
Do ATUAL
MANAUS – ‘O Alienista’, obra de Machado de Assis, será adaptado para o cinema em versão amazônica. ‘A Casa Verde’, cenário do clássico literário que tem como protagonista Simão Bacamarte, é o título do longa-metragem dos roteiristas Tércio Silva e Rafael Ramos.
As filmagens ocorrerão nas ruínas de Paricatuba, na Região Metropolitana de Manaus, local onde funcionou um antigo hospital de hansenianos.
Fundador da Buia Teatro Company, Tércio disse que o roteiro vai unir linguagens literária, teatral, mítica e cinematográfica. A ideia é produzir uma fábula crítica que incluem formigas que orientam sobre caminhos, peixes que caem do céu, árvores que falam, rituais de cura com ervas do rio e sonhos onde a água vira espelho.
“Esse projeto é mais que uma história sobre sanidade. É uma investigação visual, poética e política sobre os limites da razão ocidental, os apagamentos históricos e a força dos saberes ancestrais. Para nós, contar essa história é também um gesto de devolução: queremos que a Amazônia deixe de ser apenas locação e passe a ser linguagem, corpo, consciência”, disse o diretor e dramaturgo.
Tércio colaborou com o longa “O Rio do Desejo”, de Sérgio Machado (gravado em Itacoatiara com Sophie Charlotte e Daniel de Oliveira). É a primeira vez que se envolve diretamente em um roteiro de longa-metragem.
Em “A Casa Verde”, o protagonista, Dr. Bacamarte, é um médico negro e homossexual que luta contra traumas pessoais. Ele enfrenta o desafio de entender Lua, uma menina silenciada, que carrega no pescoço pequenas placas com frases como “Não confie em médicos”. O autor diz que a adaptação é uma homenagem a Machado de Assis.
Para Rafael Ramos, o filme no gênero realismo fantástico faz referências também a autores como Gabriel García Márquez, Isabel Allende e Alejandro Jodorowsky para mostrar uma Amazônia fantástica.
“A Casa Verde fala sobre o que a sociedade chama de loucura, mas trata da potência de quem ousa pensar diferente. É um filme sobre delírio, mas também sobre esperança”, disse.
Tércio e Rafael estimam concluir o roteiro em dois meses. O projeto foi contemplado pela Lei Paulo Gustavo no Edital nº 01/2023 – chamamento público para ações na área do audiovisual, promovido pelo Governo do Amazonas, por meio do Conec (Conselho Estadual de Cultura) e da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado.