No mesmo dia em que Donald Trump foi eleito presidente dos EUA, completaram-se 50 anos da morte do beatle Paul McCartney. Pelo menos é o que afirmam os crentes na teoria da conspiração mais sinistra do rock conhecida como “Paul is Dead” (Paul está morto). Segundo a lenda, o astro dos Beatles teria falecido em um acidente de carro no dia 9 de novembro de 1966. Pela continuidade dos lucros, a indústria fonográfica decidiu ocultar a morte e promover a substituição do músico por um sósia, que finge ser McCartney até hoje.
De fato, no dia 9 de novembro de 1966, Paul sofreu um acidente de trânsito. A versão oficial é que foi de motocicleta e que o resultado teria sido apenas um dente quebrado e um corte (depois, uma cicatriz) no lábio superior.
Não foi o que realmente teria acontecido para alguns sagazes fãs. Para eles, naquela fatídica data, uma quarta-feira, após uma discussão com os demais integrantes da banda, Paul teria deixado o estúdio em Abbey Road bastante nervoso. Estava em alta velocidade em seu Aston-Martin e não prestou atenção a um semáforo. Não parou no sinal vermelho e acabou colidindo contra um caminhão, por volta das 5h. O veículo então teria explodido e Paul, decapitado.
Por causa do dinheiro gerado pelo grupo, executivos da gravadora decidiram montar a farsa da troca. Logo, foi convocado como substituto um músico que havia trabalhado nos filmes “A Hard Day’s Night” (1964) e “Help!” (1965) como dublê de Paul chamado Willian Campbell (ou Billy Shears).
Em seguida, foi anunciado que o quarteto não faria mais shows. A justificativa era que os músicos não conseguiam escutar o que tocavam devido aos gritos histéricos das fãs e que não era possível reproduzir ao vivo todos os arranjos e efeitos sonoros que implementaram nas gravações dos álbuns. Para os teóricos, a pausa foi para garantir tempo suficiente para as cirurgias plásticas que tornariam o sósia ainda mais parecido com McCartney e também para que o impostor, destro, se aprimorasse a tocar o baixo usando a mão esquerda.
John Lennon, George Harrison e Ringo Starr não foram totalmente coniventes e começaram a denunciar a tramoia, incluindo algumas pistas subliminares nas capas de discos e letras de músicas.
A começar pela fotomontagem da capa de “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Clube Band” (1967), o disco seguinte. Em cima da cabeça de McCartney, uma mão acena em um gesto de despedida. Além disso, na faixa “She’s Leaving Home” há um verso que diz “Wednesday morning at five o’clock”, o dia e a hora exata do suposto acidente de carro. Na última faixa do disco, “A Day In The Life”, a letra parece ser mais clara: “He blew his mind out in a car, he didn’t notice that the lights had changed” (Ele perdeu a cabeça num carro, não percebeu que o semáforo tinha mudado). Em “With A Little Help From My Friends”, antes da canção começar só se ouve um coro apresentando Billy Shears, referindo-se ao sósia.
As referências à morte de Paul estariam mais nítidas na capa de Abbey Road (1969). Os quatro Beatles aparecem em fila, como que encenando um cortejo fúnebre. John está de branco, representando o sacerdote. Ringo está de luto, é o amigo do defunto ou o agente funerário. George, usa roupa informal: é o coveiro. Paul caminha com os olhos fechados e é o único sem sapatos. Em muitas culturas, os defuntos são enterrados descalços. Nota-se também que o passo de Paul está descoordenado em relação aos demais, como se não pertencesse à procissão. Além disso, está fumando com um cigarro na mão direita. Estranho para quem era canhoto.
Em segundo plano, há um veículo preto estacionado à direita que parece um carro fúnebre. Há ainda um fusca (beetle, em inglês) branco com a placa “LMW” referindo-se às iniciais de “Linda McCartney Widow” ou “Linda McCartney Viúva” e, abaixo, “28 IF”, ou seja, ele completaria 28 anos se (if) não tivesse morrido aos 27.
“Eu só tirei uma foto descalço e uns malucos disseram que eu estava morto”, disse Paul (ou Bill) sobre a famosa lenda, antes de vir ao Brasil, em 2010, pela turnê Up And Coming. O primeiro concerto da turnê no País foi em Porto Alegre, no estádio Beira Rio, que é do Internacional.
Naquele ano do show, “Yesterday”, o Colorado foi campeão da Libertadores. Hoje, “Help!”, o clube gaúcho está prestes a deixar uma espécie de “Beatles do futebol brasileiro”: o quinteto de times que nunca foram rebaixados.
Não é preciso acreditar em teorias exóticas para descobrir que o time não prestou atenção à mudança dos sinais. Joga um futebol de sósia que não engana ninguém. Tão morto que show ou rock no Beira Rio só combina com o nome de uma banda brasileira: Sepultura.
Enock Nascimento escreve sobre esporte às quintas-feiras.
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