O Brasil atravessou largos períodos de dominação exclusiva da pauta ideológica da esquerda. A partir das manifestações de 2013 com maior intensidade, começaram a surgir apoiadores ligados à direita, firmando-se em definitivo com a eleição do Presidente Bolsonaro. Após o primeiro ano de governo, a direita foi dividida: passou a ser composta por aqueles que apoiam o Presidente – direita raiz ou conservadores puros – e pelos histéricos – isentões, nova esquerda e os traidores – que desejam a derrocada do projeto por eles mesmos apoiado em um passado próximo. Porém, para esse último fato, só há duas possibilidades para isso acontecer: renúncia ou impeachment, ambos interessantes principalmente para a esquerda, que poderá finalizar seu projeto socialista, tornando-nos próximos à Venezuela.
A primeira opção só é empregada justamente por falta de amparo fático e jurídico para o impeachement, o que dificilmente ocorrerá por conta do imenso apoio popular que o governo possui. No entanto, para os presidentes do Senado e da Câmara, dupla que representa a velha política, que vai do PT ao MBL, é a melhor alternativa para aprofundar ainda mais uma inevitável crise institucional, por ser um processo desgastante ao país e abalaria a já fragilizada economia. E mais: o deputado Rodrigo Maia – o “botafogo” das planilhas da Odebrecth – sonha sentar na cadeira presidencial.
Este cenário é ultrajante aos apoiadores da direita. Até mesmo para quem elege políticos inescrupulosos como Maia e Alcolumbre é inimaginável tê-los na Presidência da República. Por esta análise, é fácil compreender o amplo apoio da população a Bolsonaro. Estamos falando do Presidente mais investigado da história do país. Reviram a vida dele diariamente e, já que não encontram nada, continuam a acusá-lo de homofóbico, machista, racista e nazista, mas jamais de corrupto.
Por essas razões, é preciso entender algumas decisões do Presidente, que apesar de desaprovadas por alguns de seus eleitores, são fundamentais para a sua governabilidade, como é o caso das negociações com o “centrão”, o qual é uma camada fisiológica, desprovida de qualquer ideologia, na qual os integrantes agem para beneficiar seus projetos pessoais.
O carro-chefe da campanha do Presidente Bolsonaro ao Poder Executivo foi prometer romper com o presidencialismo de coalizão, ou seja, não realizar acordos com o Congresso em troca de apoio e aprovação dos projetos no Planalto. Em seu primeiro dia de governo, descobriu que isso não é uma escolha, mas uma imposição do sistema. Só uma ampla reforma política e até uma nova constituinte tornará de fato os poderes harmônicos e independentes.
Porém, aconteceu algo inédito na história da República, quando o Executivo nomeou apenas ministros seguindo critérios técnicos e manteve-se longe do “toma lá dá cá” com o parlamento. Entretanto, os que hoje demonizam a aproximação com o “centrão”, à época clamavam por mais articulação no seu governo.
E por que essa aproximação agora? Simples: os deputados eleitos surfando na onda conservadora e ancorados nas costas do Bolsonaro mostraram-se grandes oportunistas, traíram o projeto para o qual foram eleitos, logo a base governista rachou, ensejando a saída do presidente do partido. Com isso, a parte que se manteve fiel não é capaz de costurar apoios e garantir o mínimo de governabilidade.
Além disso, o resultado deste distanciamento foi desastroso, e muitos não enxergam que o país está sendo governado pelo que a esquerda denominou de “parlamentarismo branco”, cujo objetivo é derrubar Bolsonaro da Presidência e obstruir seus projetos, como no caso em que a Câmara deixou caducar as medidas provisórias do 13˚ do bolsa família, da carteira estudantil, da revogação do imposto sindical e da publicação livre de balanço das empresas. E ainda, a saber: dificultou o porte de armas, desfigurou completamente o pacote anticrimes, enfraqueceu a Operação Lava Jato com a Lei de Abuso de Autoridade, articulou o aumento do fundo partidário e impediu seu uso para combate da pandemia, aprovou o orçamento impositivo, não pautou o marco do saneamento de gastos e protela a votação da prisão em segunda instância para que seus comparsas da velha política não sejam investigados ou até condenados.
É necessário entender a diferença entre negociar cargos por dinheiro e negociar cargos para montar uma bancada. Existe um abismo entre negociar cargos para criar um esquema de corrupção sistêmica, como fez o PT, e negociar cargos para conseguir governabilidade dentro de um regime de presidencialismo de coalizão, o que de fato Bolsonaro está fazendo. Vale frisar: não é ilegal, pois dará continuidade a um projeto escolhido por mais de 57 milhões de brasileiros.
Infelizmente, os cidadãos elegeram um péssimo legislativo, uma bancada que vai de corruptos históricos à ex-ator de filme pornô. Portanto, Bolsonaro não tem muita escolha com quem negociar. Quem tinha opção de escolha era o eleitor, que votou mal. Como será que o Amoedo, o Moro ou qualquer um outro “diferentão” faria? Do alto de suas prudências e sofisticações, será que eles quebrariam o sistema e governariam sem acordos? Ou dariam um golpe e governariam sem legislativo? Ninguém que hoje condena o presidente consegue mostrar outro caminho.
Portanto, se você deseja mudança, saiba que ela será lenta e gradativa. É necessário, para isso, apoiar quem mais incorpora as premissas de um governo de direita, como a defesa do liberalismo econômico, da moral judaico-cristã, do armamento civil, que seja antiglobalista e que bata de frente com as pautas progressistas. Dessa forma, é imperioso ao verdadeiro conservador ser fiel às ideias e valores, e não às pessoas. O Presidente, mesmo diante de decisões equivocadas, ele ainda é quem mais personifica os valores conservadores em um Brasil repleto de inversão de valores.
Sérgio Augusto Costa é Advogado, especialista em Direito Penal, Processo Penal e Eleitoral.
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