EDITORIAL
MANAUS – Os envolvidos vão negar até o fim, mas a escolha do candidato a vice-governador para a chapa do governador Wilson Lima (União) – o procurador e ex-secretário Tadeu de Souza –, foi feita pensando quatro anos à frente, ou seja, nas eleições gerais de 2026.
Principal aliado do governador Wilson Lima nas eleições deste ano, o prefeito de Manaus, David Almeida (Avante), que lidera o mais forte e organizado grupo político no Amazonas atualmente, ganhou a prerrogativa de indicar o vice da chapa.
Caso reeleito, o governador Wilson Lima não poderá mais disputar o mesmo cargo e precisa deixar o governo seis meses antes do primeiro turno das eleições, em 2026. Neste caso, o vice se torna o governador.
É exatamente aí que reside o problema para a escolha de um vice, neste caso específico, porque o prefeito David Almeida tem pretensões políticas de disputar o Governo do Amazonas em 2026. E ter um aliado no governo é melhor do que ter um adversário na disputa eleitoral ocupando o carago de governador.
Hipoteticamente, David Almeida precisava de uma pessoa de sua inteira confiança, que lhe desse garantias de que não disputaria a reeleição caso se tornasse governador em 2026. Não há qualquer evidência de que David Almeida cobrou essa promessa e nem que Tadeu de Souza lhe deu essa garantia, mas esse tipo de acordo é comum em negociações políticas pré-eleitorais.
Tadeu de Souza é, sim, uma pessoa que tem a confiança de David Almeida e vice-versa. Portanto, entre os quatro nomes de seu grupo político que o prefeito apresentou como possíveis candidatos a vice, Tadeu é o que melhor se enquadra nesse perfil, tanto pela relação de confiança quanto por ser mais técnico do que político.
Mas a história recente da política no Brasil e no Amazonas mostra que o desenho feito quatro anos antes ou dois anos antes das eleições nem sempre chega intacto no ano da disputa. Geralmente chega desfigurado.
O caso mais recente foi do ex-governador José Melo. Secretário da mais inteira confiança do então governador Eduardo Braga (MDB), Melo foi indicado por ele para ser o vice de Omar Aziz (PSD). Era 2010, e Braga acabara de deixar o governo para seu vice Omar, que se tornou governador e concorreria à reeleição.
Melo era o nome perfeito para abrir caminho a Braga em 2014, quando tentaria voltar ao cargo de governador. Em 2010, Braga venceu a disputa por uma vaga ao Senado em chapa que tinha como majoritários ao Executivo amazonense Omar e Melo. Mas o ex-governador foi surpreendido por Melo quatro anos depois.
Ao receber o governo de Omar Aziz, que deixou o cargo para disputar vaga ao Senado, Melo quebrou o acordo que havia feito com Braga, bateu o pé, disputou a reeleição e venceu seu ex-chefe.
Quatro anos antes, em 2010, Omar Aziz também quebrou um acordo feito dois anos antes com Alfredo Nascimento (PL). Nas eleições de 2008, Alfredo apoiou a candidatura de Omar Aziz (que era vice-governador) para prefeito de Manaus. Um acordo costurado com Braga, Aziz e Nascimento, com as bênçãos de Lula, previa que em 2010, Alfredo seria candidato a governador com o apoio daquele grupo que disputava a prefeitura em 2008.
Ao sentar-se na cadeira de governador, Aziz também bateu o pé e disse que tinha o direito de disputar a reeleição. Alfredo Nascimento se tornou seu principal adversário na disputa e perdeu a eleição para o ex-vice de Braga.
Na Prefeitura de Manaus, as histórias dos vices são diferentes, e marcadas por brigas com os chefes do Executivo.
Em 2008, Amazonino Mendes venceu a disputa eleitoral e tinha como vice-prefeito o ex-deputado federal Carlos Souza. Um ano depois estavam brigados e Carlos Souza deixou o cargo depois de se eleger deputado federal em 2010. Nos dois últimos anos de mandato, Amazonino ficou sem vice.
Em 2012, Arthur Virgílio Neto (PSDB) escolheu como vice o promissor Hissa Abrahão. No fim do primeiro ano de mandato, Hissa foi demitido do cargo de secretário de Infraestrutura e se tornou desafeto de Arthur. Em 2014, disputou eleição e ganhou uma cadeira de deputado federal. Arthur também ficou sem vice nos dois últimos anos.
Na disputa à reeleição, em 2016, Arthur, numa articulação com Eduardo Braga, conseguiu tirar Marcos Rotta da disputa, que seria o candidato do PMDB (atual MDB). Rotta se tornou o vice de Arthur.
No primeiro ano da gestão, Rotta foi isolado. Em 2018, se licenciou do cargo de vice-prefeito para se ser secretário de Amazonino Mendes, que em 2017 se tornou governador para o mandato tampão (de outubro de 2017 a dezembro de 2018).
Na política, só há uma certeza: a de que o que se diz hoje, dificilmente serve para o amanhã.