
Por Feifiane Ramos, do ATUAL
MANAUS — A popularidade das motocicletas cresce em Manaus. O veículo concilia agilidade no trânsito e economia de tempo e combustível no deslocamento urbano. Com a expansão da frota aumenta também a exposição de motociclistas a riscos de acidentes.
Por sua própria engenharia mecânica, a moto tem apenas duas rodas, e é mais vulnerável. Mas muitos motociclistas ignoram essa vulnerabilidade e abusam da imprudência com manobras arriscadas e alta velocidade. Especialistas afirmam que a imprudência está ligada tanto à pressa quanto à falta de educação e conscientização no trânsito.
Dados do Detran-AM (Departamento Estadual de Trânsito do Amazonas) mostram que o número de motocicletas em Manaus passou de 223.646 em 2020 para 348.555 em 2025. Em todo o Amazonas o crescimento foi de 363.745 para 557.267 motos no mesmo período.
A emissão de CNH (Carteira Nacional de Habilitação) da categoria A também subiu 40%, refletindo mais condutores habilitados circulando nas ruas. Atualmente, Manaus tem 43.413 novas habilitações, enquanto o total estadual é de 66.747.
Agilidade, liberdade e risco
“Hoje, o motociclista tem que ter a consciência de que ao sair de casa ele está pilotando a motocicleta e colocando a vida dele em risco a todo momento”, afirma Elvis Gomes, instrutor da Yamaha. Participante do Pit Stop Educativo para motociclistas promovido pela Abraciclo, entidade das empresas fabricantes de motos em Manaus, ele lembra que muitos condutores ignoram a vulnerabilidade do veículo.
“A imprudência dos nossos motociclistas é devido a não ter uma educação adequada na hora de tirar a habilitação. Hoje, tirar a habilitação é um processo curto, com muita teoria e pouca prática”, disse ao ATUAL.
Marco Frazão, supervisor do Centro Educacional de Trânsito Honda, reforça que o problema está no condutor, não na moto. Segundo ele, a responsabilidade é única e exclusiva do motociclista. “A moto sozinha não vai para lugares de risco, é o comportamento inadequado, a vontade de chegar mais rápido, a falta de planejamento. Isso, combinado com a falta de conscientização, leva aos acidentes”. Segundo ele, a necessidade de velocidade para manter o equilíbrio do veículo é muitas vezes ignorada: “Eles estão excedendo a velocidade e se envolvendo em acidentes”.
Elvis Gomes complementa que o desejo por agilidade e economia contribui para a imprudência: “Muitas pessoas compram moto para ter agilidade no dia a dia. É uma economia e facilita no trânsito, mas grandes poderes exigem grande responsabilidade. Quem não tem maturidade ou conhecimento em pilotagem segura acaba cometendo erros que podem ser fatais”, alerta.
Educação e segurança
Os instrutores afirmam que o uso de equipamentos de segurança e o respeito às normas de trânsito são indispensáveis para evitar acidentes. “O motociclista sempre tem que botar a vida dele em primeiro lugar. Capacete, luvas, jaqueta e seguir à risca todas as normas de trânsito”, orienta Gomes. Frazão acrescenta: “É importante mostrar, através de eventos, o modelo de velocidade adequada para não se envolver em acidente, e também a diferença que a velocidade faz na distância de frenagem”.
O cabo Souza, do BPTran (Batalhão de Policiamento de Trânsito), cita que a imprudência continua sendo o principal fator de acidentes. Ele diz que a experiência e a atenção do condutor são essenciais.

“A principal causa dos acidentes é o descumprimento das normas. A pressa, a vontade de chegar rápido, combinada com imprudência e imperícia, aumenta muito o risco. Quanto mais você acelera, mais perigoso a pilotagem se torna”, disse.
E acrescenta: “O trânsito é muito dinâmico e, durante a pilotagem, várias coisas estão acontecendo ao seu redor. Quanto maior a velocidade, mais tempo você requer para frear ou desviar de um obstáculo”. Segundo ele, blitzes e operações educativas têm caráter preventivo: “Estamos coibindo a prática de direção incorreta. As multas têm um caráter educativo, não só punitivo”.
Experiências
A rotina de quem depende da motocicleta para trabalhar mostra na prática os riscos mencionados pelos instrutores. Anderson Rafael, de 41 anos, motociclista de aplicativo, lembra que só passou a usar a moto para delivery e transporte de passageiros após ser demitido como segurança durante a pandemia.
“Em 2011, logo depois de um turno diurno como vigilante, fui fazer mototáxi à noite e acabei sofrendo um acidente. Um carro vindo na contramão, com o motorista embriagado, me atingiu. Eu já tinha descansado, jantado, estava atento”, relatou.
Desde então, segundo ele, aprendeu a pilotar de forma estratégica pensando não apenas na própria segurança, mas também na dos outros: “Eu piloto por mim e pelos outros. Observo não apenas meu caminho, mas o comportamento de outros motoristas para evitar acidentes. Aqui em Manaus percebo que muitos não respeitam o espaço do motociclista, fecham a gente e não mantêm distância. É preciso atenção constante”.
Ele também critica a pressa excessiva de entregadores e trabalhadores de aplicativo: “Alguns usam a moto como meio de sustento, mas também como uma forma de se apressar demais, esquecendo que podem se acidentar ou machucar outros. Isso não afeta só o trabalho, mexe com a vida de famílias inteiras”.
Rossicleia Parente da Silva, de 26 anos, que trabalha como entregadora e transportadora de passageiros por aplicativo, compartilha impressões semelhantes. Com mais de um ano de experiência, enfrenta diariamente o trânsito intenso, especialmente nos horários de pico.

“Minha rotina é bem cansativa. Sol, trânsito pesado, estudantes e veículos por todos os lados, principalmente de manhã e à tarde, é carregado”, diz. Ela escolheu trabalhar com a moto para conciliar emprego e cuidados com os filhos.
Mesmo após um acidente leve, quando um motociclista bateu na traseira de sua moto, ela passou a dirigir com mais cautela: “Depois do acidente, sempre olho com cuidado antes de cruzar, mesmo que não seja uma parada total. Hoje dirijo com atenção redobrada porque sei que outros motoristas estão cada vez mais imprudentes”. Rossicleia diz que a pressa domina muitos condutores: “Hoje em dia, a pressa está dominando as pessoas. Elas querem chegar rápido, sem pensar na segurança”.
Prevenção
Dados do IMMU (Instituto Municipal de Mobilidade Urbana) mostram que, entre janeiro e 1º de setembro de 2025, houve 167 mortes no trânsito de Manaus, uma redução de 29% em relação às 236 registradas no mesmo período de 2024. Entre motociclistas, o número de vítimas fatais caiu de 104 para 79 registros.
Para os especialistas, a combinação entre fiscalização, educação e infraestrutura de trânsito é a chave para reduzir acidentes e salvar vidas. A motocicleta oferece agilidade e economia, mas exige consciência, cautela e respeito às normas. O equilíbrio entre liberdade e responsabilidade é essencial para garantir que o crescimento da frota não continue aumentando o número de acidentes e mortes.
Em 2024, os acidentes com moto resultaram em 325 mortes no Amazonas, sendo 195 óbitos hospitalares de motociclistas. As vítimas foram predominantemente jovens de 19 a 30 anos, segundo a SES- AM (Secretaria de Estado de Saúde)