Por Felipe Campinas, da Redação
MANAUS – Parlamentares federais do Amazonas ficaram divididos sobre a decisão do diretor-geral da Polícia Federal, Paulo Maiurino, de trocar o chefe do órgão no estado, Alexandre Saraiva, após notícia-crime apresentada ao STF (Supremo Tribunal Federal) contra o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.
O senador Omar Aziz (PSD) disse que o cargo de superintendente é um cargo de confiança de Paulo Maiurino e, até o momento, não sofreu ingerência política. No entanto, segundo o parlamentar, não é normal a demissão ocorrer logo após o chefe do órgão no Amazonas denunciar um ministro de Estado.
“Esse é um cargo de confiança do diretor-geral da Polícia Federal (Paulo Maiurino) e do governo, sem até agora ter ingerência política. Não é normal a forma como (Saraiva) foi posto para fora da superintendência da Polícia Federal do Amazonas, logo depois de denunciar o ministro do Meio Ambiente”, disse Aziz.
O deputado federal José Ricardo (PT) considerou a troca de comando como “a boiada passando”, em referência ao que disse Saraiva no início deste mês ao rebater Salles sobre supostas falhas em investigações da Polícia Federal. “É a boiada passando como eles estavam querendo”, disse Ricardo.
O parlamentar disse que é comum, no governo Bolsonaro, a demissão de funcionários de “fiscalizam de verdade” e contrariam interesses de grupos que apoiam o presidente. “É a cara do governo Bolsonaro. É a cara da devastação, do desmatamento, da agressão ao meio ambiente e aos povos indígenas”, disse.
Para José Ricardo, o enfraquecimento dos órgãos de fiscalização gera prejuízos ao país a nível internacional, pois afeta as relações com países que “sempre colocaram recurso a fundo perdido para ajudar em várias áreas ligadas a preservação e a qualidade de vida das populações tradicionais”.
O deputado federal Marcelo Ramos (PL) chamou Salles de “anti-ministro do Meio Ambiente” e disse que as denúncias contra ele “são graves e merecem ser apuradas com muito rigor pelos órgãos competentes”. Ramos afirmou que mais trágico ainda é a demissão do chefe da Polícia Federal “por ter feito seu trabalho”.
“Levando em conta que o ministro tem, até o momento, como legado à frente da pasta, diversas ações de desmonte de órgãos de fiscalização e o esvaziamento de recursos para esse fim, quando abriu mão do Fundo Amazônia, é preciso uma ação enérgica do governo federal”, afirmou Ramos.
Ainda de acordo com o parlamentar, o resultado da política de Salles “se reflete nos maiores indicadores de desmatamento desde 2012”. “Espero que governo não deixe para agir quando o mundo começar a impor barreiras comerciais aos produtos brasileiros, com a catástrofe instalada”, completou.
O senador Plínio Valério (PSDB) disse que as trocas de chefia de órgãos são frequentes e, por isso, ele não dá importância a essas mudanças. Questionado sobre o contexto da demissão de Saraiva, o senador disse que “esse é um lado da moeda, que tem dois lados” e que trata-se de uma questão interna, que ele respeita.
O senador afirmou que já se posicionou contra a intromissão do STF (Supremo Tribunal Federal) no Senado. Mais recentemente, disse que o ministro Luís Roberto Barroso, que mandou o Senado instaurar a CPI da Covid, “se julga um semideus” e “não tem esse poder todo que pensa ter”.