Da Redação
MANAUS – Ex-governador do Amazonas, o senador Eduardo Braga (MDB) disse que o desenvolvimento econômico do Amazonas em 2020 dependerá de vontade política para que o estado, sem mercado consolidado, não fique de fora da prosperidade nacional. “Eu acho que precisamos voltar a ser um país do diálogo, da construção, para que a gente possa encontrar políticas públicas. Porque uma coisa que está me preocupando muito é achar que o crescimento econômico virá pela força da gravidade”, disse Braga, na manha desta segunda-feira, 23, em entrevista à uma Rádio Diário, de Manaus.
Para o senador, a tendência é que mercados estabilizados tenham mais vantagens em relação aos estados do Norte e Nordeste. “O crescimento econômico nos mercados maduros – São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina e Espírito Santo -, a iniciativa privada vai investir pesadamente. Mas no Norte, no Nordeste, principalmente nos grotões onde temos as grandes desigualdades econômicas e sociais, é preciso ter políticas públicas de investimento”, disse.
Eduardo Braga cita como exemplo a problemática da rodovia BR-319 que liga Manaus a Porto Velho (RO). “A iniciativa privada não vai asfaltar a BR-319. Se não for o governo federal a colocar recursos públicos para asfaltar a BR-319, não tem nenhuma concessão que vá asfaltar para receber em pedágio”, afirmou.
De acordo com Braga, a economia brasileira viverá ‘ilhas de prosperidade’, e se não houver mudanças nas políticas públicas do governo federal, estadual e municipais o Amazonas será excluído desse cenário.
Este ano, segundo o parlamentar, isso foi identificado no mercado imobiliário. Segundo Braga, com a liberação dos R$ 500 do FGTS e decisões do governo federal para políticas de financiamento, 2019 se encerra com 1,2% a 1,5% de crescimento nesse setor e a previsão de até 2,8% para 2020. Mas isso, para os mercados maduros. “O mercado mobiliário em São Paulo já teve um crescimento de 31%. E aqui em Manaus, quantos lançamentos nós temos nesse momento do mercado imobiliário?”, questionou.
Zona Franca
Sobre os ataques à Zona Franca de Manaus e discussões em torno de alternativas e complementos ao modelo, Eduardo Braga afirma que há muitas coisas que podem ser somadas à ZFM e são deixadas de lado, que poderiam incluir o interior, como a extração de madeira, petróleo e gás.
Para gerar emprego e renda com o manejo floresta, o senador cita como exemplo parcerias com empresas norte-americanas como a Home Depot, que segundo o parlamentar tem lucro de US$ 10 bilhões por ano vendendo materiais de madeira.
“Por que o governo do Amazonas não conversa com o governo brasileiro para sentar com o presidente Trump, já que o Bolsonaro se diz tão amigo do presidente Trump, para criarmos uma política para que possamos fazer manejo florestal, com madeira legalizada, para produzirmos portas, janelas, e gerar emprego e renda no interior e exportar isso para a Home Depot?”
Eduardo Braga critica a importação de gasolina e óleo diesel em um estado que extrai combustíveis. “Petróleo e gás é uma tendência natural no interior do Amazonas. Nós não prospectamos novos poços no interior do Amazonas há dez anos. A curva de petróleo e gás é declinante porque nós não perfuramos novos poços. Não tem uma perfuradora de poços há dez anos”, afirma.
BR-319
Apesar de projetos de lei para acelerar a conclusão da rodovia federal, o prosseguimento das obras ainda permanece sem previsões. “O governo já está licitando 54 quilômetros entre o Rio Tupana e o Rio Igapó-Açu, acima do município do Careiro Castanho. São mais 54 quilômetros que deverão ser asfaltados a partir do ano que vem”, afirma Braga.
De acordo com o senador, no segundo semestre de 2020 deverá ser obtida a licença ambiental e dos povos indígenas para asfaltamento da ‘terra do meio’, região considerada intrafegável no período de chuvas. “Acreditamos que isso acontecendo teremos no final do ano que vem a licitação para início das obras a partir do verão de 2021”, disse.
Bolsonaro
Braga considera clara a estratégia do presidente Jair Bolsonaro em manter a polarização política. “Não creio que essas frases e essa forma dele se expressar todo dia na porta do Palácio da Alvorada seja uma incontinência verbal ou uma fala desequilibrada. Eu acho que aquilo tudo é premeditado, para ele pautar a imprensa nacional em torno das falas que convém a ele”, disse.
A estratégia não deu muito certo para o parlamentar. Isso na minha opinião, em determinado momento criou um mal estar no país. Porque a própria população começou a avaliar negativamente essas falas”, afirma.