Nesta quinta-feira (09 de junho) encerrou-se a primeira edição do curso de extensão dos direitos humanos à água e ao esgotamento sanitário na Amazônia. O curso foi promovido pelo Serviço Amazônico de Ação, Reflexão e Educação Socioambiental – SARES, em parceria com a Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNisinos – e com a Universidade Católica de Pernambuco – Unicap. As duas universidades integram a rede universitária da Companhia de Jesus – Jesuítas, que foi representada no evento pelos coordenadores das cátedras de direitos humanos das respectivas instituições: Castor Bartolomé Ruiz e Manoel Severino Moraes de Almeida.
Com uma duração de quatro meses e na modalidade online, o curso teve o apoio de professores de diversas universidades, inclusive da Universidade Federal do Amazonas, da Universidade Estadual do Amazonas e da Fundação Oswaldo Cruz – Instituto Leônidas e Maria Deane.
A partir de uma metodologia interativa e forte presença de elementos amazônicos, o curso buscou apresentar a realidade amazônica, destacando os desafios para a implantação dos mencionados direitos humanos e as potencialidades da região no que diz respeito à presença abundante da água como bem comum.
O curso frisou o contraste entre a marcante presença da água na Amazônia e a sua escassez nas residências domiciliares, indicando a ineficiência das políticas públicas destinadas a atender as populações locais. Não deixa de chamar atenção a falta de esgotamento sanitário, inclusive nas capitais da região, como Manaus, a maior cidade do Norte e cujos serviços são privatizados desde o ano 2000. N
Na Amazônia não falta água, mas interesse e vontade política dos poderes públicos em se empenhar na implantação dos direitos básicos. O racismo ambiental é notável, uma vez que os mais pobres, as mulheres, os indígenas e os negros são os mais atingidos pela ineficiência do Estado, ficando excluídos dos serviços mais básicos.
A iniciativa gerou solidariedade dos participantes para com a Amazônia, que sofre ataques permanentes por parte de grupos que praticam a devastação ambiental, mas também estimulou o cuidado das águas, fortalecendo o ideal de democratização e universalização do saneamento básico. A forma como a água é gerida expressa inconfundivelmente o modelo civilizatório adotado. A agressão praticada contra as águas, assim como a sua gestão desigual e ineficiente são expressões de um modelo civilizatório que desrespeita a vida, colocando a acumulação capitalista como o centro dos seus interesses e a depredação da natureza como regra.
Infelizmente, é esse o modelo de civilização que nos envolve e nos condiciona. Diante de tais agressões, o curso busca gerar tendências positivas e transformadoras que promovam uma integração respeitosa com o meio ambiente.
Neste mundo em que tudo está interligado é urgente a criação de uma corresponsabilidade para com a Amazônia e todos os biomas depredados pela ação humana. Iniciativas como o curso de extensão dos direitos humanos à água e ao saneamento renovam a esperança de que a nossa ação local tenha uma repercussão global, mudando a realidade, defendendo a Amazônia, as suas florestas, as suas águas, as suas culturas e os seus territórios.
De uma racionalidade economicista e predatória para uma sensibilidade integral, que abrange o ambiental, o social, o econômico e o cultural.
Sandoval Alves Rocha Fez doutorado em ciências sociais pela PUC-RIO. Participa da coordenação do Fórum das Águas do Amazonas e associado ao Observatório Nacional dos Direitos a água e ao saneamento (ONDAS). É membro da Companhia de Jesus, trabalha no Intituto Amazonizar da PUC-Rio, sediado em Manaus.
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