
Por Milton Almeida, do ATUAL
MANAUS – A criação do tambaqui em viveiros do Amazonas possibilita ao consumidor em Manaus saborear o peixe nos almoços de fim de semana. Sem a piscicultura da espécie, o popular tambaqui na brasa seria raridade na mesa, afirma Roger Crescêncio, engenheiro de pesca da Embrapa Amazônia Ocidental (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).
A piscicultura produz tambaqui mais barato e nas condições de consumo e quantidade suficiente para abastecer feiras, supermercados e restaurantes.
“Antigamente, a população de Manaus não era grande, portanto o consumo do tambaqui também não era. À medida que foi aumentando o número de habitantes, os barcos pesqueiros começaram a ir mais longe, para onde a concentração do tambaqui era maior, para pescá-lo. Com a instalação da Zona Franca [na década de 60], a população aumentou e o consumo do peixe também”, diz Crescêncio.
Em 1960, segundo o IBGE, a população de Manaus era de 175,3 mil habitantes, em 1970 era 314,1 mil e em 1980 chegou a 642,4 mil habitantes. Em 2024, a população é de 2.279.686 habitantes.
Segundo o pesquisador, sem o manejo sustentável do tambaqui e a criação nos viveiros o peixe seria considerado iguaria “somente para ricos” devido aos custos operacionais da pesca e à distância percorrida nos rios para capturá-los.
“Se houvesse somente tambaqui do rio, ele seria uma comida de luxo. Talvez comeríamos somente uma vez por ano. Então, é graças à piscicultura que nós temos esse peixe nos restaurantes, nos supermercados e até na marmita mais simples”, diz Crescêncio.
Ainda segundo Crescêncio, o tambaqui consumido em Manaus tem o padrão de três quilos, para que possa ser servido em bandejas padronizadas.
Dados do Idam (Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas), de 2023, informam que a produção do tambaqui em viveiros no estado foi de 14,1 mil toneladas e, em 2024, 17,4 mil toneladas, um aumento de 25%.

Para Alexandre Pucci, doutor em Biologia de Água Doce e Pesca Interior e pesquisador do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, em Tefé, o tambaqui sofreu uma “sobrepesca”
“O tambaqui é uma das principais espécies exploradas pela pesca na região. No início dos anos 2000, pesquisas identificaram sobrepesca do tambaqui em lugares como o Médio Amazonas, em Santarém e em municípios próximos a Manaus. Você encontrava tambaquis muito pequenos nos mercados, o que comprometia o desenvolvimento da espécie”, diz.
No estado, a maior produção de tambaqui em viveiros está no município de Rio Preto da Eva (a 79 quilômetros de Manaus) e a capital do Amazonas consome 400 mil quilos do peixe por ano, segundo relatório de 2022 da Sepa (Secretaria de Pesca e Aquicultura), vinculada a Sepror (Secretaria de Produção Rural do Estado do Amazonas).
“O nosso tambaqui, o que nós comemos em Manaus, vem daqui mesmo dos municípios do Amazonas. Mas a demanda é muito grande, não temos capacidade suficiente para atender o mercado local da cidade. Então, vem também de Roraima, de Rondônia, e às vezes chega alguns lotes do Mato Grosso”, diz Crescêncio.
Multiplicação dos peixes
Segundo o pesquisador da Embrapa, em cada tanque de um hectare (uma área de 100 metros de largura por 100 metros de comprimento) cabem dois mil tambaquis, o equivalente a seis toneladas, mas esse número pode aumentar para 20 toneladas com um método desenvolvido por pesquisadores da própria instituição.
“Usamos nos tanques a aeração artificial diária que é um sistema que permite maior produtividade que os sistemas convencionais de criação de tambaqui e, em consequência, maior rentabilidade por hectare”, diz.
Os aeradores são equipamentos elétricos idênticos a ventiladores que trabalham como se fossem chafariz. Ele pega a água do viveiro e fica jogando pra cima, fica movimentando a água para aumentar a capacidade de oxigênio na água, explica Crescêncio.
“Você consegue botar mais peixe no mesmo espaço e mais do que triplica a sua produção. Você não precisa desmatar nada, não tem que aumentar um tanque nem nada. E esses peixes crescem com a mesma qualidade”, diz o pesquisador.