
Por Milton Almeida, do ATUAL
MANAUS – Dar à luz não é mero eufemismo para o parto. No interior do Amazonas, a falta de luz em comunidades de zonas rurais obriga parteiras a realizar o procedimento no escuro. Uma lanterna que funciona com energia solar vai ajudar a clarear o parto em comunidades indígenas e ribeirinhas.
As lanternas foram doadas pela Schneider Electric para o Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, que repassou ao projeto ‘Redes Vivas e Práticas Populares de Saúde: conhecimento tradicional das parteiras e a educação permanente em saúde para o fortalecimento da Rede de Atenção à Saúde da Mulher no Estado do Amazonas’, da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz).
“Os locais atendidos pelas parteiras não têm energia elétrica, estão longe das cidades, longe de um hospital ou unidade de saúde. Então, na hora de puxar barriga ou fazer um parto de última hora, precisamos de luz. Com a lanterna solar, economizamos gastos com pilha e evitamos os perigos de usar velas e lamparinas”, diz Raimunda Genilce, 56 anos, parteira desde os 15 anos de idade e moradora no município de Maraã (a 635 quilômetros de Manaus).
Não há um índice atualizado do número de parteiras no Amazonas, mas, segundo a Aptam (Associação das Parteiras Tradicionais do Amazonas), até 2024 havia 1,2 mil mulheres cadastradas na instituição.
“A maioria das parteiras tem de 40 anos para cima. É uma tradição familiar que passa de mãe para a filha. Hoje trabalhamos em conjunto com os agentes de saúde. O trabalho da parteira na comunidade começa quando a menina diz que está grávida, então começamos todo um acompanhamento até o dia de ter o bebê”, diz Maria do Perpétuo Socorro Rodrigues, presidente da Aptam.
O acompanhamento e os trabalhos de parto criam lanços familiares e de confiança entre a parteira e a grávida por gerações. “Aqui em Manaus também falta energia e você precisa de uma lanterna eficiente na hora de fazer um parto. Muitas mulheres querem ter o bebê em casa e tem mais confiança em nós do que no pessoal médico. Somente em casos extremos elas querem ir ao hospital quando sentem dor na barriga. Há muita confiança”, diz Niviany Batista, que é parteira e mora na zona leste de Manaus.
Segundo Júlio César Schweickardt, coordenador do projeto, o programa começou em 2016 com as parteiras dos municípios de Tefé, Tabatinga, Maraã, Parintins, Maués, Itacoatiara, Manacapuru, Manicoré e Manaus, e vai se estender para outras cidades.