Por Artur Rodrigues, da Folhapres
SÃO PAULO-SP – Os projetos do presidente Jair Bolsonaro (PSL) que afrouxam a fiscalização de trânsito são reprovados pela maioria da população, segundo pesquisa Datafolha. A proposta de acabar com a multa para quem transporta crianças de até sete anos sem cadeirinhas nos veículos é a que tem maior oposição, de 68% dos entrevistados. Pelo projeto de lei do presidente, a penalidade pecuniária seria substituída por uma advertência por escrito.
Bolsonaro
ainda prometeu acabar com radares de velocidade nas rodovias, o que é reprovado
por 67% dos que responderam à pesquisa. Uma parcela também majoritária, embora
menor, é contrária ao plano de aumentar de 20 para 40 o limite de pontos da
carteira de habilitação: 56%.
A pesquisa foi realizada nos dias 4 e 5 de julho, com 2.006 pessoas acima de 18
anos, em 130 municípios. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para
mais ou para menos.
Em junho, Bolsonaro entregou ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), projeto de lei com uma série de modificações do CTB (Código de Trânsito Brasileiro) que diminuem a chance de condutores serem multados. A medida foi um aceno de Bolsonaro a parte de seu eleitorado, principalmente os caminhoneiros.
Na época, ele afirmou que quem reclama das propostas “que procure um taxista, motorista de caminhão, quem vive no trânsito, (que) às vezes com um pequeno descuido perde a carteira de trabalho”.
Os itens citados, contudo, não são apoiados pela maioria das pessoas com carteira de motorista – no país, são 72,4 milhões. Entre os entrevistados que possuem habilitação, 70% são contrários ao fim da multa pela falta de cadeirinha e 58% desaprovam ao plano de retirar radares das estradas.
Quanto ao aumento do limite de pontuação, os habilitados se dividem e ficam tecnicamente empatados -50% têm opinião contrária e 48% são favoráveis. Entre os que declararam voto em Bolsonaro, 52% são a favor da duplicação do limite de pontos antes da suspensão da carteira, e 45% não apoiam a mudança.
No
entanto, mesmo os eleitores bolsonaristas são contra a retirada dos radares
(58%) e não apoiam o fim da multa para as cadeirinhas (63%).
De forma esperada, os eleitores do rival de Bolsonaro no segundo turno das
eleições, Fernando Haddad (PT), são majoritariamente contra todas as medidas,
chegando a 79% de oposição na questão dos radares nas rodovias.
Levantamento feito pela Folha de S.Paulo mostrou que houve redução média de mortes de 21,7% nos quilômetros de rodovias federais em que o dispositivo eletrônico foi colocado. Bolsonaro é forte crítico do que chama de ‘indústria da multa’ por meio dos radares, mas não apresentou estudos técnicos para embasar suas declarações nem as medidas.
A família do presidente -o próprio Bolsonaro, a primeira-dama, Michelle e três dos filhos – recebeu ao menos 44 multas de trânsito nos últimos cinco anos, conforme a Folha de S.Paulo revelou.
A primeira-dama e o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) somam infrações que ultrapassam o limite de 20 pontos para o período de um ano –o que, em tese, acarretaria a suspensão do direito de dirigir. Entre os entrevistados, 21% afirmam que foram multados nos últimos 12 meses, contra 79% que responderam negativamente à pergunta.
De acordo com a pesquisa, a maior parcela dos entrevistados (41%) diz acreditar que as propostas para o trânsito feitas por Bolsonaro tornarão o trânsito mais violento. Para 36%, a situação continuará igual. Outros 20% afirmam que os projetos do presidente proporcionarão um trânsito mais seguro.
No estrato das pessoas que avaliam o governo como ótimo ou bom, 29% afirmam que as medidas tornarão o trânsito mais seguro, 24% dizem que vai ficar mais violento e 44% avaliam que não haverá mudança.
Os entrevistados com nível superior e com renda acima de cinco salários mínimos estão mais pessimistas -55% dos com maior grau de estudo e 49% das pessoas com renda maior dizem acreditar que a situação vai piorar.
Na divisão por religião, os católicos têm maior índice de pessoas que dizem que o trânsito vai ficar mais violento do que os evangélicos, base de apoio de Bolsonaro -43% contra 33%, respectivamente. Para 20% dos católicos e 23% dos evangélicos, as medidas melhorarão a segurança.
O projeto de Bolsonaro enviado à Câmara traz uma série de outras mudanças. O texto, por exemplo, acaba com a multa para condutores que guiem sem o farol baixo ligado durante o dia. O projeto também põe fim na exigência de exame toxicológico para a emissão e renovação da CNH para as categorias C, D e E (o que inclui veículos de carga e ônibus).
Mulheres de baixa renda são as mais excluídas do trânsito A pesquisa Datafolha mostra que a carteira de habilitação é mais rara entre as mulheres e pessoas com menor renda. Uma parcela de 39% dos brasileiros com 18 anos ou mais possui carteira de motorista. No caso das mulheres, o índice é de apenas 24%. Já entre os homens o percentual é de 55%.
A posse do documento aumenta proporcionalmente à renda. Entre as pessoas que ganham mais de 10 salários mínimos, o percentual alcança 80%. No extremo oposto, entre as pessoas com renda menor de dois salários, só 20% têm CNH.
O menor índice é das mulheres nessa faixa de renda, estrato em que só 9% possuem habilitação para dirigir (contra 37% dos homens na mesma situação). Das mulheres com renda familiar acima de cinco salários mínimos, 2 em cada 3 são habilitadas.