso. Na verdade, o fracasso do Expresso foi o abandono do projeto após o Alfredo deixar de ser prefeito e virar ministro (dos Transportes) e ali aconteceu tudo que aconteceu.
ATUAL – A culpa, então, foi dos outros.
RAMOS – Para você ter uma ideia, e isso são dados absolutamente inquestionáveis, na época do Expresso a velocidade média da frota de ônibus de Manaus chegou a 37 quilômetros por hora. Hoje é de 13. A velocidade média da frota de ônibus hoje é quase um terço menor do que foi na época do Expresso. O Brasil só tem oito cidades com mais de dois milhões de habitantes. Manaus é uma delas. As outras sete têm corredor exclusivo de ônibus, só Manaus não tem. Tem um arremedo que é a Faixa Azul, que é algo absolutamente sem planejamento. Uma faixa exclusiva de ônibus do lado esquerdo para uma cidade onde os ônibus não têm porta do lado esquerdo. Isso é uma brincadeira. Tenho a mais absoluta tranquilidade, muito orgulho de estar dentro do PR que eu ouso dizer é o partido mais vivo e mais inserido nos mais variados setores da sociedade, hoje, na cidade de Manaus.
ATUAL – A representatividade política – a chamada democracia representativa – passa por crise de credibilidade. Políticos têm cada vez mais rejeição do eleitor. Como o senhor pretende evitar ser mais um a ser rejeitado?
RAMOS – Democracia é algo que não nasce pronto, ela vive em formação. Eu vejo gente comparar a nossa democracia com a França, que proclamou a República cem anos antes da nossa. De lá para cá não teve nem uma ruptura das instituições democráticas. Nós estamos vivendo o maior período democrático da nossa história. Nossa democracia está amadurecendo, então eu acho que temos que entender tudo isso, todo esse processo como o de um país que está andando para a frente. E para andar para frente você precisa enfrentar suas crises, seus problemas e suas distorções. Eu, sinceramente, acho que mais do que minha história, minha trajetória que eu me orgulho muito como vereador, como deputado, como gestor, é o caminho que nós vamos apontar para a cidade de Manaus. Porque falar de mudança, todo mundo fala, mas não é qualquer mudança que é boa para o cidadão. Mudança boa é aquela segura e transformadora. Segura porque é feita por quem sabe o que quer e sabe para onde quer levar a cidade, e transformadora porque estar preocupado em mudar a vida das pessoas. A hora que nós apresentarmos o conjunto de ideias e de planos para a cidade de Manaus, esse vai ser o nosso grande diferencial.
ATUAL – Além da crise de credibilidade, os gestores públicos enfrentam uma crise econômica e financeira. Nessas ocasiões, costumam pedir mais dinheiro em vez de fazer ajustes fiscais. Em qual cartilha o senhor se enquadra, na primeira ou na segunda?
RAMOS – O problema é você gastar sem planejar. Isso dá errado na casa da gente e dá errado na administração pública. A introdução daquele livro ‘O Príncipe’, do Maquiavel, é fantástica. Ela diferencia o príncipe virtuoso do príncipe levado pelo vento. O nosso atual prefeito é um príncipe levado pelo vento. Não tem nenhum planejamento, nenhuma organização das suas ações, ele não sabe para onde quer levar a cidade. Ele não saber que objetivos persegue na educação, na saúde. Simplesmente, vai fazendo as coisas que o envaidecem ou sanando as crises que aparecem no dia a dia de uma cidade grande como a nossa. Nós precisamos ter planejamento e estabelecer metas. Dinheiro pouco mal gasto é dinheiro que vira menos ainda.
ATUAL – Mas os gestores põe a culpa na crise…
RAMOS – Primeiro, não é verdade que Manaus foi atingida com a força que a prefeitura tenta passar à população com a crise. Repito: os gastos estão nos balanços da prefeitura, qualquer um pode ter acesso. O atual prefeito, em três anos, teve R$ 1 bilhão e 300 milhões a mais que o prefeito anterior em quatro. Então, a crise não atingiu de forma tão forte a cidade de Manaus.
ATUAL – Então, na sua avaliação, onde está o problema?
RAMOS – A segunda questão é que nós precisamos ter um governo de metas. O prefeito precisa saber o que ele quer. Em que posição nós estamos nos índices nacionais de educação e em que posição nós queremos chegar. Quantos professores com mestrado e doutorado nós temos, quantos nós queremos ter em quatro anos? Qual é o índice de mortalidade infantil na cidade de Manaus, qual é o índice que nós queremos entregar nos próximos quatro anos? Isso é um governo que planeja suas ações e que gasta vinculado a seus objetivos. Quem gasta errado, não conseguindo aumentar receita, o dinheiro não vai dar nunca. Quem não planeja seus gatos o dinheiro não vai dar nunca. Nem pouco e nem muito. Tem milionário que é devedor e tem pobre que é devedor. Tem milionário que tem suas contas ajustadas e tem pobre que tem suas contas ajustadas. O que diferencia isso é planejamento e metas. E se tem duas palavras que a Prefeitura de Manaus não conhece, na sua história, não é só na atual administração, é planejamento e metas. Vai conhecer a partir de 2017.
