Do ATUAL
MANAUS – A proteção de áreas de floresta, tanto em Manaus quanto nos municípios de Rio Preto da Eva e Itacoatiara, é fundamental para salvar o sauim-de-coleira da extinção. Mata nativa urbana na capital e no entorno dos municípios do interior são o habitat da espécie de primata endêmica do Amazonas.
Criar unidades de conservação para a espécie é a conclusão do estudo “Identificação de Áreas Prioritárias para a Conservação do sauim-de-coleira (Saguinus bicolor) no Estado do Amazonas”, que envolveu 18 pesquisadores do ISC (Instituto Sauim-de-Coleira), do Museu Emílio Goeldi, da Ufam (Universidade Federal do Amazonas), Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) e do ICMBio (Instituto Chico Mendes para Conservação da Biodiversidade).
Os pesquisadores estudaram as principais ameaças (áreas desflorestadas, estradas, obras de infraestrutura) durante um ano e meio. Também concluíram que é preciso priorizar atividades de baixo impacto ambiental nessas áreas que são prioritárias para a conservação da espécie e recuperar a vegetação nas áreas protegidas degradadas, além de fortalecer campanhas ambientais de proteção ao sauim.
“O objetivo deste estudo é balizar as políticas públicas. Ele é o primeiro passo, aponta o caminho a ser seguido. Com esse estudo em mãos, conhecemos as áreas e ações prioritárias para o sucesso das estratégias para a conservação da espécie e podemos direcionar as ações do Plano de Ação Nacional para a Conservação do Sauim-de-coleira (PAN Sauim-ICMBio), assim como políticas públicas em outras esferas governamentais”, disse presidente do Instituto Sauim-de-coleira, Maurício Noronha.
A pesquisadora Ana Luisa Albernaz, do Museu Paraense Emilio Goeldi (MPEG), de Belém, que liderou o estudo, explica que a criação de áreas protegidas com categorias mais restritivas é decisiva para salvar a espécie.
“Manaus tem quase 30% de áreas protegidas em sua zona urbana, a maioria APAs. Mas boa parte tem floresta severamente fragmentada pelas ocupações humanas, o que impacta as populações de sauins. Então, do ponto de vista técnico, recomendamos que sejam criadas áreas com categorias mais restritivas”, disse a pesquisadora.
“A gente vem vivendo uma crise ambiental sem precedentes. Secas e incêndios florestais que deixam consequências bastante sérias, não só em termos de perda de biodiversidade, mas também para nós, para a humanidade. A solução para a crise que nos afeta passa pelo enfrentamento à crise ambiental. Quando protegemos o habitat do sauim, estamos protegendo a nós mesmos”, lembrou.
O pesquisador Marcelo Gordo, do Departamento de Biologia da Ufam, defende a implantação imediata das medidas. Segundo ele, no ritmo atual a população de sauim-de-coleira pode sofrer uma redução de até 80% dentro de três gerações, ou seja, nos próximos 18 anos. “Há estudos que apontam que a perda populacional do sauim já acontece há mais de 10 mil anos, mas isso nunca aconteceu em um ritmo tão intenso como agora”.
Segundo Marcelo Gordo, as principais ameaças para a espécie são a perda e a fragmentação do seu habitat, tanto nas áreas urbanas, onde enfrentam a especulação imobiliária e o crescimento urbano desordenado, quanto nas zonas rurais, onde o maior obstáculo à conservação é o avanço da fronteira agropecuária sobre as florestas.
“Perda é quando uma floresta é derrubada para dar lugar a um condomínio ou a um pasto, por exemplo. Já a fragmentação acontece quando obras e intervenções como as estradas ou fazendas cortam e isolam áreas de floresta. A perda de conectividade entre essas áreas resulta na perda de variabilidade genética das populações isoladas, o que também contribui para o seu desaparecimento”, explicou.
Agravando esse cenário, muitos sauins, ao se deslocarem entre fragmentos, em busca de abrigo e alimento, acabam atropelados, eletrocutados ou atacados por cães. Outra ameaça é a hibridização com outra espécie concorrente: o sauim-da-mão-dourada (Saguinus midas).