Por Everton Lopes Batista, da Folhapress
SÃO PAULO-SP – Uma possível fusão dos ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente, cogitada pelo presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), traria prejuízos para a produção agropecuária e para o ambiente, segundo participantes de debate no 2º fórum Agronegócio Sustentável, promovido pela Folha de S.Paulo nesta quarta-feira, 28, em São Paulo.
Para Luana Maia, coordenadora executiva da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, os dois ministérios devem seguir com autonomia, poder de decisão e escopos de atuação separados. Segundo ela, a união das pastas pode enviar um sinal negativo ao mercado exterior e causar perdas nos negócios.
A coalizão representada por Luana conta com 180 membros provenientes da academia, setor financeiro e produtivo. Fazem parte do movimento, por exemplo, a Abag (Associação Brasileira do Agronegócio) e as ONGs Conservação Internacional e Fundação Amazonas Sustentável. A organização já apresentou para a equipe de transição do novo governo um documento com propostas para o desenvolvimento da agricultura de baixo carbono. “Vamos dialogar com quem for preciso”, disse a representante.
O presidente da Aprosoja Brasil (Associação Brasileira dos Produtores de Soja), Bartolomeu Braz Pereira, também defendeu que os dois ministérios sigam separados. A possibilidade de uma junção ministerial já havia sido alvo de críticas do atual ministro da Agricultura, Blairo Maggi (PP-MT), e de Tereza Cristina (DEM-MS), anunciada no início de novembro como futura responsável pela pasta.
Encontrar o equilíbrio entre uma produção eficiente e a proteção ambiental é atualmente um dos maiores desafios para a expansão do agronegócio brasileiro. Responsável hoje por mais de 20% do PIB (Produto Interno Bruto) nacional, o setor tem na exportação grande parte de seu sucesso e pode vir a perder mercados mais exigentes caso interfira na conservação das florestas.
Dados divulgados no dia 23 deste mês pelo Ministério do Meio Ambiente e pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações mostram que o desmatamento na Amazônia cresceu 13,7% entre os anos de 2017 e 2018 em relação ao período anterior (2016-2017), atingindo quase 8 mil km² de floresta derrubada.
“Devemos muito ao agronegócio, mas ele ainda contribui significativamente para emissões dos gases do efeito estufa”, afirmou Luana Maia. De acordo com a especialista, o setor deve estar consciente de que danos ambientais prejudicam não só as vendas para mercados mais exigentes do exterior, mas também a própria produção interna, que é afetada por mudanças climáticas.
Segundo Bartolomeu Pereira, o Brasil já mostra para o exterior que tem condições de produzir com sustentabilidade. Ele citou como exemplo de ações neste sentido a incorporação do plantio direto, que diminui os prejuízos para o solo, e a Moratória da Soja, acordo firmado em 2006 entre associações do setor no qual as organizações se comprometeram a não comercializar nem financiar soja produzida em áreas desmatadas da Amazônia.
Mas, segundo Pereira, falta ainda apoio ao agricultor voltado para a preservação da área de reserva dentro das propriedades, previstas por lei. “Quem protege essas áreas somos nós, os produtores rurais, e ainda temos de fazer a propriedade ser rentável e lidar com as dificuldades de infraestrutura”, afirmou.
O seminário foi realizado no auditório da Folha de S.Paulo, com o patrocínio do Banco do Brasil. Os debates foram mediados pelos jornalistas Taís Hirata e Mauro Zafalon.