ATUAL – Nesta campanha, os candidatos não terão mais o financiamento eleitoral de empresas. Sua campanha será modesta em termos de gastos ou pretende gastar o que for possível?
RAMOS – Eu vou ter um repasse do fundo partidário, eu tenho a sorte de ter como presidente estadual do PR alguém que é muito prestigiado no partido nacional e que era o presidente nacional do partido até pouco tempo. Então, certamente eu vou ter o recursos do fundo partidário. A maior parte da minha campanha vai ser custeada pelo recurso do fundo partidário. É óbvio que nós vamos ter doações de algumas pessoas físicas, mas não é tradição do cidadão brasileiro fazer doação eleitoral como pessoa física. Então, eu não acredito que nós consigamos ter uma grande capitação de pessoa física. Nós estamos fazendo nosso planejamento dentro do que teremos do fundo partidário.
ATUAL – O senhor tem um comitê móvel, adaptado em uma carreta. Quanto custou esse comitê itinerante?
RAMOS – Esse comitê é um aluguel. É uma caminhão que estava parado, nós tivemos a ideia e o alugamos. É isso. Foi mais barato do que as pessoas imaginam.
ATUAL – Mas o aluguel é alto ou baixo?
RAMOS – É baixo. Até porque vai ser pago com dinheiro do fundo partidário. Estará na prestação de contas do partido?
ATUAL – Nestas eleições, já são 12 pré-candidatos. Em meio a essa diversidade, como o senhor pretende se diferenciar?
RAMOS – Eu acho que quanto mais candidatos, mais democracia. É bom que a população tenha mais opções. A diferença é a minha trajetória e o que vamos apresentar para a cidade de Manaus. Duvido que alguém apresente algo tão consistente, tão responsável do ponto de vista orçamentário e financeiro da prefeitura do que nós. Fora isso, eu acho que vai diferenciar muito um esforço nosso de unir pessoas. Nós queremos mais do que ganhar uma eleição. Nós queremos ganhar uma eleição unindo vários setores da sociedade, lideranças, figuras políticas importantes, comprometidas com o futuro da nossa cidade. Manaus precisa mais do que alguém que derrote outro e se torne prefeito. Manaus precisa de um líder capaz de unir pessoas em torno do objetivo de transformá-la em uma cidade melhor para todos.
ATUAL – O senhor foi filiado no PCdoB por 16 anos. O senhor deixou de ser comunista?
RAMOS – Deixei. Eu tenho muito orgulho da minha trajetória. Não me arrependo da escola que eu tive no PCdoB. Logo que eu saí do PCdoB eu tinha muita identidade ideológica com o partido. Hoje eu entendo que aquele não era o melhor caminho para o futuro da sociedade. O melhor caminho é um modelo democrático, pautado na eficiência, no planejamento, no cumprimento de metas. Eu, hoje, quebrei completamente meus preconceitos com a iniciativa privada. Tenho plena consciência que o orçamento público é um subproduto da atividade privada, portanto se o poder público não facilitar a atividade privada, as pessoas não vão viver bem. O melhor programa social que existe é o emprego, ninguém quer viver de favor do poder público. O poder público não gera riqueza, quem gera riqueza é a iniciativa privada. Então, nós queremos também criar uma prefeitura, e isso faz parte dessa minha transição ideológica, que seja facilitadora da vida de quem quer empreender, gerar emprego e renda.
ATUAL – Por exemplo…
RAMOS – Por exemplo, em um momento desse de crise um prefeito responsável teria chamado os seus gestores e dito: me procure todos os pedidos de licenciamento de obras, de empreendimentos, de ações empresariais que geram empregos em Manaus. Vamos destravar isso que é para esses empreendimentos começarem a rodar. Nós precisamos ter mais cuidado com quem produz riqueza e gera emprego e renda. Prefeitura, hoje, é uma atrapalhadora da atividade produtiva. Ela passará a ser uma facilitadora, porque eu tenho convicção de que a hora que a atividade privada funciona bem diminuem as demandas sociais e aumenta a arrecadação da prefeitura. Isso é bom para a cidade. Eu tenho muito orgulho da minha trajetória no PCdoB, mas efetivamente não acredito mais que aqueles princípios sejam um caminho para melhorar a vida das pessoas.
Assista aos vídeos da entrevista: