O placar começava sempre Caixa 2 x Brasil 0 na República da Odebrecht. Por isso, era natural que – em algum momento – o futebol fosse usado como código para disfarçar vergonhosas jogadas de corrupção. Ficou claro que: vários milhões de dinheiro público eram roubados em obras superfaturadas e licitações fraudulentas e depois usados para ‘comprar’ políticos do Legislativo e do Executivo. Assim, a empreiteira garantia futuras obras irregulares e aprovava as leis que queria.
Para ‘driblar’ as fiscalizações e evitar que se soubesse quem eram os políticos subornados, a Odebrecht criou planilhas nas quais trocava nomes de partidos por nomes de times e os cargos políticos eram designados como posições de jogadores. Desta forma, candidato a presidente da República era centroavante, governador era descrito como meia, senador chamado de ponta, deputado federal era apelidado de volante e deputado estadual era zagueiro. Quem não tinha cargo e pertencia à base de partidos recebia o codinome de goleiro.
Ao todo, a lista contava com 18 partidos – que estavam nessa ‘zona de rebaixamento’ da ética. PMDB (Internacional), PR (São Paulo), DEM (Fluminense), PSB (Sport), PP (Cruzeiro), PTB (Vasco), PPS (Palmeiras), PSOL (Atlético Mineiro), PCdoB (Bahia), PSC (Náutico), PSD (Botafogo), PRB (Santos), PDT (Grêmio), PROS (Santa Cruz), PV (Coritiba) e Rede (Remo). Político que não tinha partido era identificado como ABC. Já os partidos que polarizaram as últimas eleições receberam o nome dos times mais populares: o PT era o Flamengo e o PSDB, o Corinthians.
Assim, para citar Dilma, por exemplo, os executivos da empreiteira tinham que escrever algo como: ‘centroavante’, quer dizer, ‘centroavanta do Flamengo’. Uma curiosidade: um repasse feito ao atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), foi registrado na ‘súmula da propina’ como sendo para o ‘Botafogo, volante do Fluminense’, em razão do time para o qual o parlamentar torce.
Com a divulgação da correspondência entre os clubes e os partidos, vários torcedores -especialmente dos times rivais – criaram teorias para explicar as escolhas. Houve quem assegurasse que o Vasco foi designado segundo seus rebaixamentos e PTB seria uma referência à Série B. Será que haveria alguma razão mais elaborada para Corinthians ser apelidado de PSDB e Flamengo de PT? Seria apenas porque tucano rima com corintiano e petista com flamenguista?
Algumas semelhanças entre PT e Flamengo é que ambos têm grande popularidade nas regiões Norte e Nordeste e gostam de alardear que são responsáveis por fazer a alegria dos pobres. Já Corinthians e PSDB têm fama de serem protegidos pela mídia.
Realmente, se há no País um partido que reproduz os sentimentos mais intensos do futebol é o PT. O único que reúne em torno de si torcedores fanáticos a favor e contra. Daqueles que se consideram perseguidos por juízes, discutem com o tira-teima e acham que opinião consegue golear até mesmo os fatos.
Curioso é que outra planilha revelou que a Odebrecht e outras seis empreiteiras se denominavam como o time ‘Unidos Venceremos’ e disfarçavam, como se fosse regra de campeonato esportivo, suas formas de fraudar licitações. Enquanto muitos brasileiros terminavam namoros, desfaziam amizades e rompiam relações com familiares por causa de partidos políticos, a Odebrecht já tinha garantido há muito tempo o campeonato no tapetão.
Enquanto uns xingavam aos outros de ‘coxinha’ e ‘petralha’, e o País ficava, literalmente, ‘partido’; PSDB, PT e PMDB, por exemplo, já tinham acertado com a empreiteira: a ‘tesoura’ desleal, o ‘carrinho por trás’ e a ‘mão na bolada’ contra o povo. As urnas mostrarão se o povo entendeu que quem se vende não vale nada. E se também já descobriu a verdadeira resposta para a pergunta: Brasil, que time é teu?
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