Por Maria Derzi, da Redação
MANAUS – Comuns aos candidatos à Prefeitura de Manaus, propostas de implantar ciclovias e aperfeiçoar o BRT (Bus Rapid Transit), que hoje funciona com ônibus articulados na Faixa Azul, corredores exclusivos para esses veículos de transporte de passageiros, não eliminarão os gargalos no trânsito da capital. A afirmação é do engenheiro de trânsito Rubiomar Maia de Azevedo, professor da UEA (Universidade do Estado do Amazonas).
A falta de vontade política para transformar o perfil do trânsito de Manaus e a inexistência de estudos e projetos de longo prazo para a circulação urbana devem inviabilizar, ainda por muito tempo, um melhor cenário de mobilidade na cidade. “Nenhum dos candidatos que estão prometendo resolver o problema terão uma solução definitiva para o trânsito de Manaus. Nenhum deles chegou nas universidades, que pesquisam isso, para saber o que nós, especialistas em trânsito, pensamos. Todos eles falam a mesma coisa e dizem que vão solucionar o problema, mas como? Eles não saberão como fazer”, disse Rubiomar.
Engenheiro civil especialista em engenharia de trânsito, Rubiomar avalia que nenhuma das alternativas apresentadas na campanha eleitoral resolverá o problema da mobilidade. “O que falta para Manaus são projetos coerentes e bem estudados. Não se pesquisa, não se tem a técnica necessária”, disse.
Maia citou como exemplo a ciclovia do Boulevard Álvaro Maia. “Não foi feita dentro das técnica necessárias, são se teve pesquisa, não se teve estudo. Ai foi implantado e não funcionou. Eu estou dando exemplo da ciclovia, mas isso se repete em vários cenários da cidade”, declarou.
Outro exemplo apontado por Rubiomar é o projeto do BRT que, segundo ele, está sendo implantado em local indevido. “O BRT é um bom projeto, mas está sendo implantado num local onde a densidade populacional é baixa, no caso a zona leste. Se houver uma explosão demográfica e começarem a verticalizar aquela zona, acabou o BRT, que está sendo projetado por dez anos e não vai durar cinco. É preciso se pensar corretamente Manaus”, disse.
Para Rubiomar, o BRT não é a solução. “Aconteceu isso há 10 anos, em Bogotá. Eles diziam que o BRT iria durar 20 anos, não durou dez. Eles tiveram que partir para o metrô. Em Curitiba, por exemplo, disseram que o BRT seria a solução, mas não deu certo. Hoje, eles estão tendo que fazer para o metrô porque o BRT não comporta mais, é uma pista segregada e essa história de que é barato, não existe. O que é barato no BRT é a construção das vias, mas e as desapropriações? Não pode ser feito o BRT numa pista já existente. Quando satura um sistema desses, não tem saída porque diminui a velocidade do translado. No início, tudo é muito bom, mas depois vai saturando o sistema”, explicou.
Alternativa
Conforme o especialista, uma das opões para Manaus é a implantação de um VLT ( Veículo Leve sobre Trilhos). “É muito mais barato, além de não ser necessário escavações. As escavações, por si só, oferecem muito risco devido ao lençol freático, devido as águas da nossa região que são complicadores para o projeto de metrô, a lém de encarecer o projeto. Tem que ser um projeto muito bem estudado, planejado, com paradas a cada 4 quilômetros para que o VLT tenha velocidade de cruzeiro. Não vai adiantar se pensar em fazer esse projeto com paradas a cada mil metros”, disse.
Nesta semana, grupos de ciclistas se mobilizaram para chamar atenção aos meios de transportes não motorizados como a bicicleta. Os ciclistas reconhecem que a falta de estrutura como ciclovias e planejamento das vias urbanas, além da falta de educação no trânsito, inviabilizam esse modal urbano. “É necessário que as autoridades de trânsito de Manaus desenvolvam e coloquem em práticas políticas públicas para garantir um sistema de circulação urbana melhor. É preciso tirar do papel a construção das ciclovias com padrões de segurança. É preciso também investir em educação no trânsito porque os motoristas amazonenses que deveriam respeitar e até mesmo proteger os ciclistas, como determina o Código de Trânsito, tenham um comportamento diferente tanto com ciclistas quanto com os pedestres”, disse Cláudia Oliveira, uma das coordenadoras do Grupo Pedala Manaus.
Sem carro
O confeiteiro Fredson Henrique Lima revelou que aposentou e passou a usar a bicicleta. “Eu comecei a usar a bike por motivos de saúde, perdi peso e melhorei minha qualidade de vida. Optei por deixar o carro em casa porque o trânsito da cidade está caótico”, disse. “Antes, eu lavava uma hora para chegar ao trabalho, hoje levo 20 minutos. Mas existem fatores contras como a falta de segurança no trânsito, de estrutura para parar a bicicleta. Tem ainda o calor da cidade que é grande e, quando você chega no seu trabalho, está sujo, suado. Então, ao mesmo tempo que tem vantagens tem algumas coisinhas para melhorar”, disse o confeiteiro.
Só no Centro
Dois projetos exclusivos para os ciclistas em Manaus já estão sendo implantados. O sistema de bicicletas compartilhadas e as ciclorrotas funcionarão restritos ao Centro. Os chamados Manôbikes são estações, 11 no total, de compartilhamento de bicicletas. Poderão ser utilizadas as 6h às 23h, inclusive aos domingos. As estações serão instaladas no Colégio Militar, na Praça do Congresso, Beneficente Portuguesa, Teatro Amazonas, Galeria Espírito Santo, Praça Dom Pedro II, Praça da Matriz/Eduardo Ribeiro, Praça Heliodoro Balbi, Mercado Municipal Adolpho Lisboa, Igreja N.S. dos Remédios e Parque Jefferson Péres.
Será disponibilizado um aplicativo para cadastro do usuário, que deverá adquirir um passe diário no valor de R$ 5 ou o mensal de R$ 10, sem a necessidade de pagar valor adicional desde que use de acordo com as regras do projeto. O uso pode ser de 60 minutos ininterruptos, quantas vezes por dia o usuário desejar, desde que respeite o intervalo de 15 minutos entre as viagens. Aos domingos e feriados, o uso passa a ser de 90 minutos.
A expectativa é que o projeto seja entregue até o final do ano, juntamente com a fase piloto da rede de ciclorrotas.