O Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD) divulgou o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), revelando que o Brasil caiu cinco posições no ranking internacional que avalia 189 países do mundo. Na avaliação, caímos da 79ª posição em 2018 para a posição 84ª, em 2019.
O IDH mediu o desempenho da saúde, da educação e da renda, mas ainda não avaliou o impacto da pandemia do novo coronavirus no país. Na América do Sul, o Brasil se encontra numa situação pior do que o Chile, a Argentina, o Uruguai, o Peru e a Colômbia. Na outra ponta, o nosso país ainda está na frente da Guiana, da Venezuela, da Bolívia, do Paraguai e do Suriname.
Esta queda de cinco posições acompanha as atuais tendências sociais do Brasil, indicando a falta de interesse dos governantes e a ausência de políticas públicas que busquem melhorar as condições de vida do povo brasileiro. É possível averiguar que tais tendências também são evidenciadas pelo aumento da fome no território nacional. Em 2018, o Brasil retornou ao Mapa da Fome por ter desmantelado programas de combate à insegurança alimentar, abandonado incentivos à agricultura familiar, mas ao mesmo tempo estimulado a produção de alimento para exportação, investindo em grandes empresas.
Os últimos anos também testemunham o aumento da destruição das florestas tropicais e do pantanal. Neste sentido o bioma amazônico foi prejudicado por uma série de medidas do governo federal, que desorganizou os sistemas de fiscalização e monitoramento das florestas, permitindo o aumento do desmatamento e o tráfico ilegal de madeiras raras. Da parte do governo federal também houve incentivo à grilagem, facilitando a invasão de terras públicas e territórios indígenas, provocando enorme agressão às vidas e às culturas destes povos, assim como às florestas por eles protegidas.
As ações inadequadas do governo federal podem ser ilustradas pela conduta do ministro do meio ambiente Ricardo Salles, que busca flexibilizar as normas de proteção ao meio ambiente, aproveitando que a imprensa está focada na cobertura da pandemia do coronavirus. Para o ministro, trata-se de aproveitar a ocasião para “ir passando a boiada, mudando todo o regramento e simplificando normas”. Assim, o ministro legitima ações criminosas contra o meio ambiente.
Tais atitudes contra o povo brasileiro e contra o meio ambiente são práticas consideradas naturais pelo atual modelo de governança adotado no Brasil. Pelo que se observa, não há a preocupação em esconder essas perversas intenções, pois há a convicção de que nenhuma punição será decretada. Além da certeza da impunidade, tais agentes públicos também são conscientes de que as instituições brasileiras são controladas por grupos poderosos que lhes são favoráveis em qualquer situação.
Os grupos que favorecem tais governos são os mesmos que mantêm por séculos as grandes desigualdades sociais no Brasil, apoiando-se no latifúndio, na escravidão, na espoliação dos trabalhadores, nas grandes corporações transnacionais, no agronegócio predatório, no mercado financeiro e na mercantilização da natureza.
Sandoval Alves Rocha Fez doutorado em ciências sociais pela PUC-RIO. Participa da coordenação do Fórum das Águas do Amazonas e associado ao Observatório Nacional dos Direitos a água e ao saneamento (ONDAS). É membro da Companhia de Jesus, trabalha no Intituto Amazonizar da PUC-Rio, sediado em Manaus.
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