Esta polêmica tomou conta dos principais noticiários e das redes sociais desde que alunas do colégio Anchieta, um dos mais antigos de Porto Alegre, resolveram protestar contra a proibição do uso de short nas dependências da escola. As alunas, com faixa etária entre 13 e 17 anos, criaram uma petição online que já contava até a última quinta-feira com mais de 6.000 assinaturas, além de promoverem protestos que passaram a ocupar o pátio da escola com faixas e cartazes.
Só para que se entenda, o colégio Anchieta já não cobra uniforme no ensino médio, o que é algo raro para qualquer escola, e permite o uso de bermudas que tenham comprimento logo acima do joelho, contudo, proíbe camisetas regatas, shorts e o uso de chinelos. Todas estas orientações são entregues para os pais no início do ano na forma de uma cartilha. Os alunos que tentam acessar as dependências da escola com algum dos trajes não permitidos são atendidos e encaminhados para casa com uma advertência para o responsável assinar.
Na opinião das alunas a proibição do uso do short é uma regra machista que reforça a visão do corpo da mulher como um objeto e que por isso tem de ser derrubada, para elas o que a escola deve pregar é o respeito pela mulher independente da vestimenta que ela traje, pois como estava escrito em um dos cartazes do protesto realizado no pátio da escola esta semana: “vestida ou pelada, eu quero ser respeitada”
Esse acontecimento na escola gaúcha dá margem para várias discussões, uma delas é o momento em que estamos vivendo hoje, em que fugir de alguns rótulos é mais importante do que refletir sobre as consequências dessa fuga. Ninguém quer parecer: homofóbico, machista, conservador ou antiquado…O problema é que esta necessidade “de não parecer ser” cria por vezes um ambiente de permissividade que colabora muito pouco com o processo educativo, por vezes até o desconstruindo.
O que mais vemos hoje são pais que em nome de parecerem modernos e antenados, ou talvez até pela sua ausência, permitem qualquer coisa aos filhos, inclusive que os desrespeitem. Professores por sua vez, recebendo alunos cujos pais são assim, acabam quase obrigados a permitirem coisas que também acham absurdas, inclusive serem hostilizados e ofendidos na sala de aula. E, por fim, a escola como instituição, que é feita por alunos, professores e pais, acaba por sucumbir a política do tudo é permitido e nada é proibido.
O mais interessante é que algumas causas, por mais absurdas que sejam, tentam de maneira bem conveniente, encontrar o que podemos chamar de “inimigos favoráveis”, que neste caso das alunas do colégio Anchieta foi o machismo. Uma boa tirada, pois como ninguém quer parecer machista, nem pais, nem professores e, principalmente, a escola, a chance de o movimento obter êxito é muito grande. No entanto, ninguém parece ter parado para refletir sobre a pertinência de uma reivindicação como essa, assim como das consequências do seu atendimento.
Podemos entender esta escola até como bastante liberal por já prescindir do uniforme para seus alunos, mais ainda por permitir bermudas, não há como se enxergar a necessidade do uso do short. Mais ainda, nesse caso específico, não se enxerga nenhuma atitude machista por parte da instituição, uma vez que o que vale para os alunos também vale para as alunas. É possível se ver sim, neste caso, uma grande disposição das alunas em ampliar o limite dado pela escola no que diz respeito a vestimenta, limite este já bastante flexível como foi colocado anteriormente.
E seria uma boa opção matricular os filhos em um colégio onde pudessem ir de shorts, camiseta e chinelo? Possivelmente eles entenderiam este lugar como um lugar qualquer, uma extensão da sala de casa ou do seu quarto. Escolas não são praias ou praças, nem tampouco shopping centers. É preciso que se mantenha o respeito institucional, o que passa por muita coisa, como por exemplo: pela organização, pelo vocabulário que se emprega, pela vestimenta que se usa, pela cordialidade entre professores e alunos e, essencialmente, pelo cumprimento as normas da instituição.
Contudo, podemos considerar o episódio positivo, fomenta o debate, e isto é muito bom. A escola tem de estar preparada para isso, entendendo que seu papel de educar não passa necessariamente por ceder a todo e qualquer apelo vindo dos alunos, passa sim pela obrigatoriedade da abertura para o diálogo e, fundamentalmente, pelo estabelecimento de limites. Talvez esta seja uma excelente oportunidade para a escola, com a ajuda dos pais, esclarecer aos alunos que as roupas têm sua ocasião e lugar adequado para serem utilizadas.
Sou gestora de uma escola da rede privada. Mães querem entrar para pegar seus filhos na hora da saída, mas, não aceitam que eu as impeça de entrar por estarem de short.Me oriente, por favor.