Da Redação
MANAUS – A população de botos em trecho de mil quilômetros entre os rios Amazonas e Solimões nas fronteiras do Brasil com o Peru e a Colômbia é de 400 cor-de-rosa e outros 300 da espécie tucuxi. Os números são preliminares, serão analisados para identificar a presença desses mamíferos na região e foram catalogados por 11 pesquisadores da expedição Iniciativa para os Botos da América do Sul (SARDI, da sigla em inglês). A pesquisa teve participação do Instituto Mamirauá (Brasil), WWF Brasil, Fundação Omacha (Colômbia), e Solinia (Peru).
O objetivo do projeto a longo prazo é verificar se a população dos cetáceos de água doce, o boto-cor-de-rosa (Inia geoffrensis) e o tucuxi (Sotalia fluviatilis), estão em número estável, declínio ou aumento.
“A Amazônia tem rios com distintas categorias, como cor e química da água, vegetação, volume de recurso pesqueiro, e, portanto, é necessário amostrarmos diversos cursos d´água para termos um panorama mais completo das abundâncias de botos em toda a bacia”, disse Miriam Marmontel, líder do Grupo de Pesquisa em Mamíferos Aquáticos Amazônicos do Instituto Mamirauá, organização social fomentada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC).
Uma das curiosidades, relata Miriam, foi que no Peru e na Colômbia os cientistas avistaram mais boto-cor-de-rosa em comparação ao tucuxi, normalmente de mais fácil avistagem pelo comportamento de saltar.
Atualmente, o boto-cor-de-rosa sofre perigo de extinção, classificação dada pela lista vermelha de espécies ameaçadas da União Internacional para Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN, na sigla em inglês).
O grupo de pesquisadores também avaliou sinais de ameaças, como a presença de redes de pesca e indícios da pressão da caça de botos para usá-los como isca do peixe piracatinga. “Vimos poucas redes, sem grandes sinais de ameaça, o que é um bom sinal”, diz a especialista.
Em 1995, já havia sido realizada amostragem no trecho Iquitos-Santa Rosa, no Peru, na região da tríplice fronteira. A comparação com os dados atualizados permitirá aos pesquisadores verificar se há tendência de aumento ou declínio no número dos animais na área.
Da fronteira Santa Rosa-Letícia-Tabatinga até o destino final, em Santo Antônio do Içá, entretanto, foi a primeira vez que se coletou dados populacionais dos mamíferos aquáticos, preenchendo, assim, uma lacuna de informações.
Os especialistas da SARDI esperam que as informações obtidas na viagem, junto com a análise do monitoramento de deslocamentos de botos por satélite, realizado desde 2017, sejam levados em consideração para o desenvolvimento de um Plano de Manejo e Conservação (CMP, da sigla em inglês) para os botos de água doce da América do Sul.
A viagem começou no dia 9 de janeiro em Iquitos, no Peru, passou por Letícia, na Colômbia, e foi finalizada em Santo Antônio do Içá, no Brasil, no dia 18 de janeiro.