Por Felipe Campinas, da Redação
MANAUS – A Polícia Civil do Amazonas indiciou o motorista de ônibus José Roberto de Oliveira, de 52 anos, pelo crime de homicídio qualificado por motivo fútil praticado contra o passageiro Alzimar Leão Lobato, que tinha 44 anos. O crime ocorreu no dia 22 de março em uma rua do bairro Morro da Liberdade, na zona sul de Manaus. O desentendimento que resultou na morte do passageiro foi motivado por xingamentos à mãe do motorista.
O relatório policial – ao qual o ATUAL teve acesso – que indicia José considera os depoimentos do próprio motorista, que confessou ter desferido um golpe com uma faca contra o passageiro, e de funcionários de uma oficina mecânica que viram José agredir Alzimar com um tapa e depois com uma facada na região do peito, “na direção do coração da vítima”.
Os investigadores consideram, ainda, as imagens do circuito interno do ônibus da linha 004, que mostra o início da discussão entre o motorista e o passageiro dentro do veículo. Segundo a polícia, as imagens mostram que “foi mínima a conversa inicial da vítima com o autor e não visualiza-se a vítima [Alzimar] instigando e/ou chamado o autor [José] para briga”.
Em depoimento prestado no 2º DIP (Distrito Integrado de Polícia), na zona sul de Manaus, no dia 23 de março, José declarou que Alzimar, ao entrar no ônibus no Centro, perguntou se aquele veículo passava no bairro Colônia Oliveira Machado. O motorista confirmou, mas não explicou que o ônibus só passava pelo local quando estava no sentido bairro/Centro.
O motorista disse que o ônibus passou pelo bairro Colônia Oliveira Machado, mas quando estava em frente ao Colégio Adalberto Valle, no Morro da Liberdade, o homem, irritado, afirmou: “Tu é muito gaiato”. José, então, disse que aquele veículo só passava em frente a Bemol do bairro Colônia Oliveira Machado quando estava no sentido bairro/Centro.
Nesse momento, segundo José, o passageiro disse: “Que nada, tu é gaiato mesmo! Tu é um filho da puta!”. O motorista disse que respondeu: “Respeita minha mãe”. Em seguida, ainda conforme José, Alzimar afirmou: “Que nada! Tua mãe é uma arrombada!”. O motorista relatou que o passageiro o chamou para briga dizendo: “Desce aí se tu for homem”.
José narrou à polícia que desceu do ônibus e disse a Alzimar: “Repete aí o que tu falou da minha mãe”. Segundo ele, Alzimar respondeu: “Tua mãe é fudida, fuleira e arrombada”. O passageiro, então, foi para cima do motorista, deu um tapa no rosto dele e o segurou pelo pescoço. Nesse momento, José desferiu um golpe com uma faca no peito da vítima.
José afirmou que recorreu à faca “para tentar se soltar, pois estava sendo segurado pelo pescoço”. Ele também disse que “não tinha intenção de matar o passageiro”, que depois do fato, voltou a direção do coletivo e continuou a rota normal pois, ao retornar ao ônibus, vários passageiros o aguardavam.
O motorista disse, ainda, que somente depois de alguns minutos ficou sabendo da gravidade do ferimento que causou no passageiro. “Tanto é que logo depois do fato, continuou seu trabalho e entregou o coletivo no final da linha para o motorista que continuaria as viagens”, diz trecho do relatório policial.
José declarou que, após entregar o veículo no final da rota, disse a um colega de trabalho que achava que “tinha feito uma besteira”. Ele ligou para o Sindicato dos Rodoviários e foi orientado a ir até a sede da entidade. Depois, foi a um hospital particular no centro, onde teve uma consulta com uma médica, pois estava se sentindo mal.
No dia seguinte, o motorista foi até a delegacia prestar depoimento, onde declarou que apenas “se defendeu de uma agressão injusta” e que estava arrependido do que tinha feito. José afirmou, ainda, que andava com a faca que utilizava há muito tempo, sempre deixando ela sobre o painel do ônibus, para se defender de assalto.
Outras testemunhas ouvidas pela polícia declararam que ouviram a discussão. Eles verificaram que o passageiro tinha um golpe no peito, na região do coração. As testemunhas relataram que o homem chegou a ser levado para o SPA Zona Sul, na Colônia Oliveira Machado, mas não resistiu aos ferimentos e morreu.
José voltou à delegacia no dia 30 de março. Na ocasião, ele afirmou aos investigadores que “se reconhece nas imagens gravados pelo circuito interno do ônibus que registraram o momento em que se armou com uma faca”. O motorista, no entanto, disse que não sabe onde jogou a faca usada para golpear Alzimar.
A polícia pediu a prisão preventiva de José, mas o juiz Rafael da Rocha Lima negou o pedido. O magistrado considerou que o motorista de ônibus compareceu à delegacia e prestou depoimento e que não há indícios de que ele pretenda dificultar a investigação. Para o juiz, a prisão temporária do motorista, naquele momento, era “desnecessária”.