MANAUS – A crise gerada pela pandemia do novo coronavírus escancara velhos problemas da humanidade que há muito exigem respostas mais concretas e imediatas, mas que sempre os homens e mulheres com poder de decisão empurram para debaixo do tapete.
Um desses problemas é a desigualdade social, que empurra milhões de pessoas para a pobreza extrema.
Um relatório do Banco Mundial, divulgado em outubro do ano passado, dava conta de que a pandemia havia contribuído para aumentar a pobreza extrema no mundo pela primeira vez em mais de duas décadas, e que até 2021, a Covid-19 e a recessão global podem fazer com que até 150 milhões de pessoas caiam na pobreza extrema.
Extrema pobreza para as Organização das Nações Unidas significa viver com menos de US$ 1,90 por dia. Convertendo para a moeda brasileira, significa viver com menos de R$ 10,20 por dia, na cotação desta quarta-feira, 3.
Os números do Banco Mundial não contabilizam, por exemplo, os que vivem com menos de R$ 20 por dia, o que não significa uma vida muito diferente de quem vive com menos de R$ 10.
São essas pessoas que começaram a formar filas nas cidades brasileiras nos locais em que se distribui alimentação nos primeiros dias de 2021, quando boa parte da população brasileira perdeu o benefício do auxílio emergencial.
Até no ano passado, milhares de famílias no Brasil foram salvas da queda à extrema pobreza graças ao auxílio de R$ 600, inicialmente, e de R$ 300 nos meses finais de 2020.
Neste ano, o que se viu foi o aumento de pessoas em situação de rua. Muitos que moravam em imóveis alugados tiveram que deixar suas casas e passar a viver nas ruas. Sem casa, sem emprego, a alternativa é pedir e esperar por um gesto de caridade.
No Amazonas, os governos estadual e municipal de Manaus começam a pagar R$ 200 para um grupo de famílias, mas certamente não conseguem cobrir todos os que vivem em situação de risco social.
Os governos central e de outros Estados dizem não ter mais condições de pagar auxílios; as empresas diminuíram as ações que em 2020 resultaram em socorro às pessoas mais vulneráveis economicamente.
Preocupa cada vez mais a situação de abandono a que famílias inteiras estão mergulhando. Sem emprego, sem auxílio, sem comida, pessoas em Manaus se sujeitam a pedir um prato de comida nas portas dos hospitais, onde algumas instituições e pessoas oferecem ajuda a quem tem pacientes internados.
A quem compete socorrer as pessoas que estão abandonadas à própria sorte? Os liberais mais radicais acham que se trata apenas de um processo natural em que os mais competentes sobrevivem, enquanto os outros definham.
Não há solução possível com esse tipo de comportamento. E simplesmente deixar cair as migalhas das mesas dos mais abastados para alimentar a plebe também não é uma alternativa aceitável.
O acolhimento é a medida de urgência que se impõe, mas é necessário mais do que isso. É preciso começar a incluir os excluídos na sociedade, ou voltaremos aos tempos mais sombrios da história da humanidade.