Do ATUAL
MANAUS – A pouca pesquisa sobre questões amazônicas, as dimensões territoriais da região e a biodiversidade ainda desconhecida motivaram pesquisadores a reivindicar uma “readequação” do Fundo Amazônia. O pedido é para direcionar mais recursos para a ciência.
A reivindicação ocorreu no debate “Fundo Amazônia e a Estratégia de Desmatamento Zero em 2030”, na 76ª Reunião Anual da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), entre os dias 7 e 13 de julho, em Belém (PA).
“Na primeira reunião (do conselho em 2023) que definiu as estratégias do que seria beneficiado pelo Fundo Amazônia, não tinha absolutamente nada de ciência, nem uma linha”, diz a socióloga e representante da SBPC no conselho gestor do Fundo Amazônia, Edna Maria Ramos de Castro.
A conselheira afirmou que o fundo é fundamental para projetos de conservação da floresta, mas não contempla o financiamento de pesquisas científicas que deveriam orientar os projetos.
Ainda segundo Edna Castro, os participantes observaram a falta de referência à ciência e ao final foi incluída uma menção breve e genérica entre os diferentes destinos dos recursos financeiros. “Mas até agora, depois da retomada do fundo (em 2023), não houve nenhum edital para C&T (Ciência e Tecnologia) e também parece que não tem nada previsto de imediato”, diz Edna Castro. Ela diz que o financiamento deve contemplar a biologia, as ciências exatas e humanas.
A pesquisadora também questionou o enfoque dos projetos financiados atualmente, que prioriza o estudo de cadeias produtivas que acabam promovendo o desmatamento como o transporte de gado e soja pelos portos da região. “Precisamos de pesquisas mais interdisciplinares”, diz.
Para Adalberto Luís Val, do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), é necessário criar um fundo amazônico para o desenvolvimento econômico e social envolvendo todos os países que abrigam a floresta.
“Vivemos num bioma único e, portanto, todos nós, todos os países amazônicos, devem ter na realidade um processo de investimento que sustente o desenvolvimento científico e tecnológico da região”, afirma.
Adalberto Val chamou a atenção também para a necessidade de financiamento de pesquisas e projetos que conectem os jovens às suas regiões, pois boa parte deles acaba partindo para outras regiões ou países quando concluem seus estudos. “Precisamos pensar em coalisões criativas na pan-amazônia (países que têm a floresta amazônica em seu território)”, complementou.
O geógrafo Francisco de Assis Mendonça, da UFPR (Universidade Federal do Paraná), comparou o Fundo Amazônia a Plataforma Floram-Aziz Ab’Sáber, uma iniciativa conjunta do IEA-USP (Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo) e a SBPC que tem por objetivo a formação de gestores e pensadores dedicados à restauração das paisagens e biomas brasileiros.
“A plataforma Floran tem tudo a ver com essa ideia de Fundo Amazônia, tem tudo a ver com o desmatamento zero”, disse Mendonça.
Embora a grande preocupação hoje no Brasil e no mundo seja conter o desmatamento da Amazônia, a proposta da Floram é “reflorestamento do Brasil”. A plataforma foi idealizada pelo geógrafo Aziz Ab’Saber (1924-2012), que previa a aceleração da degradação da paisagem décadas atrás.
“Há 40 anos ele (Ab’Saber) dizia que o Brasil sozinho não vai conseguir reconstituir suas paisagens, reconstituir a sua vegetação, seus biomas, porque não terá a capacidade económica, não terá investimento com a responsabilidade e capacidade, portanto é preciso abrir esse leque”, afirmou Mendonça.