Neste final de semana, o Amazonas viveu dias de terror, violência e vandalismo. A população viveu momentos de tensão com incêndios, tiros e ameaças causados por grupos do tráfico de drogas em Manaus e em várias cidades do interior.
Nos ataques criminosos foram incendiados 15 ônibus, ambulância do Samu, diversos veículos de passageiros; cinco agências bancárias foram depredadas; instalações municipais, como escolas e praças públicas foram atingidas; delegacias foram alvejadas por tiros e granada; até UBSs foram atingidas, como ainda carro incendiado ao longo da Ponte Rio Negro.
Também tiveram atos criminosos nos municípios do Castanho, Iranduba, Manacapuru, Carauari e Parintins, levando medo e pânico para os moradores e fechamento do comércio. Em Parintins, foram atacados com tiros e incêndios delegacia, ônibus, UBS, escolas e veículos da polícia.
A polícia alega que estes atos foram em represália à morte de um chefe do tráfico por parte da Rocam. E, por isso, em todos os bairros de Manaus, atos de vandalismo e crimes foram praticados, e se ouviam fogos de artifício por toda cidade.
O resultado é que muitas atividades econômicas e serviços públicos foram paralisados. Nesta segunda-feira, parou todo o sistema de transporte coletivo e todos os órgãos públicos também não funcionaram, principalmente, escolas, como ainda a Câmara Municipal de Manaus (CMM) e Assembleia Legislativa do Estado (Aleam).
Este cenário amedrontador mostra a falência do sistema de segurança pública no Amazonas, que vem sendo sucateado nos últimos 30 anos pelo mesmo grupo político. Não tem um plano de segurança e plano de contingência neste momento. O governador Wilson Lima e a Aleam falam que vão convocar a Força Nacional para atuar no Amazonas. Ora, isto ocorrendo, o Governo confirma a inoperância na segurança pública e a incompetência em garantir segurança para a população.
Está na hora de ter um plano de segurança cidadã, de verdade, com investimento em tecnologia e inteligência para atuar na prevenção e na elucidação dos crimes; em corregedoria forte para tirar os policiais que se envolvem em crimes e valorizar os bons policiais; e, neste sentido, precisa ter um plano de cargos e salários decente, que se pague bem o policial e garanta benefícios e todo o apoio psicológico.
O secretário de Segurança disse hoje que o contingente é reduzido para atender o interior. Claro, há 10 anos, não realizam concurso público. Está na hora do governador cumprir a lei que já definiu o contingente, mas não fazem concurso. Precisamos de mais profissionais da segurança atuando, inclusive, na Polícia Técnica. Há anos, cobro investimentos para os Institutos de Criminalística (IC) e Médico Legal (IML).
O Governo Bolsonaro também não tem um Plano de Segurança para o país e para os estados. Prometeu na campanha política, mas nada fez pelo Estado. Inoperância total. E não prioriza recursos. Só quer colocar Forças Armadas nas ruas, como se fosse a solução. Isto não resolveu no Rio de Janeiro, não vai resolver no Amazonas.
Já o prefeito de Manaus diz que agora vai criar a Secretaria Municipal de Defesa, e quer armar a guarda municipal. Não sei se é a solução. Vai precisar garantir que os guardas tenham as condições adequadas para o uso das armas, na proteção do patrimônio público.
O prefeito pode ajudar muito para a segurança cidadã, se começar a cuidar dos bairros, construir escolas, espaços de esporte e cultura, projetos para crianças, adolescentes e jovens que evitem a inserção no mundo das drogas e eventual crimes. Esse é o papel da Prefeitura.
O mesmo pode fazer o governador. Isto se chama prevenção. Assim funciona nos países mais desenvolvidos. Segurança está muito associada à prevenção aos crimes, para evitar que aconteçam. E se acontecer, rigor na apuração e julgamento dos culpados. Assim se espera no AM, que o Ministério Público apure a atuação do Governo do Estado no enfrentamento do crime organizado e nas ações que efetivamente garantam segurança para a população.
Talvez seja hora de discutir melhor o que acontece em relação ao crescente consumo de drogas. O delegado João Victor Tayah chama atenção sobre esse assunto, pois trata-se de um grande negócio ilícito, que está nas mãos de grupos criminosos. E tem muita gente consumindo, mesmo sendo proibido. O que está acontecendo? No Amazonas, o povo está sofrendo com as mortes da pandemia, a falta de vacinas, a volta da fome e o crescente desemprego, as enchentes trazendo muita tristeza e prejuízo e, agora, a violência do tráfico de drogas.
O povo merece paz e segurança.
José Ricardo Wendling é formado em Economia e em Direito. Pós-graduado em Gerência Financeira Empresarial e em Metodologia de Ensino Superior. Atuou como consultor econômico e professor universitário. Foi vereador de Manaus (2005 a 2010), deputado estadual (2011 a 2018) e deputado federal (2019 a 2022). Atualmente está concluindo mestrado em Estado, Governo e Políticas Públicas, pela escola Latina-Americana de Ciências Sociais.
Os artigos publicados neste espaço são de responsabilidade do autor e nem sempre refletem a linha editorial do AMAZONAS ATUAL.