Nossos jovens sentem que não possuem poder para mudar a realidade para melhor. Após contemplar a obra de Francis Aly’s, o Paradoxo da Práxis, onde ele afirma que “às vezes fazer alguma coisa não leva à nada” (https://francisalys.com/sometimes-making-something-leads-to-nothing/) cheguei a esta conclusão. O artista belga também me fez lembrar da nossa práxis amazônica, onde estamos constantemente dizendo da importância de ter turismo ou a produção de bionegócios. Entretanto, como o empurrador de gelo pelas vias, a prática do que temos feito não tem levado a nada. Pouco ou quase nada mudou na infraestrutura para o turismo em nossa região nos últimos anos, mas seguimos a falar que existe aqui um potencial para o turismo que deve ser desenvolvido.
Temos tido uma prática ineficiente. Faz décadas que falamos que o turismo é importante. Este hábito, como outros, têm levado a um costume da sociedade de apenas criticar e dizer que o governo deve “fazer algo”. Sempre alguém deve fazer algo. Estamos agora em uma fase onde dizemos que o outro deve fazer algo, mesmo que não seja o papel dele. A saída é falar mal do outro para afirmar que ele deve “fazer algo”.
Tem faltado uma autocrítica e uma percepção sobre o que cada um pode e deve fazer. Quais as ações que eu posso tomar em relação àquela realidade que almejamos, sem que seja meramente empurrar gelo na calçada? As novas gerações da região deveriam ter a liberdade mudar esta situação que historicamente nos incomoda, mas há entre eles (e todos nós) uma nítida sensação de falta de poder.
Esta falta de poder, que vem sendo cada dia mais tolhido pelas lideranças, que nos impõem um emaranhado de regras obtusas, incomoda a muitos de nós. Em razão disto vemos uma nova geração que gostaria que tudo fosse prescrito, dizendo para eles o que fazer. Chego a ver alunos de Engenharia (felizmente não são todos) querendo que as soluções técnicas surjam a partir de normas. Há uma ânsia por regras para resolver problemas, como se elas fossem suficientes para este propósito. Ou ainda com uma forte vontade de “padronizar” soluções, como se o mundo e as necessidades fossem facilmente padronizáveis.
É desolador ver quanto recurso e inteligências são desperdiçados. Precisamos urgentemente passar a realizar as transformações necessárias, unindo esforços de diferentes correntes filosóficas e criando espaços para todos realizarem as suas tentativas. Temos um país por construir, uma região por explorar, mas ninguém tem o mínimo interesse de aceitar o outro. Até quando seguiremos neste caminho, empurrando gelo pela calçada?
Augusto César Barreto Rocha é doutor em Engenharia de Transportes (COPPE/UFRJ), professor da UFAM (Universidade Federal do Amazonas), diretor adjunto da FIEAM, onde é responsável pelas Coordenadorias de Infraestrutura, Transporte e Logística.
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