Por Iolanda Ventura
Mariana e Brumadinho são as provas de que o Brasil é um país que espera para ver o que vai acontecer. Antes do rompimento das duas barragens, o assunto sequer passava por discussão até mesmo entre ambientalistas. Exceto, talvez, para as pessoas que moravam perto desses locais e todos os dias conviviam com o perigo iminente. Mas que valor tem a preocupação dos habitantes (muitos agora mortos) para uma empresa que movimenta bilhões de reais e dólares?
Na mesa da direção da Vale os assuntos são as ações na Bolsa de Valores, os investidores, concorrentes, qualquer coisa. Brumadinho? Mariana? Quem são? Mas isso mudou. Agora, não só sabem quem são, como já estão doando R$ 100 mil para quem perdeu os parentes. Esse é o valor de uma vida?
Vejamos: Vale perde R$ 71 bilhões em valor de mercado, Justiça do Trabalho determina bloqueio de R$ 800 milhões da Vale, Vale suspende pagamento de dividendos e bônus, Justiça bloqueia R$ 11 bilhões da Vale para ressarcir danos. Depois de ler isso é difícil acreditar que esses R$ 100 mil são preocupação, muito menos suficiente para pagar uma perda humana. Essas duas cidades “começaram a existir” depois que a empresa perdeu mais dinheiro do que poderia calcular.
E o governo? Agora o assunto é fiscalização de barragens para todos os lados. Para isso acontecer foram necessárias duas tragédias. Não. Mariana não foi o bastante. Precisou de Brumadinho também. Agora sim, quem sabe, façam alguma coisa. Por enquanto só podemos dizer: “Cuidado com a barragem!”.
Enquanto alguns países temem tsunamis, terremotos e outros desastres que não podem ser evitados, nós temos medo que algum engenheiro aceite suborno e deixe que o tsunami de lama leve as vidas, o trabalho, o ecossistema e tudo mais que encontrar pelo caminho. No Brasil, até os desastres que envolvem a natureza são consequências, de forma direta ou indireta, da corrupção.
(Iolanda Ventura é jornalista)