O Brasil vive um momento de mudanças e a história nos dirá o alcance e a profundidade deste movimento. Por enquanto, o que se percebe nas redes sociais e nos debates do cotidiano é a insatisfação generalizada com a Democracia nos moldes fracassados da representação do interesse público. Essa mudança aparece, principalmente, na forma como as pessoas reagem a notícias diárias de escândalos com o dinheiro público e com a conduta dos políticos corruptos.
Nesse contexto, um fenômeno chama a atenção quando vemos lançamentos a pré-candidaturas de duas Instituições extremamente respeitadas pela população brasileira: Polícia Federal e Forças Armadas – Exército, Marinha e Aeronáutica. De certa forma, isso ilustra um caminho que o País procura. Infelizmente, alguns segmentos pressionam, a seu modo, pela tentação totalitária do golpe armado, o que não resolveria nosso problema. O sintoma da mudança está na iniciativa da sociedade civil, do envolvimento direto dos cidadãos com seus deveres-te e obrigações.
Os exemplos de pré-candidatos no âmbito da Polícia Federal denotam – provavelmente, pela vivência de combate tão intensa da criminalidade na classe política – assunção de atitudes na direção de participar mais ativamente da mudança. Isso significa integrar-se a um Brasil ávido por transformações, onde o cidadão busca fazer parte diretamente das decisões que afetam sua vida e a de todos nós.
No decorrer da execução da operação Lava-Jato, a Polícia Federal sofreu muitos ataques e tentativas de interferência, como vários projetos de leis nada republicanos, com o claro objetivo de ‘engessar’ a atividade policial e dificultar a persecução criminal. Daí a clareza de que não bastava apenas atuar coercitivamente. Seria necessário assumir o sentido original do termo política, ordenar a vida social, ter representantes no Legislativo com capacidade de resguardar e fortalecer a importância da atividade policial enquanto instância responsável pela ordem, pela moral e pelos bons costumes.
Ora, se a ação policial somente pode ser bem desempenhada com o respaldo legal, há de se ter um segmento parlamentar que assegure o pleno exercício das ações e obrigações da instituição policial. Só assim a classe irá em busca da aprovação da Proposta de Emenda Constitucional já existente e eternamente postergada a PEC 412/09, cujo objetivo é dotar a Polícia Federal de Autonomia Administrativa, Orçamentária e Financeira. E isso não interessa ao político corrupto.
Assim como os delegados federais, pelo menos 71 militares do Exército, da Marinha e da Aeronáutica lançaram pré-candidaturas a vagas no Congresso e no Executivo em 25 Estados e no Distrito Federal, cujo discurso tem como tema principal o combate à corrupção e o direito de militares se candidatarem a cargos eletivos. Até nosso estimado, respeitado e competente general, agora na reserva, Theóphilo Cals, credenciou-se a disputar o governo do Ceará.
A população cansada de sofrer, tenderá a receber com bons olhos essa sinalização de novos tempos e de engajamento político diferenciado. Hoje, o cidadão comum não se sente representado pelo Parlamento e esse desprezo à política levou o Brasil ao mar de lama em que vivemos. José Saramago, o admirável escritor português, considerado por muitos como a consciência da modernidade, assim se expressou: “Segundo a definição antiga, democracia é o governo do povo, para o povo e pelo povo, mas, na democracia de hoje, o que está ausente é o povo”. Porém, não adianta fugir da ilusão democrática. Só há um remédio para sobreviver ao caos: Participação ativa na política.
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