EDITORIAL
MANAUS – O senador Omar Aziz (PSD-AM) tem sido firme na defesa de suas próprias convicções no comando da CPI da Covid-19 no Senado, mas afrouxa a corda quando precisa apertá-la para evitar que os trabalhos da comissão caiam na vala do descrédito.
Dois fatos demonstram a afirmativa acima: o tratamento dado ao motivo apresentado pelo ex-ministro Eduardo Pazuello para não comparecer à CPI na data marcada, na semana passada, e o pedido de prisão do ex-secretário de Comunicação Fabio Wajngarten, na quarta-feira, 12, feita pelo relator da comissão, senador Renan Calheiros (MDB-AL).
No caso de Pazuello, para relembrarmos, um dos membros da CPI pediu que a comissão solicitasse os exames que comprovassem a infeção pelo novo coronavírus de militares com quem o ex-ministro da Saúde teve contato, o que o obrigou a cumprir quarentena de 14 dias.
O pedido foi negado pelo presidente Omar Aziz, sob o argumento de que já havia conversado com o comandante do Exército, Paulo Sergio Nogueira de Oliveira, que lhe deu garantias de que eram verdadeiras as informações sobre o contato de Pazeullo com militares acometidos de Covid-19.
A CPI precisa de alicerces fortes para produzir os efeitos que a sociedade espera, e palavras não ajudam a construir esses alicerces, principalmente palavras ditas longe dos ouvidos e olhos dos senadores que compõem a CPI. O documento solicitado serviria para provar que Pazuello não estava mentindo, ou para confirmar a mentira.
Omar Aziz, ao seu estilo, disse que tudo estava resolvido, porque já havia conversado o comandante do Exército.
Depois disso, Pazuello recebeu visita de um ministro da mais alta confiança do presidente Jair Bolsonaro e que foi escalado para atuar na defesa do governo junto à CPI da Covid. Se estava de quarentena, a visita não poderia ter ocorrido.
Agora, de acordo com o noticiário nacional, Pazuello prepara um habeas corpus que lhe garanta o direito de ficar calado na comissão. Antes da história de que teve contato com pessoas infectadas, o ex-ministro participou de treinamento para falar durante o depoimento na comissão.
Portanto, os fatos escancaram que o ex-ministro da saúde busca subterfúgio para fugir do depoimento à comissão.
Pazuello, para que ninguém esqueça, é a pessoa mais importante da investigação, porque comandou o Ministério da Saúde depois da demissão do ministro Luiz Henrique Mandetta e da saída do seu substituto Nelson Teich, por discordarem das decisões do presidente da República sobre o tratamento que deveriam dar à pandemia; e também por estar no comando do Ministério da Saúde no pior momento da crise sanitária, na segunda onda da Covid-19.
No caso do ex-secretário Fabio Wajngarten, Omar Aziz usou um exemplo pessoal para negar o pedido de prisão. Disse que ele e a família dele já sofreram na pele a injustiça de uma punição antecipada. Foi firme contra o relator Renan Calheiros, quando o senador alagoano insistiu na defesa da prisão do depoente por mentir à CPI.
Renan Calheiros advertiu que a impunidade iniciada naquele momento por Omar Aziz abriria um precedente perigoso para todo e qualquer depoente mentir ou omitir a verdade na comissão. E é exatamente isso que vai ocorrer, se nenhuma providência for tomada contra Fabio Wajngarten.
O presidente da CPI decidiu encaminhar ao Ministério Púbico Federal o depoimento de Wajngarten para a tomada de providências. Foi pouco.
Omar Aziz disse que a CPI não pode fazer justiça com fígado, mas também não pode e não deve agir com o coração.
É bom ver nosso Omar livre, né? Tão sereno, calmo, … Nem parece que foi investigado na maus caminhos… né?!?