Por Nicola Pamplona, da Folhapress
RIO DE JANEIRO – A Petrobras desistiu de vender uma fábrica de fertilizantes em construção no Mato Grosso do Sul ao grupo russo Acron, interrompendo finalmente uma negociação que se estende por anos e já foi dada como fechada pelo governo.
A unidade, que reduziria a dependência brasileira de ureia e amônia, está com as obras paralisadas desde 2015, quando a Petrobras rompeu contrato com o consórcio construtor, formado pela chinesa Sinopec e pela construtora Galvão Engenharia.
Orçada inicialmente em R$ 3,2 bilhões, a obra está com avanço de 82%, e foi projetada como parte de um grande plano dos governos petistas para ampliar a produção nacional de fertilizantes, que acabou ficando no papel.
Em comunicado, a Petrobras disse que o plano de negócios proposto pela Acron impossibilitou as aprovações governamentais necessárias para a transação. A companhia afirmou ainda que lançará um novo processo de venda da unidade.
As negociações com a Acron se arrastam desde 2019 e já haviam sido interrompidas naquele mesmo ano por dificuldades na obtenção de gás boliviano para abastecer a fábrica em meio aos distúrbios políticos que levaram o ex-presidente Evo Morales a se exilar no México.
O governo da Bolívia e a Acron já haviam assinado acordo para a venda de 2,2 milhões de metros cúbicos de gás por dia a partir de 2021, em contrato que renderia ao país vizinho ao menos US$ 20 milhões (cerca de R$ 85 milhões), mais uma participação de 12% na fábrica de Três Lagoas.
Também acordaram a criação de uma empresa conjunta para vender ureia -um dos fertilizantes nitrogenados- boliviana para o mercado brasileiro. Na época, o negócio foi comemorado por Morales como “um novo passo para seguir avançando na diversificação” da indústria de gás do país.
Em fevereiro deste ano, a estatal disse que havia chegado a um acordo com a Acron para as minutas contratuais da venda, depois que a então ministra da Agricultura, Tereza Cristina, comentou em um evento que a compra havia sido fechada.
O anúncio foi feito antes da visita do presidente Jair Bolsonaro à Rússia. O governante brasileiro se encontrou com Vladimir Putin dias antes do início da guerra na Ucrânia. O conflito e as sanções a empresas russas acabaram se tornando novos obstáculos à operação.
Com a guerra, o fornecimento de fertilizantes ao agronegócio brasileiro passou a ser motivo de preocupação do governo. O Brasil importa cerca de 85% de sua demanda de fertilizantes e, deste total, 23% vinham da Rússia.
A fábrica de Três Lagoas teria capacidade projetada de produção de 3.600 toneladas de ureia por dia e de 2.200 toneladas de amônia por dia.
O programa de ampliação da produção de fertilizantes do governo Lula previa outra unidade da Petrobras, em Uberaba (MG), mas as obras também foram paralisadas após o início da Operação Lava Jato. Depois, a estatal decidiu sair do segmento.
Duas de suas fábricas de fertilizantes nitrogenados, localizadas na Bahia e em Sergipe, foram arrendadas para a Unigel, que atingiu a capacidade máxima das unidades em agosto. Outra fábrica da Petrobras, no Paraná, está fechada desde março de 2020.