Por Iolanda Ventura, da Redação
MANAUS – Com frutos e peixes de grande potencial econômico, o Amazonas ainda não soube aproveitar a riqueza desses recursos naturais para produção em larga escala. Dependente do polo industrial da ZFM (Zona Franca de Manaus), o estado perde mercado e visibilidade. Mesmo sendo grande produtor de guaraná e com peixes apreciados na culinária como o tambaqui e o pirarucu, o estado não é referência econômica com o aproveitamento comercial desses alimentos.
Também produtor de açaí, a fruta deverá projetar Belém como capital nacional desse produto nativo da Amazônia. A menção está em um recente projeto de lei, o PLS 26/2018, de autoria do ex-senador Flexa Ribeiro. Embora seja um título simbólico, a iniciativa serve para atrair investimentos. No mês passado, no Primeiro Festival Tambaqui da Amazônia, seis toneladas do peixe foram assadas na Esplanada dos Ministérios em Brasília para, segundo o secretário de Aquicultura e Pesca do Ministério da Agricultura, Jorge Seif, dar destaque ao tambaqui de Rondônia.
Dados da Produção Nacional do Açaí, publicados pelo Sebrae em 2015, apontaram que o Amazonas foi responsável por 25,1% no mercado nacional de produção de açaí com 50.790 toneladas, o que gerou uma receita de R$ 93,4 milhões ao estado. É o segundo maior produtor de açaí do Brasil.
De acordo com o Idam (Instituto de Desenvolvimento Agropecuário do Amazonas), somente em Codajás (a 240 quilômetros de Manaus) em 2018, a produção chegou a 18 mil toneladas, o que movimentou R$ 35 milhões e no Amazonas foram extraídos 69.005 toneladas no ano. Durante a safra do açaí, entre novembro e maio, o produto chega a render ao município R$ 200 mil por dia.
Apesar de ser oriundo da Amazônia, os EUA são o maior processador e exportador de produtos à base do fruto. Cerca de 30% dos alimentos que contêm açaí são lançados no mercado mundial pelo país e o Brasil representa 19%. Isto porque, conforme divulgado pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) em março deste ano, os Estados Unidos importam 77% do total exportado pelo Brasil.
Setor Primário
Essa baixa visibilidade é atribuída pelo secretário da Sepror (Secretaria de Produção Rural do Amazonas), Petrúcio Magalhães, à desatenção por parte das gestões ao setor primário. “Se focava muito no polo industrial que precisa ser defendido, mas é preciso diversificar, buscar outras alternativas”, diz.
Conforme o presidente da Faea (Federação da Agricultura e Pecuária do Amazonas), Muni Lourenço Silva Júnior, o estado tem enorme potencial na piscicultura e fruticultura. Porém, não possui autossuficiência entre a produção e o consumido pela população pois ainda importa produtos primários. “O maior desafio é o Amazonas diminuir essa dependência de importação de alimentos que é prejudicial em termos de evasão de divisas e aumento do custo da alimentação para a população”, afirma Muni Lourenço.
De acordo com o presidente da Faea, em algumas épocas do ano o Amazonas comercializa para outros estados açaí, laranja e castanha. “Segundo os últimos dados oficiais da Seplan (Secretaria do Planejamento, Indústria e Comércio), o setor primário representa 8% do PIB amazonense”, diz Lourenço.
Os municípios que mais se destacam na atividade primária estão localizados na região metropolitana de Manaus e no Sul do Amazonas. Já a piscicultura amazonense envolve mais de 300 empreendedores, sendo que o município com maior produção é Rio Preto da Eva, informa Muni Lourenço.
Pesquisa e indústria
O capital intelectual para a transformação de recursos naturais em produtos comercializáveis na indústria é abundante. Segundo a coordenadora de Extensão Tecnológica e Inovação do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), Noélia Falcão, o Instituto tem hoje 73 depósitos de patentes, destes 18 são concedidas e criadas a partir da biodiversidade amazônica. Além dessas 73, há outras que podem ser transferidas para empresas que queiram produzi-las em escala.
Apesar disso, o investimento por parte dos empresários nesse setor é baixo. “As empresas procuram a coordenação responsável, mas considero que ainda é uma procura bastante tímida, haja vista o número de produtos e processos disponíveis para serem licenciados”, diz Noélia Falcão.
Os pesquisadores Jaime Aguiar e Francisca Souza, que atuam na área de Ciência dos Alimentos, desenvolvem há mais de 20 anos produtos à base de frutas regionais como néctar, encapsulados, shake, barras de cereais e pães tudo à base de camu-camu, fruto rico em vitamina C e ácidos orgânicos.
Jaime Aguiar explica que outro produto desenvolvido, a farinha de cubiu, uma hortaliça usada para controlar o LDL, o mal colesterol, despertou o interesse de uma empresa para produção industrial.
Porém, o pesquisador explica que nem sempre os empresários procuram o Inpa para iniciar o processo de licenciamento da tecnologia como é o procedimento padrão. “Tem empresa que pega, porque os nossos trabalhos são publicados em revistas internacionais e nacionais, então é domínio público, e às vezes fabrica lá um troço e não paga os royalties para a instituição”, critica.
Conforme a pesquisadora Francisca Souza, ações desse tipo são ilegais. “Quando a gente pede patente, por exemplo, o néctar de camu-camu foi solicitado patente, então ele está sob a proteção do Inpa. Teria que passar por todos esses processos, mas a maioria não passa. O correto seria fazer essas etapas e vir pegar informações com o pesquisador”, diz.
ZFM
Apesar do potencial, o vice-presidente da Fieam (Federação das Indústrias do Estado do Amazonas), Nelson Azevedo dos Santos, alega que não há uma forma alternativa de renda que seja suficiente como a ZFM.
“Nós não temos no nosso estado, seja no setor mineral, agrícola, em qualquer piscicultura, fábricas de biocosméticos, nós não temos algo que seja capaz de dar uma resposta para os próximos 10 a 15 anos, para fazer um terço dos resultados que hoje dá o polo industrial de Manaus”, diz Nelson Azevedo.
Para Azevedo, o que falta para o setor primário é uma organização. “Nós temos uma variedade muito grande aqui na região que eu acredito que está faltando darem a prioridade necessária para que realmente venham essas novas matrizes econômicas para complementar o modelo Zona Franca de Manaus”, defende.
Nelson Azevedo acredita deve se adotar a estratégia de criar polos industriais nos municípios dando enfoque à atividade principal de cada um para levar o desenvolvimento ao interior. “Quem é o mais forte em piscicultura, no abacaxi, na laranja, onde é que concentra mais atividades que podem ser econômicas”, afirma.
Parabéns aos governadores do Pará e Rondônia pela visão e iniciativas de desenvolvimento econômico de produtos regionais. Enquanto que o Amazonas padece de iniciativa, outros estados tem para dar e vender. Mais muitos projetos não apreciados pelo fato da política amazonense do QUE É QUE EU GANHO COM ISTO.