A Assembleia Legislativa do Amazonas (ALE) foi provocada pelo menos duas dezenas de vezes a tomar providências sobre o que acontecia em Coari nos últimos anos, mas nunca os deputados aliados do governador de plantão quiseram mover uma palha. Desde os casos de pedofilia praticados pelo agora ex-prefeito e condenado pela Justiça do Amazonas Adail Pinheiro até os recentes desmandos do prefeito em exercício Igson Monteiro, a ALE sempre fechou os olhos, mesmo diante das denúncias levadas ao plenário pelos deputados de oposição, que pareciam discursar para as paredes. Neste momento, em que se aproxima o fim do recesso forense, quando o Tribunal Superior Eleitoral deve publicar o acórdão da decisão que cassou o mandato do prefeito e do vice, para que o segundo colocado assuma o cargo, o líder do governador José Melo na ALE, deputado Sidney Leite (Pros), apresentou um pedido de intervenção e se movimenta para aprovar a toque de caixa a proposta, inclusive com a possibilidade de uma convocação extraordinária dos deputados. É, no mínimo, estranha e oportunista essa movimentação. Este ano, o orçamento estimado do município de Coari é de R$ 294,4 milhões, o maior depois da capital, e quase o dobro do segundo maior município do interior, que é Presidente Figueiredo, com R$ 153,7 milhões. É dinheiro que enche os olhos de qualquer candidato a interventor.
Magalhães e Melo
O segundo colocado na disputa para a Prefeitura de Coari em 2012, Raimundo Magalhães, é de um partido nanico, o PRB, comandado nacionalmente pela Igreja Universal do Reino de Deus. Nas eleições de 2014, ele apoiou a candidatura do governador José Melo. Igson Monteiro, o vice que assumiu a prefeitura desde fevereiro de 2014, depois da prisão de Adail Pinheiro, é do PMDB e apoiou o candidato Eduardo Braga. Por conta do apoio a Melo, Magalhães diz a aliados não acreditar em intervenção do governo do Estado.
Quem manda
Quem está mandando em Coari desde o início do ano é o irmão de Igson Monteiro, o vereador Iliseu Monteiro da Silva, o “Bat”. Ex-mototaxista, Bat assumiu a presidência da Câmara Municipal de Coari no dia 1º de janeiro deste ano. No dia 6, nomeou novos secretários e subsecretários, como prefeito em exercício. Nesta segunda-feira, ainda como prefeito em exercício, nomeou um novo secretário de Limpeza Pública.
Todo mundo dentro
A Prefeitura de Coari tem mais secretários do que qualquer município do Amazonas. A terra do petróleo tem 21 cargos de primeiro escalão (com status de secretaria). Entre os secretários estão o ex-deputado estadual José Lobo (Casa Civil), o ex-vereador Adão Martins da Silva (Agroeconomia), o ex-vereador José Henrique de Oliveira Freitas (secretário particular) e outro ex-vereador Evandro Rodrigues de Moraes (Coariprev). Derrotado quando concorria a reeleição, em 2012, Arnaldo Mitouso também foi nomeado secretário adjunto de Saúde no dia 6 de janeiro.
Onde estão os partidos?
Os apoiadores de Adail Pinheiro e Igson Monteiro, que os ajudaram a se eleger em 2012, sumiram neste momento de crise no município. O candidatos foram apoiados pelo PTB de Sabino Castelo Branco, pelo PMDB de Eduardo Braga e pelo PSD de Omar Aziz.
Verborragia de Braga
O ministro Eduardo Braga tem atuado muito mal nos primeiros dias à frente do Ministério de Minas e Energia. Toda vez que abre a boca, cria uma situação negativa para a própria imagem. Foi assim quando defendeu a presidente da Petrobras, Graça Foster; quando falou sobre a manutenção do preço da gasolina diante da queda de preço do petróleo no mercado internacional; e nesta terça-feira, quando falou sobre o apagão de energia elétrica ocorrido na segunda-feira.
Transparência Amazonas
O deputado estadual Marcelo Ramos (PSB), que deixa o cargo no fim deste mês, distribuiu convite nesta terça-feira para a assembleia de fundação do Instituto Transparência Amazonas. O evento será no dia 22 deste mês, quando será eleita a diretoria, conselho fiscal e aprovado o estatuto da entidade.
Filizzola responde
Depois de nota encaminhada pela Semtrad, secretaria municipal da qual é subsecretário, o sindicalista Vicente Filizzola ligou para a coluna para dizer que não tem pretensão de assumir qualquer cargo no governo do Estado. “Eu não estou procurando emprego. Estou muito bem empregado na Prefeitura de Manaus”, disse.