Por Iolanda Ventura, da Redação
MANAUS – O ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, afirmou na CPI da Covid, na manhã desta quinta-feira, que o aplicativo TrateCOV, desenvolvido pelo Ministério da Saúde, foi hackeado quando apresentado em Manaus em janeiro deste ano.
De acordo com Ministério da Saúde, o objetivo era que a ferramenta fosse usada por profissionais de saúde para agilizar o diagnóstico da Covid-19 através de um sistema de pontos. Pazuello afirmou que a plataforma foi invadida por hacker que alterou dados e os publicou em sites oficiais do governo federal. “Foi hackeado lá em Manaus, lá naquela apresentação”, disse.
“Ele foi hackeado, puxado por um cidadão. Existe um boletim de ocorrência, uma investigação, que chega nessa pessoa. Ele foi descoberto, pegou esse diagnóstico, alterou com dados lá dentro e colocou na rede. Quem colocou foi ele, tem todo o boletim de ocorrência”, disse.
Após a invasão, o aplicativo foi removido. “No dia que nós descobrimos que ele foi hackeado eu mandei tirar do ar imediatamente”, afirmou.
Pazuello disse que o aplicativo não chegou a ser usado. “O TrateCOV no final das contas nunca foi utilizado por médico nenhum. Ele não teve resultado objetivo algum, foi descontinuado”, disse.
O senador do Amazonas, Omar Aziz (PSD), presidente da CPI, ironizou afirmando que embora hackeada, a ferramenta foi divulgada e virou reportagem na TV Brasil, canal televisivo oficial do governo federal, que foi ao ar em 19 de janeiro.
“Esse programa que o ministro Pazuello fala que foi hackeado, ele foi hackeado e colocado na TV Brasil, para vocês terem uma ideia”, disse. “O hacker é tão bom que ele conseguiu colocar um programa, uma matéria extensa, na TV Brasil”, afirmou Omar.
De acordo com a matéria da TV Brasil, o médico preencheria um questionário com informações sobre o paciente e em seguida receberia sugestões de procedimentos disponíveis na literatura científica. O diagnóstico pelo TrateCOV seria sem o uso de tomografias, ressonâncias ou teste RT-PCR.
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A matéria informa que médicos e enfermeiros de hospitais públicos e privados da cidade estavam sendo cadastrados. Em depoimento nesta quinta-feira, Pazuello afirmou que quando foi apresentada, a ferramenta ainda estava em desenvolvimento. “Não estava completo, porque precisaria colocar todos os CRMs (registro que o médico deve possuir após obter o diploma) lá dentro, precisaria puxar para dentro dele todo o bojo de pessoas que poderiam contactar”, disse Pazuello.
O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), rebateu o ex-ministro. “No dia 6 de janeiro, a determinação de vossa excelência, formalizada em documento, era que o aplicativo fosse desenvolvido, não em desenvolvimento, fosse disponibilizado. Isso são fatos”, disse.
Omar Aziz questinou Pazuello sobre o uso do Tratecov para recomendar medicamentos sem comprovação contra o novo coronavírus. “Através desse programa o Ministério da Saúde recomendava cloroquina para gestantes e crianças. O senhor confirma isso?”. O ex-ministro negou. “Não”. Omar rebateu. “Há sim uma recomendação do Ministério da Saúde”, disse.
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